sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O que ganhou a Grécia em quinze dias?


«Um ganho que alguns poderão dizer que é simbólico, ou imaterial, ou do domínio do goodwill soberanista, que aparentemente não enche a barriga dos esfomeados e não faz entrar guito no orçamento - a Grécia recolocou-se no mapa, deixou de ser um país capacho, menor e marginal, ignorado e humilhado, tratado como um "protetorado" de um comité de credores; ganhou voz e subiu ao tablado, mundial inclusive; é manchete de pé e não de rodillas.
(...) Com o passar dos dias, a tese de que o novo governo grego era uma espécie de grupo de amadores radicalóides, utopista, por ousar atirar o calhau ao charco, passará para a gaveta. O novo governo recuou em alguns pontos (como o hair cut nominal de "grande parte" da atual dívida que está em mais de 70% na mão de credores oficiais, ou uma iminente conferência europeia sobre essa "coisa", como lhe chama o presidente Cavaco Silva), para marcar terreno com eixos de "bom senso" técnico irrevogáveis: emergência humanitária; swaps de dívida para aliviar o serviço anual de dívida e alongar maturidades; redução dos excedentes primários orçamentais para libertar recursos anuais; elaborar uma proposta de reformas (onde vai trabalhar com a OCDE) exequíveis (algumas delas que só "radicais" são capazes de implementar) e equilibradas (não destinadas à desvalorização interna do factor trabalho).
(...) A atuação deste governo grego traz um benefício à democracia representativa. Agindo em função daquilo para que foram eleitos mostram ao eleitorado que vale a pena jogar o jogo da democracia e atuar no seio da União Europeia com a espinha direita sem a síndrome do capacho. Se a União Europeia respeitar essa regra básica do respeito democrático, esses eleitorados radicalizados e enraivecidos contra a austeridade e a humilhação nacional consolidarão a sua confiança na democracia. Se for hostilizado ou humilhado rejeitará a União Europeia. Tão simples quanto isso - e essas camadas tendencialmente maioritárias no eleitorado radicalizar-se-ão ainda mais. As principais vítimas serão os capachos e os profissionais da humilhação - desaparecerão do "arco da governação".»

Jorge Nascimento Rodrigues (no facebook, um texto a ler na íntegra)

11 comentários:

Anónimo disse...

Caro Nuno Serra,

Porque é que existe uma emergência humanitária na Grécia com um PIB per capita de cerca de 19000€ (segundo o Pordata) e não existe emergência humanitária, por exemplo, na Roménia (outro país da UE) com um PIB per capita que ronda os 14000€? Ou na Polónia com cerca de 18000€?

Má distribuição de rendimento? De que é que a Grécia necessita do exterior para mitigar essa má distribuição, se tem à partida mais condições que outros países da UE para o fazer?

João disse...

O tempo histórico que vivemos - já o disse e agora repito, porque a convicção não mudou - não se compadece com meias-tintas. Reconheçam-se, sem esforço, as dificuldades que o recém eleito governo Grego tem que enfrentar; mas reconheça-se também, que a alavanca que tem em mãos e que, na perspectiva do tempo histórico (que raramente coincide com o tempo imediato) se assume como um instrumento propulsor determinante, reside no voto e no apoio populares e na mobilização e predisposição das massas populares para uma inversão absoluta de caminho, únicos meios efectivos para as rupturas imprescindíveis. Há, portanto, um aspecto não mediatizado, que é o que respeita precisamente à predisposição dos gregos e ao impulso que a sua mobilização dará à própria acção governativa - que é também e aí reside um dos maiores perigos, cheia de contradições internas, que na visão reducionista que as televisões nos impingem, se transforma na cavalgada contra moinhos de vento de dois D. Quixotes, com algum exotismo na forma de vestir, que mais cedo ou mais tarde aprenderão a "lição europeia". Dependerá pois da mobilização popular, por um lado e da prevalência ou submissão das forças mais à esquerda no interior da coligação Syriza, que este processo político se encaminhará para um caminho de ruptura revolucionária ou para um pântano institucional, que devolverá à coligação Syriza o estatuto de iirrelevância eu foi o seu até agora e que abrirá as portas ao fascismo, seguramente não apenas na Grécia.

Anónimo disse...

Certo é que se o Syriza fosse o Tempo de Avançar não se teria avançado nada. Com uma votação desta magnitude iriam bater a porta do PASOK e oferecer todos os mandatos ao programa troikista do PS grego, tal como o PS daqui que dá borlas de milhões de euros aos clubes de futebol. Sim, o Antonio Costa fez isso, o líder verdadeiro do Livre-Tempo de Avançar.

