sábado, 14 de fevereiro de 2015

Teoria dos Jogos

Ianis Varoufakis foi durante toda a sua vida um académico. Enquanto economista dedicou-se durante muito tempo a um ramo particular da Economia chamado Teoria dos Jogos.

Nessa teoria há um jogo designado “jogo do cobarde” que consiste no seguinte. Dois automobilistas, ao volante de carros de grande cilindrada colocam-se frente-a-frente numa estrada. Aceleram em rota de colisão. Se nenhum se desviar, embatem em choque frontal. Ambos perdem, possivelmente morrem. Se apenas um se desviar, ambos sobrevivem, mas o que se desviar perde. Se ambos se desviarem, ambos sobrevivem. Este jogo tem servido na imprensa internacional para descrever as negociações em curso entre a Grécia e a União Europeia.

É, não irónico, mas de certa modo trágico, que Ianis Varoufakis – o especialista em Teoria dos Jogos – se encontre hoje, não na posição do professor que pela milésima vez descreve e analisa em termos teóricos o “jogo do cobarde”, mas a joga-lo em grande escala e com consequências muito reais que podem ser dramáticas para o seu país e para outros países da União Europeia.

O modo como Varoufakis e o governo Grego se têm comportado no jogo real é exemplarmente racional: recusam ser trucidados e ao mesmo tempo sinalizam que estão dispostos a desviar-se da colisão se a União Europeia estiver igualmente disposta a fazê-lo. Mas, o que têm encontrado pela frente, pelo menos até agora, é um rufião que afirma não se ir desviar da rota de colisão um milímetro que seja.

Se no governo grego encontramos uma impecável racionalidade e sangue frio – uma atitude de defesa determinada do seu povo que ao mesmo tempo defende a Europa de uma colisão desastrosa – já do governo e da presidência da Republica Portuguesa o que nos chega é um ruído incoerente que do ponto de vista da tal Teoria dos Jogos seria classificado como irracional.

Portugal é depois da Grécia e da Itália o país da zona euro com maior dívida pública – isto é, um dos países que mais teriam a ganhar com uma resolução multilateral da dívida. Racionalmente deveria defender a Conferência Europeia sobre a Dívida proposta pelo governo grego. Mas, em vez disto o governo e o presidente só sabem queixar-se que a Grécia deve a Portugal mil e cem milhões de euros. Esquecem-se que Portugal deve ao todo duzentos e vinte cinco mil milhões? Mesmo que a conferência internacional apagasse do registo os mil milhões de dívida grega a Portugal é absolutamente certo que numa tal conferência Portugal conseguiria fazer desaparecer muito mais da sua dívida.

No caso de uma colisão europeia desastrosa Portugal será uma das principais vítimas. Racionalmente, o governo e o Presidente da República portuguesa deveriam empenhar-se em evitar a colisão. Nada disso. O que fazem é instigar o rufião a carregar no acelerador para trucidar a pequena Grécia.

Em termos de Teoria dos Jogos a estratégia do governo português e do Presidente da República é irracional. Mas a verdade é que a designação da Teoria dos Jogos é demasiado benévola. O que na realidade temos é um governo e um Presidente da República que constituem uma ameaça para o seu próprio país. Nada menos do que um governo e um presidente que estão a trair o interesse nacional, e que o estão a fazer por uma razão mesquinha: garantir que os portugueses se mantêm submissos, sem sonhar sequer em sair do pesadelo em que têm vivido.

Varoufakis dizia um destes dias que só pode negociar com sucesso quem está disposto e preparado para uma ruptura. Parece um recado para Portugal. Nós também teremos de negociar. E só negociaremos com sucesso se estivermos dispostos e preparados para uma ruptura. Preparemo-nos então, porque não devemos nem podemos esperar que a pequena-grande Grécia faça sozinha o trabalho todo.

13 comentários:

Anónimo disse...

A Grécia está preparada para uma rutura? Por favor, nem o próprio Varoufakis acredita (e muito menos deseja) isso. Ser solidário não implica papar todas as bravatas do jogo negocial.

ALEIXO disse...

Não percebo nada da Teoria dos Jogos mas, presumo que o “jogo do cobarde”, visa ilustrar a necessidade da racionalidade na decisão, quando em confronto.

Para este jogo específico, convém referir a natureza dos condutores:

Um…mercenário…dos “instalados”;

Outro…com alma…do POVO!

P´ra cair…cai-se de PÉ!

Abaixo a racionalidade.

Viva a LEGITIMIDADE!

Jose disse...

O jogo do cobarde já foi jogado há tempos.
A UE está desde então estacionada na berma a arfar.
O grego deu a volta e a questão é saber se a UE desata a fugir com o grego a ameaçar-lhe a retaguarda ou se suporta o embate e fica com motor para seguir o seu caminho em paz.

Unknown disse...

Pareceu-me que estavam muito mal preparados para debater com seriedade os problemas reais(quem sou eu, mas felizmente negociadores da UE afirmaram o mesmo).
Confundir desejos com negociações politicas só poderia dar o que deu: aguenta aí a espera que a gente já te responde, quando os contabilistas terminarem as contas. Parece-me que para alem do exagero de esperança na Grecia não me parece que a desgraça real do povo grego venha a melhorar; nem a esperança que novas ideias surjam - o desastre do SYriza vai retirar votos aos espanhois das alternativas novas.

Dias disse...

