Já todos percebemos que ainda não foi desta que uma crise de dimensões dramáticas nos permitiu sair da era do Consenso de Washington. Pelo contrário, a correlação de forças prevalecente permitiu que os esforços para minimizar os impactos económicos e sociais da crise sirvam agora para justificar a continuação da deterioração das condições sociais e da erosão do Estado social.
Mas o tom triunfalista do discurso neoliberal parece ter sido severamente atingido. Até do economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, nos chegam sinais nesse sentido. O indispensável e.conomia.info resume assim um recente texto do autor: «Blanchard defende que a taxa de inflação óptima é de 4% e não de 2% como até agora assumido pela maioria dos bancos centrais, nomeadamente o BCE; que o tamanho dos Estados tem de ser maior – ou pelo menos estar preparado para ser maior – para que existam melhores estabilizadores automáticos; que os bancos centrais têm de encontrar novos instrumentos para a missão que até agora recusaram assumir: combater bolhas especulativas».
É bom saber que já não precisamos de andar a repetir ideias básicas (as mesmas que até há pouco eram sinais de radicalidade). Podemos dedicar-nos a outros temas.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
E pode-se saber por que motivo não se pode discutir essa opinião?
Pode, pode. Nós é que já não precisamos de insistir a toda a hora que uma taxa de inflação de 2% é deflacionista e injustificável, que a crença no funcionamento perfeito dos mercados de capitais é insustentável e perigosa, e que a existência de estabilizadores automáticos é eficiente (para além de ser uma conquista civilizacional). Uma boa parte daqueles que se recusava sequer a discutir estas ideias passou a fazê-lo por nós. Discutir pode-se sempre - nós nunca deixámos de o fazer, mesmo quando estávamos em imensa minoria em quase todas as frentes. Agora só estamos em muitas delas.
"Mas o tom triunfalista do discurso neoliberal parece ter sido severamente atingido. Até do economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, nos chegam sinais nesse sentido."
Quando pede uma redução dos salários nominais em Portugal? :)
Já agora, parece-me abusivo dizer que os 2% eram uma fixação neoliberal. Os EUA e o Reino Unido nunca se comprometeram com essa meta, por exemplo. Aliás, e tanto quanto sei, o BCE é a excepção e não a regra...
PR,
seguramente a agenda do FMI (e do seu economista-chefe) não mudou substancialmente. Mas há mudanças assinaláveis no discurso e há muito que não se sente o tirunfalismo de outros tempos. De resto, o combate continua.
Enviar um comentário