sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Germanização ou soberania?


Não sabemos se o Syriza está preparado para enfrentar a tempestade que desencadeou quando, no primeiro dia do seu governo, reverteu algumas das "reformas estruturais" impostas à Grécia e pôs termo à intervenção da troika. Terá um plano B? Ao contrário do que pensa alguma esquerda, a questão central nesta dura negociação não é a reestruturação da dívida pública grega. Ao quarto dia do novo governo, logo se percebeu que o acordo sobre a dívida é viável através de um reescalonamento dos pagamentos que tenha em conta o crescimento da economia, portanto sem corte no montante em dívida, para salvar a face dos credores. Esta fórmula seria aplicável aos restantes países devedores, o que tornaria supérflua uma conferência europeia sobre a dívida das periferias da zona euro, a maior bandeira das esquerdas do "euro bom". 

O núcleo central do confronto entre a Grécia e a Alemanha, apoiada por vários governos colaboracionistas (incluindo os de Portugal e Espanha), reside na política económica da troika, com que o governo do Syriza rompeu. É aí que a Alemanha não vai ceder e já o disse num documento apresentado aos ministros das Finanças da zona euro: a Grécia deve continuar sob controlo da troika, regressar às reformas estruturais, despedir 150 mil funcionários públicos, manter o programa de privatizações, gerar um excedente orçamental primário de 3% este ano e de 4,5% no próximo, etc. De facto, este é o núcleo central do Tratado de Lisboa e do Tratado Orçamental, a visão do ordoliberalismo para a Europa de que a Alemanha não pode prescindir porque tal significaria o seu suicídio político, interno e externo. Há demasiada ingenuidade nas esquerdas que pedem a Berlim mais lucidez, mais sangue-frio na sua atitude negocial. Não conseguem entender que o jogo político não obedece apenas a uma racionalidade contabilística de benefícios e custos; está também imbuído dos valores e crenças que são o núcleo (certamente evolutivo) da cultura de um Estado-nação. Por isso, ou o Syriza capitula no essencial, a política económica do novo governo, ou a Grécia será expulsa do euro via BCE. Um "euro bom" não é mais que a fantasia das esquerdas tradicionais na sua fase terminal. 

O Bloco de Esquerda e a esquerda que quer fazer o PS virar à esquerda - qual bom escuteiro que quer ajudar a velhinha a atravessar a rua, apesar de não ser essa a sua vontade - não entendem que os tratados da UE estão formatados segundo os princípios do pensamento ordoliberal alemão e do constitucionalismo económico de Hayek. Isto significa que as regras de organização da economia da zona euro (o essencial da UE) estão blindadas contra as flutuações do ciclo político. Quaisquer que sejam as orientações ideológicas dos governos eleitos na UE, as normas reguladoras da economia e da política económica não podem mudar. A soberania dos estados-membros não está nem estará sujeita a uma soberania de nível superior (democracia federal), porque não há, e não é imaginável que venha a haver, um povo europeu. A soberania dos povos da UE está hoje sujeita à legalidade de um tratado que carece de legitimidade por ausência de um soberano que, senhor da última palavra, diga o que é justo ou injusto nas suas regras (ver Jacques Sapir, "Constitutions, souveraineté et Grèce"). Em suma, a UE é radicalmente antidemocrática e, mais do que nunca, isso hoje está à vista de todos. Uma estratégia de "mudança por dentro" é uma estratégia inviável, pela simples razão de que, se por mera hipótese a Alemanha fosse derrotada, isso significaria a imediata implosão da UE. 

Se a minha leitura estiver certa, a celebração de um acordo entre a Grécia e a UE apenas suavizará a austeridade, não permitindo ao governo executar a política económica de que o povo grego está à espera. Em alternativa, o Syriza pode estar determinado a não ceder na política económica de que a Grécia precisa, mas então devia ter preparado o povo para uma expulsão da zona euro. No primeiro caso, estaríamos perante uma tragédia política. No segundo caso, perante a continuidade da velha forma de fazer política. 

