segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Mudar de enquadramento...

"Segundo Costas Lapavitsas, no actual enquadramento europeu, ficar na Zona Euro significa, para economias como Portugal, Grécia, Espanha ou Irlanda, uma década ou mais de crescimento baixo e austeridade. A alternativa seria uma saída da moeda única a qual teria custos que, no entanto, não devem ser exagerados. Costas Lapavitsas é um dos responsáveis principais de dois relatórios que no último ano marcaram o debate sobre a crise europeia. Os trabalhos publicados na rede de investigação 'Research on Money and Finance' alertaram, num primeiro momento, para a responsabilidade dos países do Norte da Europa, com destaque para a Alemanha, nos enormes desequilíbrios macroeconómicos europeus que conduziram à crise. Mais recentemente, em Setembro, um segundo relatório defendeu a possibilidade dos países do Sul saírem do euro e avançarem para um incumprimento de parte das suas dívidas. Os relatórios do RMF, pela profundidade técnica e por defenderem caminhos alternativos à tímida e descoordenada resposta europeia à crise, receberam atenção por toda a Europa. Com a crise, o pensamento alternativo tomou lugar ao centro e, nesta entrevista, Lapavitsas explica por que é que, na sua interpretação, a Zona Euro é insustentável." Rui Peres Jorge. A ler no Negócios.

Entretanto, uma parte das elites políticas europeias começa a abrir a pestana: Luxemburgo e Itália querem mudar o insustentável enquadramento europeu, tendo os seus ministros das finanças proposto a criação de uma agência europeia da dívida com capacidade para emitir obrigações europeias. Uma ideia que há muito defendemos e que contribuiria para superar a assimetria da integração europeia: não há moeda europeia sem orçamento e sem dívida pública europeus, a espinha dorsal dos mercados financeiros. A questão que se deve colocar é a seguinte: o que anda o governo português a pensar e a fazer? O respeitinho do governo e de Cavaco pelos mercados existentes não é bonito. Esquecem-se que estes podem e devem ser reconfigurados através da acção política. Só assim será possível contrariar as suas tendências destrutivas. A era do romance de mercado teima em não terminar no nosso país.

2 comentários:

João Carlos Graça disse...

Caro João Rodrigues, sejamos francos: a probabilidade de "reforma progressista" do Euro é pouco mais do que nula. Quando muito, uma percepção realista, por parte das elites, da necessidade de não esticar demasiado a corda, não vá ela acabar por quebrar...
Muito mais realista é, parece-me, aquilo que tem parecido impossível a quase toda a gente: a perspectiva de "saída progressista" da eurolândia, isto é, algo como uma "solução argentina".
Ver aqui, acerca do Costas Lapavitsas e da "saída progressista", na Monthly Review:
http://mrzine.monthlyreview.org/2010/lapavitsas310310.html
Ah, mas é necessária uma penitência minha. A alternativa não é, como outro dia escrevi em comentário, desvalorização de 10 por cento ou (com custos laborais de 50 por cento do valor acrescentado) redução de 20 por centos dos salários nominais. Já li "quem fez as contas" (João Ferreira do Amaral) e por isso emendo. É pior: é 10 por cento de desvalorização ou (com custos laborais de 30 por cento do valor acrescentado), 33 por cento de redução dos salários nominais. Sim, leram bem: redução de 1/3 dos salários nominais! Estão preparados? Com a nuance, ainda por cima, de o "cenário" de redução dos salários poder não estimular tanto os sectores exportadores, muito mais a construção civil, por exemplo.
Vão pensando bem nisso, sff...

Anónimo disse...

A situação do Euro parece insustentável.
A saída de alguns países, a divisão do Euro em duas moedas (o Europigs para as vitimas e o Eurowolf para os predadores) ou mesmo o fim da moeda única, a prazo, parecem inevitáveis.
O problema é que é pouco provável que a própria União Europeia resista a uma hecatombe monetária desta ordem pois, a Alemanha, por exemplo, dificilmente aceitaria estar num Mercado Único, sem alfândegas, com uma poderosa Itália usando uma moeda desvalorizada talvez uns 20% em relação à moeda alemã.
E o cómico disto tudo é que a UE não sucumbiria às mãos dos seus opositores, sucumbiria antes às mãos dos seus entusiastas que a meteram na aventura do Euro.

Bem se pode dizer "Meu Deus, livra-me dos meus amigos que com os meus inimigos posso eu bem".