quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Agenda para a modernização do país


Portugal é o país mais desigual da União Europeia e um dos mais desiguais da OCDE. É também o país onde a mobilidade social está mais ausente: quem nasce pobre dificilmente deixará de o ser. A percepção de que assim é - a ideia generalizada de que não jogamos todos no mesmo campeonato e que há empregos e sucessos que estão reservados a membros de outras castas - é um dos elementos centrais na explicação do sub-investimento em capital humano. E o elevado abandono escolar - também ele sem paralelo na UE - traz consigo a quase certeza da pobreza. A profecia autorealiza-se, perpetuando uma sociedade indecente e uma economia sem futuro.

Nenhuma agenda de modernização do país pode passar ao lado deste problema, que é, pelo menos, tanto causa como consequência do nosso subdesenvolvimento económico, social e cultural.

6 comentários:

Ana disse...

Concordo consigo e como exemplo duma desigualdade crescente nos ultimos anos descrevo o seguinte: há 15 anos quando entrei como estagiária (recibo verde) na administração central ganhava 160 contos liquidos e o meu director de serviços era menos do que 3x o meu ordenado e o presidente seria no máximo 4x. Hoje no mesmo emprego mas como empresa pública, o estagiário recebe pouco mais do que 900 euros, os directores de nível I ganham 5-6 x o ordenado do estagiário e o presidente ganha 16-17x. Há 15 anos o racio de colaboradores/chefe era o triplo do que agora. Havia um presidente agora um CA cheio de administadores executivos, não executivos, etc. Isto em 15 anos, onde 13 foram responsabilidade dum partido de esquerda.
Sem falar dos actuais critérios de escolha dos chefes....

Anónimo disse...

Sen fazermos muitas contas, o Sócrates deve estar a atingir um estado de loucura tão evidente, que já se nota nos gestos repetitivos, nas frases monocórdicas, e no olhar abstraído.

A solução para portugal não está nos ecomomistas mas nos médicos dos políticos que nos governam.

Estamos correndo para o abismo da loucura.

Carlos Afonso disse...

Sócrates está a padecer de efeito Dunning/Kruger, nada mais

Anónimo disse...

Sócrates sofre do efeito de Dunning-Kruger DESDE SEMPRE!

João Carlos Graça disse...

Caro Ricardo
Excelente post. Creio saber que o índice de Gini tem aumentado entre nós durante a governação de Sócrates (mas agradecia-lhe que confirmasse, sff) - apesar de algum muito limitado combate à pobreza, compensado todavia pelo brutal disparar dos rendimentos no segmento de topo...
Precisamente aquilo a que aludia a Ana e que foi, aliás, largamente facilitado pela "empresarialização" da administração pública - para além da clássica "sarna" do excessivo número de cargos partidarizados e da forma infinitamente auto-complacente como este segmento tende a avaliar o seu próprio "mérito". Mérito esse, note-se, cuja "cultura" alegadamente Sócrates quis introduzir entre nós, liquidando com isso de passagem qualquer ética de serviço público que houvesse na nossa administração pública e conduzindo de facto à ilimitada "politização" (em sentido amplo) da mesma. Isto é: à transformação da mesma em império da antinomia amigos-inimigos e da discricionariedade. Ou seja ainda: daquilo a que os norte-americanos (povo simpaticamente plebeu quanto a muitos traços culturais, note-se) chamam mui singelamente ass-kissing...
Mas noto que estou a divagar. O índice de Gini tem aumentado e os "upper upper" estão cada vez mais na maior, seja. Mas do ponto de vista da mobilidade vertical intergeracional, continuamos muito "fechados"? Confirma isso?
É que me parece, sinceramente, que o lustro de Sócrates tem contribuído para mudanças significativas quanto a esse aspecto. Não pelas melhores razões, note-se. Não por permitir grande coisa em matéria de movimentos ascendentes. Mas por ter contribuído, creio, para uma acentuada "miserabilização" de consideráveis segmentos daquilo que classicamente podia representar-se como "classe média", e que hoje está de facto em situação cada vez mais precária - ou pelo menos se percebe, se "vê" como tal. (Dito de outro modo: a quase-certeza de permanência intergeracional na escala continua a existir, mas agora passou a ficar reservada mesmo só à "crème de la crème"). Essa é, penso, a grande contribuição "modernizadora" que os portugueses podem agradecer ao governo de Sócrates. Quanto a isso, pelo menos, creio estarmos realmente mais "prá-frentex"...

Unknown disse...

Já existe um contacto nacional da Equality Trust, fundado pelos autores do Espírito da Igualdade. Chama-se Igualdade Portugal ou i-PT, e uma das nossas preocupações centrais é, precisamente, a imobilidade social.

A organização está a ser montada de baixo para cima, com os inputs de todos os interessados. Criámos um wiki - http://i-pt.wikispaces - e estamos a recorrer ao microvoluntariado para avançar a causa. Queremos contar com o apoio de todos. O email provisório é igualdadeportugal@gmail.com.