(O meu artigo no jornal i)

26 comentários:

Jose G. disse...

Análise excelente, sobre o estado da
Europa, Decadente e Cínica!
Todos os Fundamentos da criação da União Europeia, estão desfeitos! Como demonstra o resultado, da recente, ronda negocial,de Tsipras e Varoufakis. Face à depauperação dos
povos europeus, a Implosão do Euro, é questão de tempo, pouco!

L. Rodrigues disse...

Creio que o Governo Grego, sabendo da impossibilidade de convencer os alemães e restante Europa a fazer o que é certo, quer primeiro demonstrar que fez tudo ao seu alcance para o conseguir.
Quando a impossibilidade for demonstrada perante todos, o povo grego estará preparado para sair do Euro.

R.B. NorTør disse...

Caro Jorge, excelente análise, no entanto não penso que seja uma velha forma de fazer política.

Seria uma velha forma de fazer política se o governo se mantivesse intransigente quanto a cortes de dívida e arrastasse com isso a Grécia para fora da UE. Aí sim, bateria ponto por ponto na conclusão. Se o Governo Grego se mostra flexível a discussões e força o eixo Berlim-Frankfurt a tomar posições de força e de irredutibilidade (os porquês o Jorge explicou-os melhor do que eu seria capaz), então não será antes a Grécia que arrastará o Governo Grego para fora da UE?

Ricardo disse...

Penso que o L.Rodrigues tem razão na sua análise,pois aqueles dois do syriza não são estupidos(e o povo grego será levado a perceber,caso falhem as tentativas actuais,que não tem futuro no euro) e sabem que a UE é assim(mais detalhe menos detalhe)como diz Bateira neste post.

Dias disse...

De acordo: o busílis estará na tal “condicionalidade política” que a UE (Alemanha) vai querer continuar a impor, com a troika a meter o nariz na Grécia, com ordens por correio electrónico, com a velha mania do pretenso darwinismo social, etc. etc.

“ … mas então devia ter preparado o povo para uma expulsão da zona euro.”
Aqui eu acho que não seria curial vir o Syriza logo á partida, com essa hipótese explícita, e de certa forma, irredutível.

Soberania ou Germanização?
O problema já hoje se deve estar a pôr ao povo grego, mesmo sem ter sido auscultado sobre o eventual desfecho… O povo será confrontado, vai decidir.

Anónimo disse...

"a esquerda que quer fazer o PS virar à esquerda - qual bom escuteiro que quer ajudar a velhinha a atravessar a rua, apesar de não ser essa a sua vontade" quer lá saber da Syriza! Quer é o Dimar! Ou mesmo o PASOK!

Joaquim Tavares de Moura disse...

Caro Jorge Bateira,
O seu post é um exemplo acabado de paternalismo e condescendência. A sua arrogância intelectual é mais próprio de quem quer dar lições e fazer ver a luz aos outros do que quem quer expor um ponto de vista. Escreve sobre evidências como se fossem grandes achados, que a "esquerda que quer ajudar o PS a virar à esquerda" não seja capaz de enxergar. Somos todos uns ignorantes perante tanta sapiência do Jorge Bateira.
Segundo o seu "decreto" os tratados europeus não são reformáveis, nem modificáveis, nem objecto de outras leituras. Tem a marca de água de Haeyk e não há nada a fazer. Os tempos mais recentes parecem dar-lhe razão. Mas a UE não nasceu em 2012, com o Tratado Orçamental e tal como o Jorge Bateira, também Fukuyama se enganou redondamente quando, em 1992, decretou o "Fim da História".

Jose disse...

Uma coisa são os princípios fundadores da UE, outra bem diferente foi o cálculo oportunista que os políticos fizeram desses princípios - desde o 'não é para pagar' do recluso 44, à desbunda grega que aparenta querer manter-se indefenidamente com novos actores.

Anónimo disse...

De acordo com quase tudo. Tudo ou quase, o que o PCP antecipadamente antecipou.

Anónimo disse...

