terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Os mercados têm sempre razão?
Se assim é, o risco da dívida pública portuguesa hoje baixou muito. O preço dos famosos seguros de incumprimento (CDSs) caiu. É claro que o risco da dívida portuguesa não baixou nem subiu, manteve-se o mesmo, isto é, muito reduzido. O que aconteceu é que finalmente a União Europeia, como lhe compete, deu alguns sinais de querer apoiar a Grécia.
Os mercados não têm razão ou deixam de ter, limitam-se a reagir de forma normalmente errática à informação e aos rumores. O problema é que reagindo desta forma criam eles próprios a realidade. Que sentido faz tê-los no comando?
Na edição deste mês do le Monde diplomatique, Fréderic Lordon pergunta o impensável: “E se encerrássemos a bolsa?” Perguntas como esta são as que obrigam a pensar. As bolsas não são entidades naturais, foram inventadas. E mesmo que não seja preciso desinventa-las, podemos modificar as suas regras.
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2 comentários:
Outra pergunta impensável: e se acabássemos com as sociedades anónimas de responsabilidade limitada? Não seria uma maneira de tornar realmente privada a propriedade privada?
Não, é óbvio que os mercados não têm sempre razão. E os mercados financeiros são por natureza instáveis e não tendem para o equilíbrio.
As bolsas devem ser sujeitas a regulamentos que lhes retirem a tendência para se converterem num casino global.
O problema é quem, e como, vai avançar.
Ocorre-me, a este propósito, uma fábula antiga numa versão de João de Deus Ramos:
OS RATOS REUNIDOS EM CONSELHO
.
Algures, entre muito gatos
Um havia
Que era, segundo a fama que corria,
O mais temido caçador de ratos.
.
Focinho de arreganho,
De grande rabo
E de eriçado pelo
Para o murganho
Vê-lo,
Era o diabo!...
.
Nenhum rato caia na tolice
De sair, sem cautela, do buraco,
Por mais fraco
Que o estômago sentisse.
.
Não, porque ele era o espectro, era a tortura
Que rala, que aniquila, que consome!
Ele era a fome
E a sepultura!
.
O caçador, porém, não era monge;
E numa noite linda de luar
Soube-se no lugar
Que andava longe...
.
Então,
(Vejam aqui os homens neste espelho
Como eles, fúteis, tantas vezes são)
Os ratos reuniram em conselho.
.
Diziam: - Isto assim não pode ser;
Antes a morte
Do que esta sorte:
Passar dias e dias sem comer!
.
E logo alvitrou um, com alvoroço:- Sabem o que é preciso?
É pôr-lhe um guiso
Ao pescoço...
Com o guiso ele próprio nos previne...
Muito embora no chão se agache e roje,
Ao menor movimento o guiso tine,
E a gente foge... -
.
Bravo! - gritaram todos - muito bem!
É assim mesmo!
Assim!
Mas quem ha-de ir atar o laço?
Quem?
.
Eu não, que não sou tolo! - afirmou um
Nem eu - disse outro.
E enfim,
Não foi nenhum.
.
Há destes casos neste mundo a rôdos;
Se é preciso coragem numa acção,
Todos concordam, ninguém diz que não,
Mas chegado o momento, faltam todos!
Não lhes diz nada?
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