terça-feira, 11 de junho de 2024

Do eu ao nós

Foi um gosto ter sido mandatário nacional da CDU nas eleições para o parlamento europeu. João Oliveira, que tão bem encarnou e encarna os compromissos comunistas e ecologistas, foi merecidamente eleito e foi uma pena Sandra Pereira, por exemplo, não ter sido eleita.

Diz que sou independente, e é verdade no sentido de não ter filiação partidária, mas sinto-me muito dependente do coletivo. Partilhei do belo sentimento de camaradagem e amizade, através do qual reganho uma consciência, sempre a necessitar de ser renovada, de que não estou encerrado em mim mesmo. Passo do singular para o plural, sendo que esta passagem também só a mim compromete, claro. 

Fizemos o melhor de que fomos capazes nas circunstâncias que foram as nossas. Fomos contra e fomos a favor, com clareza e sem tibiezas e talvez por isso tenhamos sido tão atacados por uma comunicação antissocial, onde os jornalistas têm cada vez menos autonomia em relação a quem fixa linhas editoriais tão manifestamente enviesadas para a direita. 

Fomos contra o neoliberalismo armado de pendor federalista, que alimenta as novas formas de fascismo, porque incorpora parte da sua agenda e porque cria as condições objetivas, incluindo através das diferentes formas de austeridade, para as fraturas sociais e geopolíticas onde todos os reacionarismos medram. O militarismo, que se reforça, vai ser mais um pretexto para desinvestir ainda mais no Estado social. Apoucar e tornar materialmente impotentes as democracias, que são fundamentalmente nacionais, é a aposta deste federalismo, como sabemos desde que Hayek, em 1939, formulou de forma bem clara alguns dos mecanismos desta engenharia, tão neoliberal quanto supranacional, então utópica e hoje triunfalmente distópica. 

Fomos a favor de uma UE de geometria variável, mais cooperativa e menos concorrencial, onde os Estados que assim o desejem possam recuperar instrumentos de política adaptados às suas necessidades e aspirações. Menos integração, melhor integração. No fundo, mais democracia, não apenas política, mas também económica, social e cultural e logo menos inimizades entre os povos. Aliás, como dissemos várias vezes, sem democratização da cultura não há cultura democrática que resista e floresça perante obscurantistas e bem financiadas redes sociais reacionárias. 

E fomos intransigentemente a favor da paz e do não-alinhamento, em consonância com o espírito da nossa Constituição. Somos uma minoria política na UE neste campo, mas, a avaliar pelas sondagens, são cada vez mais os europeus que estão contra a perigosa escalada em curso e que querem negociações para acabar com a guerra. E, olhando para sul e para oriente, para lá da Europa, somos a maioria do mundo. Ouçam Lula ou o Papa Francisco ou o nosso Guterres na ONU ou...

Sim, ligar os pontos e ampliar a unidade, reforçando movimentos pela paz e pela soberania democrática deste e doutros países, neste e noutros países, são tarefas para patriotas e internacionalistas.
 

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns João Rodrigues. Sempre