"Alexis Tsipras, the leader of Syriza, would like to pretend that austerity and the euro are two different things, that you can marry the pretty girl but not invite her ugly sister to the wedding. Apparently, the Syriza chief is blissfully ignorant of the history of the euro. The horror of austerity is not the consequence of Greek profligacy: it was designed into the euro’s plan from the beginning.

This was explained to me by the father of the euro himself, economist Robert Mundell of Columbia University. (I studied economics with Mundell’s buddy, Milton Friedman.) Mundell not only invented the euro, he also fathered the misery-making policies of Thatcher and Reagan, known as “supply-side economics” – or, as George Bush Sr. called it, “voodoo economics.” Supply-side voodoo is the long-discredited belief that if a nation demolishes the power of unions, cuts business taxes, eliminates government regulation and public ownership of utilities, economic prosperity will follow.

The euro is simply the other side of the supply-side coin. As Mundell explained it, the euro is the way in which congresses and parliaments can be stripped of all power over monetary and fiscal policy. Bothersome democracy is removed from the economic system. “Without fiscal policy,” Mundell told me, “the only way nations can keep jobs is by the competitive reduction of rules on business.”

Greece, to survive in a euro economy, can only revive employment by reducing wages. Indeed, the recent tiny reduction in unemployment is the sign that Greeks are slowly accepting a permanent future of low wages serving piña coladas to Germans on holiday cruises.

It is argued that Greece owes Germany, the IMF and the European Central Bank for bail-out-billions. Nonsense. None of the billions in bail-out funds went into Greek pockets. It all went to bail out Deutsche Bank and other foreign creditors. The EU treasuries swallowed 90% of its private bankers’ bonds. Germany bailed out Germany, not Greece.

Nevertheless, Greece must pay Germany back, Mr. Tsipras, if you want to continue to use Germany’s currency, that is.

-http://www.gregpalast.com/trojan-hearse-greek-elections-and-the-euro-leper-colony/

R.B. NorTør disse...

Caro Joaquim,

Tem razão em alguns pontos. A UE não nasceu com o Tratado Orçamental, até porque este nem sequer é um dos tratados da UE.

Quando o Jorge diz que os Tratados não se modificarão é apenas um laivo de realismo. Em teoria sim, os Tratados podem ser mudados. Na prática isso não é expectável porque ainda havia malucos a quererem arranjar apenas um local para o Parlamento Europeu e a França "teria" de recusar... Percebe onde este exemplo inofensivo (que custa perto de 700 M€/ano ao orçamento europeu) nos leva? Será realista esperar que o Governo Alemão abdique do seu über poder?

Penta xau disse...

Leiam Marx! Dêm uma arma a Ser humano que nao tem nada a perder e o que é que ele faz? A Revolução!!!! (seja ela qual for!) Deram uma arma à Grécia (um governo democraticamente eleito que nao tem nada a perder! - os Gregos ja p+erderam a Dignidade e so têm sido humilhados!!!) o que dá isso? A Revolução, obviamente! Não é por acaso que o capitalismo estupido europeu tem como resposta uma Praça Sintagma (PRAÇA DA CONSTITUIÇÃO) sem barreiras e com milhares de gregos a apoiar o Governo Syriza! onde está o PASOK? onde está a Democracia Cristã? FUGIDOSSSSSSSSSSS

Anónimo disse...

A União Europeia foi um dos maiores barretes que nos enfiaram.Em primeiro lugar,porque não é nenhuma união,em segundo,porque não é europeia essa união.Como pode haver uma união quando há europeus de primeira,segunda e terceira categorias? Como pode ser europeia se a locomotiva deste comboio europeu que todos usamos é a República Federal Alemã,que ainda é considerado um Estado beligerante pela própria carta das Nações Unidas,porque a Alemanha não tem tratado de paz,ela continua a ser subjugada por tratados secretos do Estado americano e do Estado de Israel? A União europeia não é união e nem é europeia.
Quando Portugal mostrar coragem e sair da União Europeia,desmascará-la-á e a União Europeia desmoronar-se-á totalmente.É preciso um dizer: «O Rei vai nu!»

