domingo, 22 de fevereiro de 2015

Um recuo não é um recuo?


Se é verdade que Vital Moreira parece ir da “CDU para a CDU”, como ironiza João Galamba no twitter, também é verdade que Vital tem toda a razão no que diz sobre o “acordo” de sexta-feira passada: “nem corte na dívida, nem fim da austeridade orçamental, nem reversão das medidas tomadas, nem novo empréstimo à margem do programa de resgate em vigor (que o Syriza tinha declarado morto e sepultado), nem fim da supervisão da troika (que só perde o nome).” Prevaleceu o ordoliberalismo inscrito nas regras e nas vontades dominantes, com as acomodações marginais de sempre. Isso mesmo é confirmado pela útil descodificação do acordo, parágrafo a parágrafo, feita por Bruno Faria Lopes no Económico: a troika, agora rebaptizada de instituições, continua no controlo. O melhor que podemos dizer é um vago “até ver” de quem não dá a guerra por perdida, apesar de uma batalha o ter claramente sido.

Neste contexto, lamento que os europeístas de esquerda e os seus partidos andem como que perdidos na tradução. É possível explicar e até justificar, apodando-o de táctico, por exemplo, o recuo do Syriza, mas por favor não continuem a dizer que não foi um recuo e dos colossais, porque estão a prazo muito curto a gerar mais (des)ilusões. E, sobretudo, não digam que ocorreu uma qualquer mudança ou, pior, que a Alemanha tem menos poder, quando a sua hegemonia, e a das instituições da troika, nunca foi tão clara como hoje.

Bom, já que estou numa de elogio aos comunistas portugueses, devo dizer que a sua nota distingue-se pela sobriedade cuidadosa, insistindo num ponto fundamental: “O que o actual acordo testemunha é não só a natureza e objectivos da política da União Europeia de intensificação da exploração e redução de direitos dos trabalhadores e dos povos, mas também a patente limitação de enfrentar esses objectivos sem afirmar coerentemente o direito de cada povo a uma opção soberana de desenvolvimento.”

13 comentários:

septuagenário disse...

Os Gregos têm milénios de existência como gregos.

Têm calo no cu como os macacos velhos.

E são incorrigíveis.

Dinheiro nas mãos deles é como manteiga em focinho de cão.

Desde que começou esta guerra dos gregos, vejo diariamente e oiço o Zorba o Grego com Antony Quin.

Perfeito!

João disse...

Meu caro septuagenário, mas há-de reconhecer, que apesar de tantos defeitos de carácter, sempre se safaram melhor (para utilizarmos uma linguagem no mesmo registo da manteiga em focinho de cão)enquanto não tiveram a presença caritativa, organizadora, disciplinadora e promovedora do seu desenvolvimento e bem-estar, que a integração europeia lhes ofereceu. Esse é que parece ser o ponto por explicar.

Unknown disse...

A oposição a perca de independência nacional com a entrada na UE, muitas vezes alertada e bem, não tem estado tão em causa porque a UE tenha conseguido uma integração forçada dos países. Tem sido pela má governação dos políticos internamente que colocam o país na dependência financeira e mais que evidente impossibilidade de fugir as regras para dar o dinheiro. Se Portugal ou o caso agora dos gregos não precisassem dos dinheiro dos alemães poderiam aumentar as pensões ,ordenados, vender ou comprar todas as empresas que nenhum mecanismo europeu o impedia. As narrativas são politica reles com fins eleitorais, que de tão repetidas tomam vida virtual própria, mesmo sendo mentira para enganar tolos.

António Pedro Pereira disse...

Senhor António Cristóvão:
Poupe-nos, mais uma vez, à cassete habitual.
Até parece os tipos do PCP.
Vá ao Vítor Bento, um dos 3 ideólogos da austeridade destruidora-criativa e leia o artigo de há dias no Observador.
Poupe-nos da cassete de os países se endividarem por prazer ou deboche: nunca se perguntou porque não o fizeram antes?
Eu respondo-lhe, porque as condições do funcionamento da economia antes do euro não permitiam, embora os povos fossem os mesmos.

Anónimo disse...

Estavam á espera do quê...ri ri ri ri...
Padecemos de alergias múltiplas e uma delas é aquela do Salve-se quem puder.
E, POR ISSOA ENROLAMO-NOS NA NOSSA PRÓPRIA INDISPOSIÇÃO PARA A VERDADE DOS FACTOS.
DE O "cATRAIO" COM RESPEITO

Anónimo disse...

um RECUO É UM RECUO. SIM SENHOR.
foi UM RECUO A TODA A LINHA. NÃO SE PODE ESPERAR NADA DE BOM DO COMANDO EUROPEU, COM OU SE ALEMÃES.
EU NEM SEQUER PUDE VOTAR PELA OU CONTRA A ce...
de o "Catraio" com respeiotoe

Carlos Sério disse...

