quinta-feira, 6 de junho de 2024

BCE é inevitavelmente uma instituição política

A 11 de Abril último, o BCE anunciou as suas últimas decisões de política monetária e, usando da sua estatutária total, anti-democrática, discricionariedade, informou-nos ter decidido manter inalterada a taxa de juro.

No mesmo comunicado onde fomos informados da manutenção desta política errada, foi também reiterado que, “[e]m qualquer caso, o Conselho do BCE continuará a seguir uma abordagem dependente dos dados”.

Na semana passada, o Eurostat informou que, em maio, os preços no consumidor aumentaram 2,6% em relação ao ano anterior, contra 2,4% em abril.

Em sequência, a Bloomberg escreveu que a “inflação na zona euro acelerou mais do que o previsto, o que torna ainda mais nebulosas as perspetivas para as taxas de juro do Banco Central Europeu após o corte previsto para a próxima semana”.

Hoje à tarde teremos novas decisões de política monetária.

Com a inflação a subir, “uma abordagem dependente dos dados”, significaria a manutenção, ou a subida, da taxa de juro.

Uma decisão contrária, descer a taxa de juro, seria o que, de facto, convém à economia, mas, no quadro de atuação do BCE, seria “nebulosa” para, usando o adjetivo dos mercados, dizer o mínimo.


Alguns daqueles que questionam a bondade desta distopia monetária, e não só, questionar-se-iam também acerca da oportunidade desta decisão, a três dias das eleições europeias, e se esta não seria (mais) uma interferência inaceitável no processo político.

"Se fossem coerentes com a sua função de reação, deveriam estar a manter [a taxas de juro] esta semana", afirmou Soeren Radde, economista citado também pela Bloomberg. "O que nos diz que se trata de um compromisso político a que chegaram". 

Entretanto, a meu ver, outro assunto que merece, e carece, de atenção pública é a questão do nível de reservas bancárias obrigatórias e da sua remuneração com recursos públicos.

Veremos se também neste capítulo há decisões.

Assunto incompreensivelmente arredado dos media convencionais e do debate político público lusos já que é variável fundamental para compreender que os atuais lucros da banca privada são os actuais prejuízos dos bancos centrais.

*Actualização: 
Parece que não podiam ter deixado para segunda-feira e não resistiram; a "abordagem dependente dos dados" foi, pelo menos até novas ordens, às malvas. Tudo por razões estritamente técnicas, claro.

1 comentário:

Anónimo disse...

Dizer-se que um banco central é independente é o mesmo que se dizer que o dinheiro não é um instrumento político. E isto é o que se anda a ensinar em toda a Europa.