Rainer Daehnhardt in "Portugal Cristianíssimo" de 2005

Unknown disse...

Para alem da variedade de analises que apaixonadamente se debitam o que retiro é que há mais maezinhas do que seria expectavel, que acham que o seu rebento é o unico que vai a marchar bem na parada. Tanto ministro incompetente ou enganado no eurogrupo ou será antes tanta fé na sra fatima?

Joaquim Tavares de Moura disse...

Caro R.B. NorTor,

Segundo o Jorge Bateira "os tratados da UE estão formatados segundo os princípios do pensamento ordoliberal alemão e do constitucionalismo económico de Hayek" e "a esquerda que quer fazer o PS virar à esquerda" não entende "que as regras de organização da economia da zona euro (o essencial da UE) estão blindadas contra as flutuações do ciclo político". E vai mais longe e escreve: "Quaisquer que sejam as orientações ideológicas dos governos eleitos na UE, as normas reguladoras da economia e da política económica não podem mudar."
O que Jorge Bateira escreve é que o Conselho Europeu, mesmo que venha a ser constituído por uma maioria de primeiro-ministros eleitos por partidos de esquerda que queiram mudar a política económica não podem. E não podem porque os tratados (Lisboa e Tratado Orçamental) não o permitem. Ele avança de seguida com uma justificação algo confusa e cuja racional eu confesso que não entendo.
O que eu contesto é o tom sentencioso do post e ter como premissas coisas que eu não vejo nos tratados. Sobretudo aquele que é a base "constitucional" da actual UE, que é o tratado de Lisboa. Presumo que só exista uma versão e aquela que está no sire oficial de UE diz isto no seu artigo 3º : "A União empenha-se no desenvolvimento sustentável da Europa, assente num crescimento
económico equilibrado e na estabilidade dos preços, numa economia social de mercado altamente
competitiva que tenha como meta o pleno emprego e o progresso social, e num elevado nível de protecção e de melhoramento da qualidade do ambiente. A União fomenta o progresso científico e tecnológico.
A União combate a exclusão social e as discriminações e promove a justiça e a protecção sociais, a igualdade entre homens e mulheres, a solidariedade entre as gerações e a protecção dos direitos das crianças.
A União promove a coesão económica, social e territorial, e a solidariedade entre os Estados-
-Membros."
Leu bem. Mesmo assim Jorge Bateira consegue ver nisto: "os princípios do pensamento ordoliberal alemão e do constitucionalismo económico de Hayek".
Argumentar que não é realista pensar que o governo alemão abdique da sua hegemonia. Eu digo-lhe que é realista por duas razões: Primeiro, o governo alemão não é eterno, nem é monolítico (ainda que pareça); Segundo, as cricunstâncias mudam e estão a mudar muito. Se tem dúvidas espere pelo fim do ano.

Jose disse...

A Dignidade dos gregos perdeu-se não com a troika mas com o modelo que construíram em mais de 15 anos de bandalheira administrativa e social já como membros da UE.
Se isso não os humilha, não vejo que mereça qualquer crédito o declararem-se humilhados por não lhe alimentarem o sistema.

Anónimo disse...

Gostei de ler o texto de Jorge Bateira.
E apreciar com o devido sentido humorística o frenesim incomodado e cúmplice de algumas almas perante esta frase lapidar:
""os princípios do pensamento ordoliberal alemão e do constitucionalismo económico de Hayek".

De

Anónimo disse...

