sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Mobilização Popular


Este post do Jorge Bateira e este do João Rodrigues ajudam-nos a balizar os possíveis cenários alternativos perante a aparente crise de pagamentos que os países do Sul da Europa enfrentam. É urgente que a esquerda consiga articular um alternativa mobilizadora. As actuais imposições, num contexto de crise internacional, não resolvem nada. A "saída por baixo", no cenário apresentado pelo Jorge Bateira (uma possível crise global da zona euro que levasse ao seu colapso), tem de ser evitada. Uma saída unilateral do euro também não é desejável como proposta política (e ninguém aqui a defende). Neste cenário, a nossa moeda seria desvalorizada, a competitividade externa da economia aumentaria, mas o aumento do preço das necessárias importações (por exemplo, dos combustíveis) resultaria numa desvalorização real dos salários. As dívidas das familias continuariam, no entanto, com o mesmo valor - mais escudos pelos mesmos euros de dívida resultariam em situações de não pagamento generalizado. Podia ser moralmente regenerador, mas eu sou daqueles que acha que a política à esquerda não se faz segundo a máxima "quanto pior, melhor". Acresce ainda que um cenário de saída do euro resultaria num mais do que provável aumento da taxa de juro (em função da inflação) e dificuldades acrescidas de financiamento nos mercados de capitais internacionais. O cenário de um default nacional, como aconteceu na Argentina em 2001 ou no Sudeste Asiático em 1998, seria quase inevitável. O FMI aterraria novamente na Portela, com a sua tradicional receita de cortes de despesa pública (não muito diferente do que a comissão europeia esta agora a fazer com a Grécia). Podiamos simplesmente repudiar a dívida, mas dada a dimensão e abertura da nossa economia, tal medida transportar-nos-ia para a autarcia.

A "saída por cima", tal como é defendida pelo Jorge, existe e deve ser bem desenvolvida e articulada pela esquerda: Imediato anúncio europeu de garantias para que nenhum país irá entrar em "default" (mais que suficiente para acalmar os mercados); Criação do fundo obrigacionista europeu aqui referenciado pelo João - já repararam porque a Itália está fora da actual turbulência? É que eles são o terceiro mercado de dívida pública do mundo. É mais difícil espcular e manipular em mercados maiores. O tamanho importa: criação de dívida pública europeia. Reforço orçamento europeu corrector das assimetrias externas dos países da zona euro; articulação e coordenação das políticas salariais na zona euro; reforma e regulação do sistema financeiro; revisão dos estatutos do BCE, colocando o crescimento económico e o emprego como objectivos cimeiros da sua actuação, etc...

Com as raras excepções dos defensores da "saída por baixo", não me parece que haja grandes problemas em construir uma plataforma política comum à esquerda europeia que contenha estes elementos. Mesmo em países como a Alemanha, a luta pela valorização salarial é a nossa luta pela criação de mercados para os países do Sul e correcção dos desequilibrios nas contas externas do países da zona euro. As plataformas políticas já existem: o partido da esquerda europeia, a confederação europeia dos sindicatos, a miríade de organizações progressistas que lutam por outra arquitectura europeia, etc. Uma grande manifestação popular em Frankfurt, à porta do BCE, seria uma excelente demonstração de força popular. É sempre a correlação de forças socias que faz das nossas boas alternativas uma realidade.

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