terça-feira, 26 de abril de 2011

É o capitalismo...

Só uma estratégia comercial oportunista e talvez algum preconceito ideológico podem explicar que o título do livro de Ha-Joon Chang, um dos economistas de referência deste blogue, tenha passado de 23 Things They Never Told You About Capitalism para 23 Coisas que Nunca lhe Contam Sobre a Economia na edição portuguesa. Ao contrario do que se passa por esse mundo fora, em Portugal parece que não é de bom tom falar de capitalismo. A sabedoria convencional prefere “economia de mercado”. A sabedoria convencional é pouco rigorosa. Economias com mercados há muitas – pré-capitalistas, capitalistas e pós-capitalistas. Não vi a edição portuguesa, nem conto fazê-lo, mas este último trabalho de Chang vale bem a pena. Com grande clareza, Chang divulga as suas principais reflexões sobre as instituições fundamentais do capitalismo, a sua plasticidade e variabilidade e os seus resultados comparativos, indicando como o neoliberalismo, a ideologia de um certo capitalismo, fracassou ao gerar uma combinação tóxica de crises regulares e de desigualdades galopantes.

16 comentários:

Luís Gaspar disse...

Bom, primeiro de tudo é surpreendente que a versão portuguesa saia antes da versão paperback original, que aguarda pacientemente na minha wishlist da amazon. Realmente "é o capitalismo, estúpido", e isso é bem espelhado na mudança de título: vende mais assim, talvez. Aconselho também o podcast da excelente conversa que ele teve com os alunos da lse: http://www.youtube.com/watch?v=56RndDFRnH4

Wegie disse...

Oh Johnny poderias explicar melhor esse rebéubéu de economias pre-capitalistas (modo de produção feutal?asiático? proto-capitalismo?) e pos-capitalistas (algum episodio da série Star trek que me escapou?)?

E também desde quando é que deixaram de existir ciclos(de Juglar) se é que algum dia existiram (Kondratieff). Enfim o rebéubéu é útil para impressionar as estudantas mas não exageremos. Mais do que isso é uma salgalhada.

Pareces o Frederico Laranjo no século XIX.

Nuno disse...

mais outro livro sobre a crise financeira...decididamente,tornou-se moda na literatura económica!

Alexandre Abreu disse...

Vou meter excepcionalmente a foice em seara alheia para comentar:
@ Luis Gaspar: obrigado pela excelente sugestão;
@ Wegie: procure aprender mais qualquer coisa antes de mandar tantas bojardas, particularmente nesse tom que tem mais de insultuoso (o que é mau) do que de satírico (o que até poderia ser bom). Experimente ler Braudel, ou Wallerstein, ou Arrighi, ou a Ellen Meiksins Wood. Imagino que Marx cause demasiada alergia, por isso não lhe sugiro esse economista alemão. Mas basicamente, mercados há muitos e desde há milénios; o capitalismo tem uns 500 anos. O que define o capitalismo não é a existência de mercadorias, mas sim a centralidade social da mercadoria "força de trabalho".
@ Nuno: é verdade o que diz, mas não se aplicará a este caso, pois o tema deste livro não é a actual crise financeira.
Cumprimentos,
Alexandre

Dias disse...

“O capitalismo nunca existiu, só na cabeça de perigosos marxistas“

O ideal para os “editores das nossas vidas” seria que os cidadãos deste país metessem de vez a cabeça na areia (por este andar, e com uns pozinhos de perlimpim, ainda acabaremos por revisitar Salazar).

Anónimo disse...

Excelente livro, sem dúvida. Pena o branqueamento no título, retira sentido e interesse. Desmontar algumas falácias produzidas por um certo capitalismo como forma de se perpetuar é um exercício deveras útil. Chang assume-se como capitalista, apenas em moldes diversos, e mostra como este capitalismo que temos está condenado.

rui tavares disse...

é a "censura doce"... mas não deixa de ser um grande livro, espero que muita gente o compre em portugal.

luís gaspar, a versão paperback já saiu, ainda a semana passada a comprei numa livraria de aeroporto. e acho que já a tinha visto há pelo menos um mês.

Luis Gaspar disse...

Caro Rui, provavelmente trata-se de um problema com a amazon.co.uk [ http://www.amazon.co.uk/s/ref=nb_sb_noss?url=search-alias%3Dstripbooks&field-keywords=23+Things+They+Don%27t+Tell+You+About+Capitalism&x=0&y=0 ], que diz que ainda não saiu a versão 2011, e não apresenta edições paperback anteriores.

Wegie disse...

Oh Xandre! O melhor que tens para exibir nos últimos 50 anos são os trogloditas da New Left Review? Deus te perdoe!

Alexandre Abreu disse...

Agora teve mais piada. Continua é a não ter razão...

Jockey Full Of Bourbon disse...

Um belo livro! Muito bem escrito e lúcido. Sem qualquer tipo de preconceito. Aconselho vivamente a leitura. Não sei qual é o preço da edição traduzida, mas a que eu comprei era cara para um livro não traduzido. De qq modo, valeu muito a pena.

Anónimo disse...

já comprei a edição portuguesa,ainda só dei uma vista de olhos,mas pelo que li muito interesante.Agora também vou encomendar o livro de Giovanni Arrighi "The long Twentieth Century"
Nuno

Luís Gaspar disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luis Gaspar disse...

Anónimo, ler Arrighi não é o mesmo que ler HJ Chang. É para heróis, e heróis bem armados, com os conceitos todos bem arrumadinhos em prateleiras e prontos a meter na arma.

Anónimo disse...

o que têm os conceitos de Arrighi assim tão de especial para serem lidos apenas por "heróis"?
Nuno

Anónimo disse...

Já li o longo século XX do Arrighi e francamente achei uma porcaria. A base histórica é muito fraca: a descrição que ele faz do "capitalismo" Veneziano (norte-italiano em geral) é simplista, ignora o papel tão ou mais importante à época desempenhado pelos mercados a norte, da Flandres, Alemanha e Báltico. A descrição da ascenção e queda da Holanda é patética pelos atropelos históricos que comete. Já do império britânico não comento, está fora da minha área.

Sistemas mundias? Tretas. A história evolui mais em resultado de contingências do que de qualquer plano ou sistema racionalizável. Marx fez uma grande análise do capitalismo do século XIX, ainda válida em muitos pontos, mas meteu a pata na argola quando avançou (também ele, essa idiotice não é exclusivo dos neoliberais!) com uma idéia de uma narrativa e um fim para a história.