Os factos são lixados para a narrativa dos germanófilos:

"Com a vitória do Syriza na Grécia uma santa aliança surgiu na U.E. contra o povo grego. E como não podia deixar de ser os que, em Portugal, estão sempre de acordo, submissos, com a sra. Merkel e com Bruxelas, e têm acesso fácil aos media, levantaram-se em uníssono contra um povo que teve a coragem de (ousou) desafiar os burocratas de Bruxelas e de Berlim, que vêm assim o seu poder antidemocrático e mordomias serem postas em causa.
E a santa aliança interna manifestou-se (e estes são apenas alguns exemplos entre as dezenas que se podiam citar) logo pela voz de Passos Coelho que, dando mais uma vez provas do seu primarismo, classificou o programa do Syriza, que visa acudir à tragedia humanitária que atingiu a Grécia e restabelecer a dignidade do povo grego, como um “conto de crianças”. Na SIC, José Gomes Ferreira, o defensor da “austeridade que resulta”, com o seu ar convencido e professoral, previu uma tragédia final para a Grécia e para a U.E. e com isso tentou, mais uma vez, amedrontar e imobilizar os portugueses. No semanário SOL, José
António Saraiva considerou que a experiência grega, condenada ao fracasso, será a “vacina” necessária para todos aqueles que ousam por em causa a politica de empobrecimento
imposta pela U.E. e que afirmam que existe uma alternativa a esta politica de destruição do país. No Expresso, Henrique Monteiro carateriza o programa do Syriza como “um programa para desesperados, irresponsável e deve ser criticado” Na RTP, José Rodrigues Santos, em
comentário de Atenas às eleições gregas, no seu ar brejeiro característico, procurando
denegrir o povo grego, afirmou que os “gregos fazem-se de paralíticos para ter um subsidiozinho”. Outros, embora não se atrevam a exteriorizar, desejam no seu intimo o fracasso da experiencia grega para depois dizer que tinham razão, como possuíssem a
“solução milagrosa” e a alternativa não fosse lutar pela mudança.
É uma verdadeira santa aliança de todos que só se sabem curvar perante os burocratas de Bruxelas e a sra. Merkel, procurando assim obter as suas graças, que se levantou contra os que ousam desafiar Bruxelas. E um dos argumentos mais utilizados nesta
campanha, embora sem se darem ao trabalho de o provar, é que os outros países e, nomeadamente a Alemanha, não têm nem estão dispostos a pagar a fatura grega.
Interessa pois analisar com objetividade e profundidade este argumento, ou seja, se é a Alemanha que financia os outros países, ou se o nível de vida dos alemães é conseguido à custa da transferência de riqueza de outros países para Alemanha. Para isso vamos utilizar dados da própria Comissão Europeia constantes da sua base de dados AMECO

Eugénio Rosa

(De)

Anónimo disse...

"O quadro 1,construído com dados oficiais da Comissão Europeia, mostra de uma forma clara e sintética os resultados para três países - Alemanha, Grécia e Portugal - da criação da União Europeia e, nomeadamente, da Zona do Euro em 2002. Para que os dados do quadro sejam mais claros interessa ter presente o significado dos conceitos que são utilizados nele: (1) PIB, ou seja, o Produto Interno Bruto, corresponde ao valor da riqueza criada em cada país em cada ano pelos que residemnesse país; (2) PNB, ou seja, Produto Nacional Bruto, corresponde à riqueza que os
habitantes de cada país dispõem em cada ano que pode ser maior do que a produzida no país (no caso da transferência de riqueza do exterior ser superior à riqueza produzida no
país em cada ano transferida para o exterior) ou então pode ser menor que a produzida no país (no caso de uma parte da riqueza produzida no país ser transferida para o exterior e não ser compensada pela que recebe do exterior).
E como os próprios dados divulgados pela Comissão Europeia mostram, antes da entrar para a União Europeia, o PIB alemão era superior ao PNB, o que significava que uma parte da riqueza criada na Alemanha era transferida para o exterior beneficiando os
habitantes de outros países. No entanto, após a entrada para a União Europeia, o PNB alemão passou a ser superior ao PIB alemão. Isto significa que a riqueza que os alemães passaram a dispor apos a criação da União Europeia, e nomeadamente da Zona Euro
passou a ser muito superior ao valor da riqueza produzida no próprio país, o que é só possível por meio da transferência da riqueza criada pelos trabalhadores dos outros países para a Alemanha. Na Grécia e em Portugal aconteceu precisamente o contrário.
Mas observem-se os dados do quadro que são extremamente claros.

