sábado, 21 de fevereiro de 2015

Não sei


Não sei se o governo grego aceitou este acordo com a UE, a confirmar na 2ª feira, porque foi o melhor que conseguiu e não admite sair do euro, ou então, porque tem um plano B (sair do euro) e este acordo serve-lhe para ganhar tempo e preparar a saída. Não sei. Mas sei o que Portugal devia fazer. Seria assim:

5. Governo das esquerdas – o primeiro mês

Em nome da Constituição da República, e em nome de um futuro digno para Portugal, um governo das esquerdas legitimado pelo voto democrático deve tomar de imediato a decisão de repudiar o Memorando assinado com a troika e pedir à UE a abertura de negociações com vista à recuperação da autonomia política indispensável ao desenvolvimento do país.

Pedir a abertura de negociações significa dizer à UE que Portugal escolheu o caminho do desenvolvimento e precisa, no mínimo, de várias derrogações aos Tratados. Caso o status quo permaneça até esse dia, caberá então à UE fazer também a sua escolha: negociar com Portugal um novo estatuto dentro da UE, o que inclui várias derrogações, ou virar as costas a Portugal.

É importante que não haja ilusões sobre o que acontecerá após a denúncia do Memorando. Os empréstimos da troika serão suspensos e Portugal ficará sob ameaça de suspensão da liquidez fornecida aos bancos comerciais e ao Banco de Portugal. A comunicação social encarregar-se-á de lançar o pânico, em particular sobre as famílias com poupanças nos bancos. Por isso, antes mesmo de aceder ao governo, as esquerdas devem preparar um plano de contingência (ver secção seguinte). Neste período, a estratégia de comunicação terá de ser muitíssimo cuidada.

Reunir com os diferentes órgãos da UE para reivindicar um novo estatuto para o país, em nome do seu desenvolvimento e do respeito pela sua Constituição, faz parte de uma estratégia que visa colocar a UE na posição de ter de decidir sobre derrogações aos Tratados, incluindo o recente Tratado Orçamental. Seria desejável que esta fase negocial durasse um mês. Na melhor das hipóteses, haveria receptividade para uma saída ordeira do euro, vista pela Alemanha como inevitável e até desejável. Na pior das hipóteses, constatado o impasse, o governo teria ganho tempo e avançado na preparação técnica e legislativa para a introdução de uma nova moeda.

(Excerto do texto que apresentei ao Congresso Democrático das Alternativas em 2012)

6 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Admito (e desejo) que haja um plano B

(Citei-o no meu "Conversa...", e fiz link para o seu texto no jornal i)

Jose disse...

Fantástico!

Anónimo disse...

Se votar importasse não nos deixavam votar

Unknown disse...

Tendo recuado na maioria das pretensões, tendo perdido entretanto verbas muito grandes de depósitos nos bancos gregos, tendo aumentado os juros a que se pode financiar, se foi para ganhar tempo, valia mais ter ido as meninas do que casar por opção.
Muito mais independência conseguimos nós,tendo seguido as regras dos donos do dinheiro: e financiamento onde e como nos apetecer.

Anónimo disse...

"Tendo seguido as regras dos donos do dinheiro"---abençoado deus mamon,a que horas é a missa?

Luís Lavoura disse...

Esqueceu-se dos controlos de capitais. Seriam imprescindíveis, como se viu no caso da Grécia (fuga dos capitais dos bancos). E não seria nada populares. Nem seriam fáceis, num país que tem tanto comércio internacional como Portugal.

Seria preciso voltar a colocar polícias nas fronteiras terrestres, a revistar os carros. Não seria bonito nem fácil.