domingo, 1 de fevereiro de 2015

A quem compraria o carro em 2ª mão?

Há qualquer coisa de desmistificador nesta imagem da conferência de imprensa entre o presidente do eurogrupo e o ministro grego das Finanças.

Já nem falo de Varoufakis – à semelhança de Alexis Tsipras – não usar gravata, como um sinal de desconfiança pelos símbolos de honradez numa sociedade dominantemente burguesa. É o facto de a imagem ser ela mesma um confronto. Entre um funcionário obediente, de óculos aprumados e cabelo em desalinho organizado, que tem todo o ar de ter sido promovido para apenas repetir que os compromissos são para cumprir e que as reformas estruturais para ser introduzidas; e o ar arejado de um ministro que visualmente nada tem a ver com a burocracia nem com os joguinhos de alcatifa nos corredores comunitários.

E deve ter sido isso que assustou tanto. As declarações de Varoufakis pareceram apenas ilustrar essa sensação: um aparentemente ofendido Jeroen Dijsselbloem terá dito quando se levantou: “Acabaste de matar a troika” , enquanto um descontraído Varoufakis terá respondido: “Uau”.

A imagem foi tão clara que os jornalistas presentes e os que mais tarde a viram com tradução legendada ou dobrada acharam que Varoufakis terá cortado com as instituições que compõem a troika. E que a carta que Tsipras enviou à agência Bloomberg teria sido um recuo da posição inicial de Varoufakis. Cá escreveu-se sobre o recuo ou tentativa de sossegar os mercados. E até aquela triste figura do “comentador” Marques Mendes deu conselhos ao governo grego para não ser radical, entroncando o seu discurso ofendido com a posição oficial do Governo e da troika.

Agora, ouça-se um Varoufakis a descompor a jornalista da BBC pela deficiente cobertura jornalística


Interessante. Até parece que a campanha internacional já começou. Mas a quem é que compraria um carro em 2ª mão? (Se está com dúvidas, leia: "Mestrado falso obriga presidente do Euroogrupo a corrigir currículo")

9 comentários:

Dias disse...

Comprar um carro em 2ª mão ao funcionário eurocrata Jeroen Dijsselbloem, ele, sempre zeloso à cata da sua comissãozita?!

É preciso desmistificar estes pseudo-meios de comunicação que nos bombardeiam dia apos dia (ao papagaio, nem o vejo), tentando mostrar o governo de um país da UE (Grécia) como se fosse constituído por um conjunto de marginais. Tsipras e Varoufakis pelo mérito inestimável que têm, merecem todo o apoio.
Bom e oportuno postal, caro JR Almeida!

Jose disse...

Questões políticas que se apresentam claras dispensam que as embrulhem em perfis psicológicos de mau gosto e irrelevantes para a questão.
O grego diz-se insolvente e pretende fazer reformas que o tirem da insolvência.
Diz aos credores que não declarem a falência, que financiem a recuperação, que serão pagos na medida do sucesso dessa recuperação, e que deixem ao insolvente decidir como reforma e consequentemente como paga.
Pede quatro semanas para apresentar o plano e começa por agravar a insolvência, ao que dizem, em 12 mil milhões de euros.
Para descontracção não se poderia imaginar nada mais expressivo!

Rogério G.V. Pereira disse...

Inverto a relação, eu vendia um carro a Varoufakis, sem entrada nem fiador...

João Ramos de Almeida disse...

Caro José,
A questão política é clara: para quê gerar mais dívida externa se o dinheiro vai apenas para o buraco negro de uma dívida insustentável? Este é o problema político da Grécia e, veja-se lá, de Portugal igualmente, apesar da negação do nosso Governo, da troika e - repito - de um funcionário obediente como o presidente do Eurogrupo.

Mas sobre comentários "de mau gosto" deixo aqui - para quem não leu - o comentário do embaixador Francisco Seixas da Costa que é bem mais duro do que eu:

GRÉCIA - EUROPA

Devo confessar que foi muito divertido para um antigo profissional de relações internacionais poder apreciar a coreografia da conferência de imprensa do presidente europeu do Eurogrupo com o novo ministro grego das Finanças. Ambos sabiam que a "body language" seria medida ao milímetro pelos observadores. E ninguém ficou desiludido.

O holandês, com os caracolinhos de um "pãozinho sem sal" de político "by the book", percebeu que estava numa peça com um "script" que não podia controlar, pelo que, num tom um pouco embaraçado, limitou-se a dizer (lendo-as) as "deixas" que trazia alinhadas de casa. Nada de novo e nada de surpreendente: a UE limita-se a dizer o óbvio da cartilha bruxelense e a deixar que sejam os gregos a ir a jogo e apresentar as novidades. Ai dele se, perante Berlim, cometesse algum erro, ousando um improviso que pudesse vir a ter leituras ínvias. Mais holandês do que socialista (a "Internacional Socialista" é, historicamente, um albergue espanhol, onde cabe sempre mais um), o jovem Dijsselbloem (só soletrar isto divide a Europa!) mostra uma ousadia de movimentos de um moinho do seu país e deve sofrer imenso ao ter de confrontar-se com estes "bárbaros", que põem em causa a ortodoxia do "consenso de Bruxelas".