Aqui:
http://www.odiario.info/b2-img/42015AlemanhaUE.pdf

Eugénio Rosa

(De)

Anónimo disse...

"Comecemos pela Alemanha. Até 2002, o PNB alemão era inferior ao PIBalemão, o quesignificava que uma parcela da riqueza criada na Alemanha ia beneficiar os habitantes de outros países. A partir da criação da Zona Euro em 2002, a situação inverte-se
rapidamente: o PNB alemão passa a ser superior ao PIB alemão, ou seja, superior ao valor da riqueza criada na Alemanha. Isto significa que uma parcela da riqueza criada em outros países é transferida para a Alemanha indo beneficiar os habitantes deste país. Só no período 2003-2015 estima-se que a riqueza criada em outros países que foi transferida para Alemanha, indo beneficiar os seus habitantes, atingiu 677.945 milhões €, ou seja, o correspondente a 3,8 vezes o PIB português.
Na Grécia e em Portugal aconteceu precisamente o contrário como mostram os dados da Comissão Europeia. Na Grécia até 2001, o PNB grego (a riqueza que o país dispunha anualmente) era superior ao PIB (o que era produzido no pais). No entanto, a partir de 2002, com a criação da Zona Euro, começa a verificar-se precisamente o contrário. Uma parcela da riqueza criada na Grécia é transferida para o exterior indo beneficiar os habitantes dos outros países. Em Portugal aconteceu o mesmo mas logo após a entrada para a União Europeia em 1996.
Como revelam os dados da Comissão Europeia constantes do quadro 1, se
consideramos o período que vai desde a criação da Zona do Euro (2002-2015) a riqueza criada na Grécia que foi transferida para o exterior, indo beneficiar os habitantes de outros países, já atinge 48.760 milhões €.

Eugénio Rosa

(De)


Anónimo disse...

"Em Portugal tal situação começou poucos anos depois de entrar para a União Europeia.Em 1995, o PNB português, ou seja, a riqueza que o país dispôs nesse ano ainda era
superior ao PIB, ou seja, à riqueza criada nesse ano em Portugal, em 353 milhões €. A partir de 1996, o PIB passou a ser superior ao PNB, ou seja, uma parte crescente da riqueza criada em Portugal começou a ser transferida para o exterior indo beneficiar os habitantes de outros países. No período 1996-2015, o valor do PIB deste período (20 anos) é superior ao valor do PNB deste período em 70.751 milhões €. Tal é o montante
de riqueza liquida criada em Portugal que foi transferida para o exterior indo beneficiar os
habitantes de outros países, incluindo os da Alemanha. E como mostram também os
dados do quadro 1, após a entrada de Portugal na Zona Euro em 2002, a transferência
da riqueza criada em Portugal para outros países aumentou ainda mais (só no período da
“troika” e do governo PSD/CDS a transferência liquida de riqueza para o exterior que foi
beneficiar os habitantes de outros países atingiu 20.807 milhões €).
Afirmar como fazem os defensores em Portugal da sra. Merkel e dos burocratas de Bruxelas que é a Alemanha que financia tudo, é não compreender os mecanismos atuais
de funcionamento da economia mundial e da economia da U.E.; é, no fundo, mostrar grande ignorância; é mentir. Em estudos futuros procuraremos mostrar como a transferência de riqueza se faz, e fundamentalmente como a Alemanha espolia os outros
países, nomeadamente os mais fracos como sucede com Portugal e a Grécia

Eugenio Rosa

(De)

Anónimo disse...

Ao comentador das quatro mensagens entre as 23:12 e as 1:32.

Ou se tem alguma coisa de original ou de autoria própria a dizer, e aí compreende-se que o tamanho seja o que for, ou se destaca uma frase, um parágrafo, um pequeno (repito: pequeno) excerto, que vale por si próprio ou é enquadrado no comentário, ou então, como parece ser o caso, nesta e noutras ocasiões anteriores, se a intenção é meramente reproduzir, presume-se que para dar a conhecer, um longo texto, disponível on-line, mais vale deixar o link ou a respetiva referência.

