quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Parte do problema

O BCE começa a jogar as suas cartas, antecipando decisões no mesmo dia em que Varoufakis visitou a instituição. Enquanto os governos recebem com sorrisos e gravatas o governo grego, uma instituição, onde só a finança tem voz, começa a exercer uma pressão intolerável e ilegítima, declarando a dívida pública grega como não elegível nas suas operações de refinanciamento. Está na sua natureza. Ao contrário de muitos iludidos, à esquerda e à direita, o BCE é definitivamente parte do problema.

21 comentários:

Anónimo disse...

Vivam os bancos centrais independentes! ( do poder democrático)
É o que se aprende nas faculdades....

Joaquim Tavares de Moura disse...

O Nuno Teles leu o comunicado do BCE? Ou leu os cabeçalhos dos jornais? É que são coisas bem diferentes como pode constatar aqui: www.ecb.europa.eu/press/pr/date/2015/html/pr150204.en.html

Como é dito no comunicado o BCE tinha que tomar esta a decisão de deixar de aceitar titulos de dívida como colateral porque as regras estabelecidos pelos estados membros a isso o obrigam. Contudo, isso não implica nenhum corte de financiamento porque existe um outro instrumento (ELA) "emergency liquidity assistance" ao dispor do Banco da Grécia. Nada que certamente o Governo Grego já não estivesse a contar. Não vejo nisto nenhuma forma de pressão, porque já se sabia que ía acontecer e inclusivamente já vinha mencionado no The Guardian e no Financial Times, como inevitável.

Nuno teles disse...

Caro Joaquim,

Acho que não fui eu que li o comunicado (esteve sempre no link do post...) de forma apressada.

As regras estavam suspensas há muitos anos. O que o BCE fez foi antecipar uma decisão que só podia tomar depois expirado o actual programa, a 28 de Fevereiro. Argumentar que não é possível "assumir" uma conclusão do programa é uma decisão política que procura colocar pressão sobre o governo grego.

É certo que, do ponto de vista estrito,a decisão tem pouco valor (o colateral já estará todo "postado no BCE e há o ELA para resolver problemas de liquidez), mas ao enviar este sinal o BCE está objectivamente a contribuir para uma fuga de depósitos, cortando o tempo ao governo grego.


Cordialmente,

Nuno Teles

Nuno José disse...

O Joaquim Tavares consegue explicar porque só agora decidiram assim? É que se é para aplicar regras que apliquem a todos e logo que os pressupostos se atinjam não quando dá jeito para negociatas. A falta de rigor vem sempre ao de cima nestas alturas!

Tripalio disse...

A teoria da "vacina" vai vingar... BCEs , Alemanha , Passos Coelhos que abundam por aí ( eleitos povo , não esquecer) não vão permitir ( infelizmente) que a Grecia fique uma vedeta da renegociação ( muito menos do perdão) da dívida... e como tal espero que o Governo SYriza tenha mesmo um plano B de financiamento, e colque mesmo ( porque pode ser obrigado a isso) o cenário da saída... O "conto de fadass" vai transformar-se num filme complicado...

José M. Sousa disse...

https://rwer.wordpress.com/2015/02/05/dear-greek-take-the-euronotes-and-run/

«4. I’m however very afraid. There is a real chance the ECB will provoke another Cyprus. The only rational advice to Greek households and companies is: take your money from the bank as the Troika madmen are coming.»

R.B. NorTør disse...

E acresce que ao antecipar a decisão, que era certamente esperada, o BCE consegue fazer cabeçalhos por essa Europa fora, assim ao jeito de demonstração de força...

Ricardo disse...

Se o BCE está afinal a fazer o jogo de quem quer a Grécia(antes e mais agora com este governo sýriza)fora do euro é bem possível que o Syriza venha a ter aqui a "desculpa" perante os gregos(afinal seriam "empurrados" pela UE/Bce,diriam eles aos gregos)de uma saída do euro e da UE(virando as antenas para o bloco Este,Russia etc)e quem sabe não é mesmo esse o plano(do syriza e parceiros de governo)caso falhe a jogada actual na UE.Hem?

Carlos Sério disse...

Não sejamos ingénuos. Os patrões do euro, jamais irão permitir que um pequeno país, a Grécia, se oponha e contradiga as políticas de austeridade sem fim impostas pela Alemanha à Europa do euro.

Face á simpatia sentida pelos povos europeus quanto às iniciativas do novo governo grego nestes últimos dias, em seus encontros em Roma, Paris e Bruxelas, o urso alemão não poderia deixar generalizar a ideia de que afinal existe uma alternativa às políticas de austeridade. Disposto a manter os países europeus dentro do seu redil, eis que paralelamente ao anúncio em comunicado da sua intransigência quanto às pretensões do governo grego, incumbe o seu braço armado, o BCE (uma demonstração mais de que o BCE não passa de um executor do mando alemão) de travar o curso dos acontecimentos e regredir as negociações gregas à estaca zero, ao anunciar que os bancos gregos deixarão de poder oferecer junto do BCE as obrigações de dívida pública grega como garantia de novos empréstimos.

