Quem diria que baixar os impostos aos mais ricos e aumentar os impostos regressivos sobre o consumo, levando a uma revolta popular, aumentaria as fraturas políticas?
Quem diria que reduzir os direitos laborais e sociais, de novo com grandes protestos, aumentaria a polarização social?
Quem diria que governar por decreto e à lei da bala, quando as coisas apertam, seriam sintomas de uma enorme impopularidade?
Quem diria que a liberalização económica requer doses cada vez maiores de repressão, o chamado autoritarismo liberal?
Quem diria que apostar no apoio a Israel e logo ao genocídio do povo palestiniano, apodando os críticos de “antissemitas”, e arriscar uma guerra entre potências nucleares não teriam apoio em segmentos cada vez maiores da sociedade?
Quem diria que apostar numa mirifica “soberania europeia” apoucaria a soberania de um povo que, num certo sentido, a inventou e conquistou?
Quem diria que o menino querido da The Economist e dos seus ecos nacionais – a opinião dominante no Público, por exemplo – revelaria ser um presidente retintamente burguês, com uma base social cada vez mais estreita?
Quem diria que o extremo-centro neoliberal de Macron abriria caminho à extrema-direita?
No Le Monde diplomatique – edição portuguesa não se diz outra coisa há anos.
Entretanto, uma nova Frente Popular, em rápida construção, dos partidos de esquerda aos sindicatos, tenta travar a extrema-direita, aposta corroborada por sondagem desta semana: por exemplo, 44% dos jovens declaram aí votar na Frente Popular, ultrapassando esta também a extrema-direita entre as classes populares.
O desafio é reinventar o antifascismo, quer como programa negativo, quer como programa positivo, superando o neoliberalismo; e isto num quadro de integração absolutamente desfavorável, ao serviço de todas as viragens para a direita. Sem esquecer que, entre a esquerda e a extrema-direita, o capital que é grande nunca hesitou.
Sem comentários:
Enviar um comentário