Assim é contraproducente, desmotiva, não se lê (eu, por exemplo, não li) e, sem ajuizar dos conteúdos, polui a trilha de comentários.

Se recomenda o texto, deixe o link.

Ajuda o blog, o autor para que quer chamar atenção e os leitores.

Chapar testamentos destes não adianta, só ajuda a enterrar os textos.

Argala disse...


Onde é que anda a esquerda europeísta?!

Anos e anos a fio a ouvir os mais variados insultos. "Nacionalistas, chauvinistas!!" gritava o Chico Louçã (adiante 'a louca'):

"Um frémito de entusiasmo perpassou por isso pelas fileiras nacionalistas. Pois se até em Belém! Se até a finança! Se até Cavaco Silva! O que tem de ser tem muita força! Os nacionalistas sentem chegada a sua hora: de Sua Majestade D. Duarte Nuno aos maoístas e ao novo partido que os imita, soam as trombetas – vamos à rua, que agora é lutar pelo essencial, salvar a Pátria, sair do euro e da União Europeia, ressuscitar o escudo, reconstruir a economia, convocar os bons espíritos." Dizia a mesma louca social-democrata que assinou a parvoíce do manifesto dos 70.

E agora chegados aqui, porque só podíamos chegar aqui, a realidade bate-lhes no focinho e afinal é mesmo necessário sair do euro para alterar as relações sociais e aplicar um outro programa político - que era o que sempre reivindicaram aqueles que a louca social-democrata insultou. Não era apenas sair do euro. Era sair, destruir o projecto global da UE, não pagar nenhuma dívida, nacionalizar a banca, reverter toda a privataria. "Reformar a UE por dentro" era obviamente uma gargalhada para consumo interno, mas para a louca ia vender junto do gado eleiçoeiro. A UE é um projecto do capital e não dos trabalhadores. E agora acabaram as meias tintas, cada um escolhe o seu lado da barricada.

Essa história de puxar o PS para a esquerda já vem do Cunhal, com os resultados que sabemos. A "esquerda grande" não era inovação nenhuma da louca.. era a merda cunhalista das pombas de abril com 30 anos de atraso. Esta "esquerda" freak-pop-chula social-democratóide é que não aprende nada. Crítica os partidos tradicionais por aquilo que está correto, e delas repete o que está errado.

Anónimo disse...

Pois as desmotivações são assim
Dão para desistir.

Mas o link está lá...até para deixar de ser álibi...certo?

De

Anónimo disse...

Quanto á louca referida pelo argala e as suas ambiçóes reformistas...
trampa por trampa já vimos trampa maior.Habitualmente vai parar ao sofá do heduíno.

Ou à tentativa de desculpabilização do cavaco impregnado com o perfume dos nacionalistas mais uns tantos para compor o ramalhete

É como o homem de mão dos americanos.Parece que escolheu o lado da barricada...dos ianques

De


R.B. NorTør disse...

Caro Joaquim

Esperemos que ainda o apanhe a ver comentários neste post...

O que ofereci é a minha leitura do que o Jorge colocou. Da mesma forma que não creio que o Jorge considere que os tratados estão enviesados para uma só forma de ver a Economia com base num só artigo, de um só Tratado.

Quanto ao esperar pelo fim do ano, sim estou ansioso pelos próximos meses porque, como se costuma dizer "vivemos tempos interessantes". Genuinamente espero que tenha razão quando afirma que o Governo Alemão é capaz de ceder. Não tenho essa esperança, mas é um daqueles casos em que espero não ter razão... Porque o Governo Alemão é o retrato da sociedade alemã. Enquanto esta não mudar a sua forma de ser, os Governos não poderão ver o mundo de forma distinta.

Cá estaremos portanto daqui a uns meses para ver o que sucedeu. ;)