Alguns media e outros pobres de espírito falam muito do que não sabem, como é o caso relativamente à Teoria dos Jogos que o caro JC Caldas aflora neste postal.

Voltando à política, se bem que a posição assumida pelo governo e pelo PR se afigure irracional para qualquer observador exterior, para eles só há um objectivo “racional”: defenderem-se e preservarem-se, e “irem além da troica”.
O motivo é claro, investiram e são cúmplices nesta política destruidora, quantas vezes na mira de um lugarzito em Bruxelas (vide Moedas, Gaspar) ou de um cargo numa empresa a privatizar.
Krugman é que acertou em cheio: “Tsipras is not going to be on bank boards of directors, president of the BIS, or, probably, an EU commissioner. Varoufakis doesn’t even like wearing ties”. Obviamente…

Anónimo disse...

" O que na realidade temos é um governo e um Presidente da República que constituem uma ameaça para o seu próprio país. "

Lapidar

Anónimo disse...

Curioso como são os cobardes pro-troikistas, os que entoavam hinos a troika e a merkel, os que aproveitavam todas as oportunidades possíveis para vender o país ao desbarato, que se mostrem mais "incomodados" com a apresentação dos factos e dos dados.

A coisa é tão patente e escabrosa que num exercício desbocado de linguagem se fale que o "jogo do cobarde" já foi há muito jogado. Pois.Quando os nacionalistas fascistóides entoavam hinos à pátria , a salazar, a deus e à autoridade.
Agora entoam hinos à merkel e pregam em alemão

A invectiva à UE para seguir o seu caminho "em paz" é o registo expresso de quem expressamente apoia cavaco e passos.Ao mesmo nível da indignidade ética e ideológica.Mas é de facto mais
"O que fazem é instigar o rufião a carregar no acelerador para trucidar a pequena Grécia".
O que na realidade temos é a expressão pública dos sequazes oportunos (oportunistas) de um governo e de um Presidente da República que constituem uma ameaça para o seu próprio país. Nada menos do que o suporte visível dum governo e dum presidente que estão a trair o interesse nacional.

Mais uma vez a História mostra que é o dinheiro que comanda o discurso a usar pela direita-extrema. Das missas nos jerónimos aos defensores da pátria há mais de 4o anos, para a genuflexão pública, amestrada e obediente à alemanha e aos interesses da UE.
Antes rezavam com os versos dos Lusíadas em fundo e pregavam a caridade do cassetete, dos pides e dos assassinos de Delgado. Hoje contentam-se com a versalhada medíocre dum qualquer funcionário troikista, pregam à caridade da jonet de serviço e rezam pela vinda da "porrada", e do cacete a quem não lhes beber os credos e o germanofilismo

De

Jose disse...

São 293 palavras em que não há ideia a que não seja associado um boneco, espécie de banda desenhada em texto. Canto!

Pedro Ribeiro disse...

Não sou nenhum entendido em teoria dos jogos mas parece-me que os jogadores em causa não têm a mesma leitura da matriz de payoff. Estou mesmo persuadido de que para os líderes alemães a não cedência é uma estratégia dominante. A minha leitura pessoal é de que não o é mas acredito mesmo que nas cabeças daquela gente o seja.

Mas há outro aspecto mais relevante que tem de ser introduzido neste jogo. O payoff não pode ser medido apenas em termos de ganhos e custos para cada país. O jogo é jogado por agentes políticos com interesses que vão para além do mero cômputo de ganhos e perdas económicos nas esferas nacionais. E para os líderes europeus, encabeçados pelos alemães, as perdas resultantes de um acordo significativo com os gregos seriam, no plano político, tremendas.

Vejo com muito pouco optimismo este jogo. É uma oportunidade que se abre para alterar a forma como a UE está desenhada. Mas é também uma oportunidade, para quem tem o poder neste momento, de fazer dos gregos um exemplo e impor a sua vontade pelo medo.

Este jogo é muito mais do que questões de dívida ou mero jogo económico. O político (e até o ideológico) têm um papel central neste jogo - e infelizmente, julgo que ele vai determinar um fim infeliz para os gregos - e, na minha opinão pessoal, para todos nós.

Anónimo disse...

O boneco referido pelo "jose" será este , explicitado pelo mesmo jose desta forma tão indesmentíel como chocante.Cito ipsis vervis,:
"Às bestas serve-se a força bruta se forem insensíveis a outros meios"

As "bestas" eram apenas os que não cumpriam os desejos troikistas.

A democracia atirada para um canto.A banda desenhada para alguns serve-se na ponta das baionetas e do cacete.

Confirma-se

De

Jose disse...

Para as bestas há mais...
«A Luta...e as bestas já a vêm na sua forma extrema, em que os mortos são argumentos e os vivos são silêncio! »

Anónimo disse...

Para as bestas há mais , profere em tom imperturbável jose.
Invocando os mortos como argumento (onde já ouvimos dizer tal?) e exigindo o silêncio dos vivos)

Aqui, em directo e de viva voz:
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/12/se-te-mexes-morres.html

Como é possível coisas assim?

De

Anónimo disse...

Você escreveu:
- "P'ra cair, cai-se de PÉ!"
Então ensine aquela outra...das Finanças a não se pôr de joelhos, aos pés do Alemão, envergonhando, politicamente, Todos os Portugueses !
Ensine-a a não ir a Berlim, fazer "vergonhas", politicamente, "colando-se" às costas daquele...