O histriónico ministro helénico, Varoufakis (quem quiser seguir-lhe o blogue, em inglês, vá a www.yanisvaroufakis.eu ou no twitter https://twitter.com/yanisvaroufakis), que sente ser uma estrela na nova companhia, tem consciência de estar no seu momento Andy Warhol, com o mundo a tentar ler o seu sorriso desdenhoso, sabendo o incómodo que provoca nos interlocutores com a ousadia da sua leitura heterodoxa da questão financeira. Intelectualmente sobranceiro, num estilo físico típico de um filme de ação de Hollywood, está no seu papel de dizer à Europa "lá de cima" que o problema é agora dela. Se bem interpreto a sua atitude - e os dias que aí vêm mostrar-nos-ão melhor se entre ele e Tsipras as coisas se coordenarão sempre à perfeição -, quer fazer crer que estudou todas as hipóteses e cenários e que tem resposta para os próximos capítulos, quaisquer que eles venham a ser. Logo veremos, porque a realidade prova, em regra, ser muito mais imaginativa que os homens.

Aconteça o que vier a acontecer, aqueles minutos da conferência de imprensa ficarão para a história de uma certa Europa.

Jose disse...

Caro João
Ainda não li o embaixador mas li-o a si: "o dinheiro vai apenas para o buraco negro de uma dívida insustentável?"
O que eu digo, como credor, é que não é isso que eu vejo.
Se a dívida não pára de crescer, ainda que esquecendo juros e reembolsos, o problema não é a dívida mas um défice que sustenta políticas desajustadas.
Do que foram erros querem fazer disso direitos, o que foram excessos reclamam que se mantenham.
A dívida é uma treta para dar nova folga ao processo de sustentar progresso 'social' com dívida.
Sempre acompanhando esse progresso com não pouca corrupção e compadrio.

Anónimo disse...

Credor?
O jose é credor?

Como o amigo ricardo salgado era credor?
Ou o amigo cavaco?
Amigos do jose entenda-se
A esssa gentalha que segundo o vocabulário do jose tinha "direito ao "retorno justo".
Como o jose,subentende-se

Mas é completamente lastimável essa pieguice de quem anda a tentar fazer-se passar por amigo da merkel e a chutar para a frente exigindo o dinheiro que não lhe pertence

Há vários planos que têm que ser denunciados.Foram os amigos do jose, os cavacos, os oliveira e costa, os passos , os portas que andaram a hipotecear o país...em nome das PPP, do BPN ( ainda se lembram do jose a fazer fugas para a frente e a defender o banco laranja, afirmando que eram apenas migalhas?);em nome dos swap que cavaco iniciou e que teve continuidade pelo PSD,PS e PP e que teve uma protagonista miseravel, a ministra mentirosa? Em nome dos submarinos do ministro portas e dos seus parceiros tão do agrado do jose?


Mas há outro plano.O plano dos que andam a viver das rendas atribuídas pelo governo aos amigalhaços.Através dos monopólios transmutados para as mãos desses mesmos amigalhaços. Através das privatizações onde o bedeelho dos ruminantes penetrava profundamente no que era público e a canalha afirmava que estava a investir as "poupanças"As poupanças dos alemães,claro

E há ainda outro plano.O plano dos que andam a viver a custa da exploração de mão-de-obra barata.Daqueles que não fazem nenhum e que mais não fazem do que viver da exploração dos demais. Autoapelidam-se de "empreendedores" mas o olhar vesgo, a mão leve, o perfil de ódio a tudo o que mexa e a tudo o que acham que são direitos não engana ninguém

Temos assim jose a assumir o seu quinhão do saque.Da maneira mais germanófila possível.

Eis o retrato da nossa direita extrema.De mãos dadas com os corruptos ( a assobiar para o lado para ver se ninguém repara).E a tentar esconder uma coisa muito simples.A sua governança deu para o torto.Falhou completamente.Pifou, Afundou o país.E agora choramingam que a dívida não pára de crescer.

O coitado nem sabe ( ou sabe,mas a pieguice não lhe permite ver) que tudo isto é uma cenário mil vezes denunciado.E anunciado

Por isso ...pieguices deste género são intoleráveis.A sua governança falhou

De


Anónimo disse...

Os perfis psicológicos podem ser de mau gosto mas são relevantes.

O que vejo é uma imensa incompetência por parte dos decisores de bruxelas e do Eurogrupo. São claramente indivíduos sem sentido critico que se limitam a vestir um fato, apresentar uns Cvs meio standardizados e a seguir um guião, do outro lado vejo um indivíduo autentico, que pensa, que articula as suas ideias e que se recusa a conformar com os standards impostos pelo "meio financeiro". Vejo também alguém que parece realmente preocupado com a defesa dos interesses do país que representa e não em conseguir uma promoção para um cargo europeu após exercer o seu cargo no governo nacional. enfim, concluo que as políticas são importantes mas quem as executa também o é.

João Ramos de Almeida disse...

Caro José,
Há muitas razões para se ter chegado a uma dívida elevada antes da intervenção da troika. E é todo o um debate possível de se ter como evitar que tudo aconteça outra vez e de forma a tornar as contas orçamentais o mais transparente possíveis e, mais do que isso, analisáveis. O problema é que está visto que a terapia seguida não resolve o problema. E esse é o problema da Grécia, de Portugal, de muitos países e, claro está, dos credores. Manter o rumo como está levará ao default ou à pobreza extrema dos povos. E esse é o debate que tem de se ter. Não basta dizer que a dívida é sustentável: é provar que o é e como, para podermos avaliar o programa político que está subjacente a essa estratégia.

Anónimo disse...

Lamento muito mas o mau cheiro Josefiano é insuportável.
Assim não.