sábado, 27 de julho de 2024

A transparência que lhes convém


Aos pulinhos, todo contente, o liberal Rui Rocha (IL) saudou a iniciativa, tomada por algumas empresas, de passar a incluir nos recibos de vencimento o peso dos impostos e contribuições no salário bruto dos seus trabalhadores. Impostos e contribuições que as empresas «suportam», diz Rocha para enfatizar o sentido negativo que pretende transmitir, advogando tratar-se de uma questão de transparência.

Querendo colocar as coisas nesses termos, esperemos que a Iniciativa Liberal não se tenha esquecido, na proposta que voltou a apresentar ao Parlamento, de incluir também nos recibos de vencimento os apoios públicos de que as empresas beneficiam, bem como - já que fala em «suportar» -, os dividendos distribuídos e a diferença de vencimento entre os cargos de topo e o salário médio praticado nas empresas (que chega a atingir valores obscenos). E sem esquecer, ainda, que os descontos para a segurança social são o salário indireto, por via das pensões.

Por uma questão de transparência, a IL devia igualmente propor que o Estado desse nota do investimento em redes de estradas, energia, comunicações, abastecimento de água, entre muitas outras coisas decisivas para que as empresas funcionem. Para já nem falar dos serviços públicos universais de educação e saúde - que significam não só salário indireto, mas também redistribuição e decência - que garantem que as empresas dispõem de mão de obra qualificada e apta para trabalhar e produzir. Tudo pago, vejam lá, com as contribuições e impostos de todos para todos. Mas há de facto quem pareça não saber estar, nem viver, em comunidade.

5 comentários:

Anónimo disse...

Seria lindo...

Uma tabuleta à porta: esta empresa beneficiou em ... de XXX euros de fundos comunitários e de XXX do programa nacional de...

Ou então:

Esta empresa pagou XXX euros de IRC em ...

Anónimo disse...

Melhor, ainda: com a redução da taxa de IRC de 21% para 15% e o fim da derrama, está empresa vai deixar de financiar o orçamento de estado em xxx milhões de euros.

Anónimo disse...

Estamos a voltar aos tempos da troika numa velocidade estonteante.
A tropa que nos governa não é séria. Há ministros que, para disfarçar a sua incompetência o qe fazem é exonerar os directores, maltratando-os e insultando-os. O caso mais recente foi ontem na educação com a exoneração da directora-geral da administração escolar, depois de se saber a trapalhada que o ministro por lá anda a fazer.
É revoltante ver e ouvir os deputados da ad e os ministros a mentirem descaradamente nas televisões. Isto é inacreditável.
Este governo tem de ser corrido de imediato antes que seja tarde.

Anónimo disse...

Já agora ponham também a diferença entre o custo do trabalhador e a produtividade com que o trabalhador contribui para os lucros da empresa e sobretudo para os accionistas e para os carros da administração.

Anónimo disse...

Bem se vê que estes tipos do Eco patronal e os liberais com iniciativa até dizer chega nunca trabalharam um dia na vida: os meus recibos sempre mostraram o salário bruto, o líquido, os descontos para a reforma, o imposto retido e o subsídio de refeição! "Carga" fiscal, de facto, nunca li. Deve ser a novidade...