quinta-feira, 18 de julho de 2024

Lealdade em democracia


No debate do Estado da Nação, o Primeiro-Ministro Luís Montenegro tem esta frase notável: «Até ao dia que aprovarem uma moção de censura a este governo, as oposições, além do seu trabalho político, têm dever de lealdade com os portugueses de nos deixarem governar». A tradução é simples: ou me derrubam ou me deixam fazer exatamente tudo o que eu quero, mesmo quando o meu governo é minoritário.

Deve ser a isto que chama, com uma bizarra noção de democracia, o «dever de lealdade» da oposição, parecendo não entender duas coisas. Desde logo, que a lealdade democrática de cada partido é, em primeira instância, para com os seus eleitores e o programa político que os mesmos sufragaram. Depois, que não dispõe de uma maioria parlamentar que lhe permita fazer tudo o que quer, como se a tivesse, sem ter que negociar nem ter que ceder.

Mas que esperar de quem, também no debate de ontem, ainda acusa o PS, quase dez anos depois, de ter sido «o maior usurpador de uma herança política (...), a herança de um caminho que estava na direção certa e que os senhores interromperam» (sic), por ter encontrado, na configuração parlamentar saída das eleições de 2015, uma solução política que lhe permitiu governar? Sobre a cultura democrática de Luís Montenegro estamos, de facto, conversados.

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