Ricardo A disse...

o fascismo já está instalado(enquanto alguns acenam com o perigo populista ou neo-fascista dentro dos Estados)na UE,vão ver a definição de fascismo do sr Mossulini e vão perceber (mas há muita gente que tem o elefante na sala e diz que não o vê). Ricardo

Jose disse...

A todo o Giverno eleito com bandeira populista é concedido pelos seus pares um tempo para embrulhar e 'vender' o real.
No final serão feitas as contas, e se o Syriza garantir acabar com a palhaçada grega será seguramente compensado.

José Guinote disse...

Poder-se-ia começar por colocar a pergunta oposta: o que é que a Grécia não perdeu em quinze dias?
1)Não perdeu, desde logo, o respeito pelos seus cidadãos. A actuação política do governo grego, por ter ousado questionar a austeridade e a Troika, rompe com a farsa em que a democracia representativa se tinha tornado nos países sob resgate. As eleições voltam a permitir aos cidadãos escolherem políticas e os seus executantes, não apenas escolherem políticos que executam as politicas dos credores. Sai, por esta via reforçada aos olhos dos seus cidadãos que sentem razões para recuperar a sua autoestima e a dignidade colectivas.
2) Não perdeu, o Governo, a sua própria razão de existir enquanto Governo de rotura com a situação existente no país. Definiu uma clara separação entre os mecanismos de financiamento dos estados e a adopção de políticas de austeridade. A Grécia não aceita medidas de austeridade mas está disponível para discutir os mecanismos de financiamento. A regra na União era impor austeridade como contrapartida de financiamento. Quem pede obedece, mesmo que seja contra os seus cidadãos.
3)A Grécia não perdeu a oportunidade de tornar claro para toda a gente qual é o verdadeiro objectivo das políticas fiscais e de controlo dos défices públicos: impor a austeridade. Austeridade que colocou os mais desfavorecidos a pagar a crise do sistema financeiro internacional sem questionar os mecanismos de promoção da desigualdade. Perda de direitos sociais crescente para financiar uma extrema acumulação de riqueza nas mãos de cada vez menos.
4) A Grécia não aceitou perder a Europa. Não aceitou que o alibi dos incumpridores e das “regras são regras” permitisse manter a política nos termos em que ela era jogada antes do Syriza. Resistiu sem sair lutando por uma nova Europa, construída pelos europeus. Se a Grécia tivesse perdido o projecto europeu –seja isso o que for – teria acabado.
Este é o momento mais importante das últimas décadas na vida da União Europeia e estes quinze dias abrem um potencial de vitórias e de mudanças para os povos europeus. Obra do governo Grego.


https://www.facebook.com/jose.guinote

meirelesportuense disse...

Ricardo Pais Mamede disse hoje, preto no branco, que o Euro não tem futuro a não ser condenando os Países como o nosso, a ter cada vez menos ordenados decentes e Estado-Social. Foi isso que levou a Direita ao Poder e ao pedido à Troyka.
Ter-nos nas mãos com uma enorme dívida e a obrigação de lhes obedecer cegamente.
O raccionarismo da Direita não quer saber dos direitos dos Portugueses, apenas vê no seu caminho os interesses dos agiotas e exploradores!
Aqui como na Grécia, vivam os gordos e os bem-instalados da "swissLeaks´s" deste Mundo, a esses e só a esses interessam estas políticas!

António Pedro Pereira disse...

José:
Sendo este local frequentado por «lunáticos», não percebo o que faz aqui o «lúcido» José todos os dias de plantão?
A viver à conta do Estado Social que abomina para cumprir as ordens do dono Passos, não é?
No fim de tudo, o que fica bem expresso é a imbecilidade dos seus reiterados comentários.
Diga lá quantas latas de Pedigree é que o seu dono lhe compra para estar aqui de guarda e latir a cada post que aqui é colocado?
Eu dobro a parada só para você desaparecer e ainda poupa os latidos.
Deixe o endereço e lá lhe chegará um caixote de latas de Pedegree.

Jose disse...

T&enho algum interesse por lunáticos - não raro alguma luz os favorece.

Por grossos o meu interesse é nenhum.

Anónimo disse...

Não.Esta é a versão soft transmudada em missa de beato. jose já disse o que o movia e o que o fermentava.
Está por aí documentado

De vez em quanto descai-se e assume-se melhor:
Como aqui:
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/12/se-te-mexes-morres.html

Anónimo disse...

Esqueci-me de assinar

O texto do anónimo de 15 de Fevereiro pelas 13 e 11 é meu

De