Mais do que uma acção monetária o que o BCE fez foi actuar politicamente a mando do senhor Schauble e da senhora Merkel, mandatários da finança alemã.

Joaquim Tavares de Moura disse...

Pelas notícias de hoje, tenho que reconhecer que fui ingénuo, quando escrevi o post de ontem. Trata-se obviamente de uma medida de pressão.
Contudo presumo que o governo grego já deveria estar a contar com ela. Pelo aspecto das coisas, a reunião do eurogrupo fai ser fundamental e as prespectivas nao são famosas, porque já deu para ver que o governo português e o espanhol, querem que isto corra mal, por razões meramente eleitorais.

testesBlogger disse...

ou talvez estejam só a forçar a mão, mais um "bluff".. não parece uma possibilidade, Nuno Teles?
http://coppolacomment.blogspot.co.uk/2015/02/what-on-earth-is-ecb-up-to.html

Daniel Santada disse...

O corte era obrigatório face às regras UE. Pode mesmo ler-se como uma espécie de pressão para que a UE se debruce sobre a questão - e não demande tudo à BCE -

Anónimo disse...

É bom de ver que o Syriza vai ter de ceder. É impossível opor-se à finança. É preciso chegar a um acordo com a UE, o BCE e a Alemanha. Estas soluções de força são altamente desgastantes e farão mal ao povo grego. É necessário criar soluções de compromisso, como aquelas que o Daniel Oliveira defende na Tempo de Avançar. Revolução tem de ser feita com moderação como ele escreve num post muito certeiro.

L. Rodrigues disse...

Posso estar enganado, mas pelo que leio o Ministro das FInanças Grego está a jogar (literalmente) em cenários que já previu. Claro que jogar não é ganhar mas pouco do que se passou até agora terá sido uma surpresa.

Se tivesse que adivinhar, diria que o governo Grego procura, no pior dos cenários chegar a uma total indisponibliliade da Europa para aliviar o fardo da dívida Grega, mas com o argumento de que a Grécia "Tem de Sofrer" e não por qualquer nível de racionalidade económica ou financeira.

Quando à Europa (nas figuras de Bruxelas e Berlim) apenas restar um posição moral insustentável (tanto quando a dívida grega), e isso for óbvio para a generalidade dos Europeus, talvez haja uma verdadeira mudança.

José M. Sousa disse...

http://www.cepr.net/index.php/op-eds-&-columns/op-eds-&-columns/greece-ecb-kicks-syriza-in-the-face-syriza-turns-the-other-cheek

Aleixo disse...

"DAQUI NÃO SAIO, DAQUI NINGUÉM ME TIRA!"

Espero que a Grécia, mantenha os centros de decisão, ao SERVIÇO do POVO.

Se os fantoches que capturaram os centros de decisão na Europa, tiverem comichão...que se cocem!

Se o POVO disser :

- 2+2=8

...É MESMO 8 e, o problema, passa a ser da...MATEMÁTICA!


O problema é... P O L Í T I C O .

O POVO, TEM DE SER SOBERANO.

R.B. NorTør disse...

Luis Rodrigues,

Concordo inteiramente com o teu comentário. Acho que até agora ainda não se fez nada que o Governo Grego não esperasse. Mais, acho que se a troika acha que está a surpreender o governo grego, então profundamente enganados. Claro que isto é tudo um jogo de sombras e não passam de percepções. Também acho que a saída e viragem a leste serão o plano C/D (que pode muito bem ser o B/C).

Carlos Sério disse...

A Alemanha pela terceira vez em menos de 100 anos está de novo em guerra com os países europeus, desta vez sem armas convencionais, mas com um poder destrutivo sobre o bem-estar dos povos algo semelhante. Basta olhar para o retrocesso social que está a acontecer na Grécia, em Portugal, no Chipre e também em Espanha, Itália e mesmo na Bélgica ou em França.

E, parece estar a ganhar esta batalha com a ajuda dos governos colaboracionistas europeus. Todos parecem vergar-se perante a autoridade imperial da Alemanha. A história repete-se. Há governos que são mais solícitos do que outros no propósito de lhe prestar vassalagem. É o caso do Governo português, campeão deste colaboracionismo.

Fernando Lacerda disse...

Não será altura de, para além dos comentários de apoio, promovermos iniciativas de informação e de recolha de fundos, esta como ato simbólico, por toda a Europa, em particular, para demonstramos, que esta luta também é dos restantes europeus. Em Portugal já estão algumas programadas mas é preciso multiplicá-las. Outras iniciativas, promover concentração de repúdio juntos das embaixadas, consulados e outros organismos dos 28 paises? É altura de demoinstrarmos a nossa solidariedade com o Syrisa.

Jose disse...

Era mais que tempo de interromper o carnaval diplomático dos gregos, que só se distingue dos que os precederam por não usarem gravata.
Quanto ao mais é tudo igual: entreguem-nos dinheiro...

Nuno Costa disse...

A situação é complexa.
As coisas podem não ser tão simples quanto julgam...

http://coppolacomment.blogspot.co.uk/2015/02/what-on-earth-is-ecb-up-to.html