A juventude, essa construção social que apresenta os jovens como se fossem uma unidade social dotada de interesses comuns, homogeneizada e pasteurizada como o leite para iludir poderes e interesses conflituais que excedem o recorte etário, voltou a ter em Portugal um ministério dedicado (...) Sem salário digno, sem um contrato de trabalho, sem serviços públicos robustos, sem uma casa que possa pagar, sem acesso à gestão democrática das escolas e universidades, sem acesso à criação de cultura, sem pluralismo na comunicação social, sem um clima sustentável e uma transição energética justa, sem a perspectiva de poder viver em paz, em vez da ameaça da guerra, como pode a juventude sentir que o governo de um país ou as instituições da União Europeia lhe devolvem a esperança? Sem isso, o tempo da juventude de que os governos falam não é futuro nem inovação; é retrocesso e regressão. Parte da juventude (ela não é homogénea) já o sente e já inscreve a sua acção em lutas colectivas por justiça que ligam gerações através dos tempos. Estará aí para os combates que podem transformar angústia existencial em força colectiva de mudança. Qualquer que seja a sua idade, o presente é o seu tempo.
Sandra Monteiro, O tempo da juventude, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, junho de 2024.
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