Depois do Ultimato lançado à Grécia (nas palavras do presidente do Eurogrupo “ou o governo grego aceitava uma extensão do memorando nas condições e exigências iniciais ou então não haveria acordo possível”) o Eurogrupo, na sua última reunião de sexta-feira, recua ao admitir agora discutir novas condições e exigências depois de analisada a proposta a apresentar pelo governo grego até à próxima segunda-feira.
Apenas dois países, Portugal e Espanha, pretendiam manter o ultimato à Grécia. Saíram derrotados.
Alguns jornais alemães terão mesmo informado que a ministra das finanças de Passos Coelho terá mesmo solicitado ao ministro das finanças alemão para manter o ultimato à Grécia.
Não foi atendida. Foi descartada. É o que costuma acontecer aos servos submissos e sabujos quando o seu senhor se cansa deles.

Anónimo disse...

Afinal um euro é um euro que não um escudo.
O que vale é que um rouxinol é tanto na Grécia como em Portugal.
não vale apena travestir-se na politica, já se viu! e ponto final.
de o "Catraio"

Dias disse...

Entendo que o governo grego precisa de ganhar tempo, depois da “marcação” em cima que lhe foi feita após a vitória nas eleições.

É apenas a minha opinião, mas acho que a hostilidade que as instituições europeias e os seus burocratas lhe têm manifestado não desapareceu de todo, e a ideia de cumprimento do compromisso eleitoral por parte do Syriza, também não.
Estratégico ou não, houve recuo de facto, imediatamente enfatizado pela pandilha que está do lado destas políticas austeritárias (É preciso calcar, despedir facilmente, aumentar impostos ainda mais, cortar salários: um ódio doentio…)
Estes próximos tempos vão ser decisivos. Mas o melhor termómetro para avaliar a prestação do governo grego, será obviamente o sentir do povo grego.

Jose disse...

É princípio fundador da esquerda tratar o dinheiro dos outros como maná a derreter.
A sua ligação aos gregos tem aí um fundamento ideológico que a verborreia do Syriza veio vocalizar na fórmula cifrada que é de uso.
E assim vai continuar a saga dos coitadinhos, eternas vítimas do capital e seus agentes.
Enquanto escorrer dinheiro a Grécia vai recuar; espero que pare uma e outra coisa, no mais curto prazo.
O discurso manter-se-á inevitavelmente mas ao menos poupa-se dinheiro.

António Pedro Pereira disse...

Ora vejam o que a Alemanha já perdeu com a Grécia. Trata-se de estimativas de um banco alemão credível, na opinião de altos responsáveis germânicos.
http://www.youtube.com/watch?v=8UN1gI2nr34&sns=em

Acácio Pinheiro disse...

Meu Caro
Não é um recuo porque mais de 70% dos gregos querem o euro. Logo a alternativa era impopular e dificilmente sustentável. O que é necessário é 'pensar' como se é anti austeritário dentro do euro. Talvez então se possa fazer politica de 'esquerda' com adesão popular

João disse...

Ainda cá voltei, porque o "post" é estimulante e alguns assuntos merecem ser melhor esmiuçados.
Deste vez, lanço uma nota genérica, mas agora motivada pelo comentário do Acácio Pinheiro: a maioria dos Gregos (ou dos Portugueses, dos Espanhóis, dos Italianos, dos Irlandeses e mesmo dos Franceses), não querem o Euro, no sentido de afirmação clara de uma vontade consciente. Os Gregos querem o Euro da narrativa oficial, o Euro excludente (ou isto ou o caos), o Euro do progresso que há-de chegar não se sabe bem quando, em suma, o Euro da ideologia da fusão dos sistemas, em que os lobos ficam saciados mas as ovelhas ficam intactas. Contudo, nas manifestações de apoio consequentes à tomada de posse do novo governo Grego, o que ficou patente na minha modesta leitura, foi que, aquilo que os gregos realmente querem é retomar o controle das suas vidas. Essa perspectiva de que em política há sempre outras possibilidade, é que constitui o âmago do desafio das forças que sendo de esquerda, têm a obrigação de motivar as mudanças - e terão que ser necessariamente radicais - que façam despoletar um novo quadro político, nacional primeiro e europeu depois, como sua consequência. A narrativa do Euro, enquanto narrativa oficial, como diria a infelicidade que nos governa, é um conto de crianças.