sexta-feira, 20 de março de 2009

Os meninos de Ouro



Este anúncio está a ser exibido na Televisão Pública portuguesa. Todos os partidos já se manifestaram contra este atentado, menos um: o Partido Socialista. É de facto, um sinal dos tempos que o próprio PSD se bata pela protecção de um direito democrático fundamental, contra a cumplicidade de um Partido que continua a dizer-se de esquerda.

A Eduarda que ouvimos no anúncio é a mesma "jornalista" que escreveu o livro "Sócrates: O menino de Ouro do PS". Sem dúvida, o início de uma carreira promissora. O PS diz que não se pronuncia sobre assuntos editoriais da RTP ou da Antena 1. Um cinismo de cortar à faca. No entanto, a Televisão Pública responde perante o Estado pelo cumprimento de critérios mínimos de decência e respeito por liberdades e direitos fundamentais, nos quais se incluem (espero) aqueles que são consagrados pela Constituição da República Portuguesa. É por isso que uma mensagem racista seria (espero) impensável na Televisão Pública (ou na privada). Por isso, o silêncio do PS e do Governo é, obviamente, um apoio e uma responsabilidade por omissão.

É impossível não reparar que este anúncio surge no preciso momento em que José Sócrates se atira aos sindicatos que têm conduzido a contestação à sua política. Talvez tudo isto ajude a dar uma ideia do sindicalismo que José Sócrates gostaria de ter em Portugal. Um que não prejudique o trânsito, muito particularmente o livre trânsito da sua própria propaganda nos meios de comunicação social públicos, que deveriam ser de todos: Os que andam de carro e os que têm direito a manifestar-se, que são, como é evidente, as mesmas pessoas.

Acabo de receber a resposta do Provedor do Ouvinte da Antena 1 ao que presumo ter sido uma chuva de queixas, informando do seu próprio parecer e da decisão do Conselho de Administração da RTP, no sentido da retirada do anúncio. Pelos vistos, ainda há vergonha...

38 comentários:

L. Rodrigues disse...

Se ele quisesse cehgar a horas, talvez devesse:
1) levantar-se mais cedo.
2) usar transportes públicos.

Miguel Fabiana disse...

José Guilherme,

'Tou contigo, mas olha que o Socras não meteu um dedo neste anúncio, nem tem que meter!

A Eduarda Maio que fique entregue à sua consciência e beba uns bons litros de água das pedras, para a azia não lhe tirar (também) o sono!

Mas este anúncio expressa o que o mainstream pensa sobre os Sindicatos e sobre a Liberdade de manifestação dos Trabalhadores; provavelmente os Sindicatos deviam afastar-se graciosamente da esfera política partidária, para conseguir ganhar alguma credibilidade e não terem que levar com estas graçolas de mau gosto... logo vindas de uma "Jornalista" !!!

Não gosto de chamar de mentiroso/a a ninguém, mas a Zita Seabra conta no livro dela que o secretário geral da CGTP ia a reuniões do PCP e era mantido "escondido", nessas reuniões, de forma a que não fosse visto pelos outros presentes nessas reuniões! Talvez uma maior independência da CGTP e da UGT dos "respectivos" partidos políticos ajudasse a evitar estas alarvidades que agora passam na Antena 1 !

O que é que achas? que o Socras devia intervir, directa ou indirectamente e mandar retirar o anúncio?...ou devia-se responsabilizar a gestão da Antena 1 pelo anúncio boçal e alarve?

Abraço,
Miguel

Miguel Fabiana disse...

PS: Azia também foi identificada como uma das causas de asma e tosse crônica.

Miguel Fabiana disse...

PS2: A azia é apenas um sintoma » Dispepsia, uma doença da má digestão.

Dores de estômago, desconforto, náuseas e enfartamento são sintomas comuns a grande parte da população portuguesa. Se é frequente ter estas queixas, provavelmente sofre de dispepsia. «A dispepsia é muito frequente na população ocidental. Nalguns estudos mostra-se que é a principal queixa que leva as pessoas ao médico», afirma o Dr. Miguel Raimundo, gastrenterologista no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

Nuno disse...

O PS deveria afirmar para esta ocasião que não seriam toleradas limitações á liberdade de expressão.

No entanto, seria contraditório e lançaria um precedente prejudicial afirmar esta mesma liberdade e depois procurar condicionar conteúdos televisivos.

Felizmente trata-se apenas de um anúncio imbecil realizado por saudosistas de outros tempos em que não existiam estes "chatos manifestantes" e não um apelo á destruição de valores democráticos fundamentais (espero).

José Guilherme Gusmão disse...

1. O PS, enquanto partido político, pode perfeitamente pronunciar-se criticamente em relação ao conteúdo do anúncio, coisa que não fez.

2. O PS, enquanto governo e tutela da televisão pública pode, e está obrigado a impôr aos meios de comunicação social públicos padrões de serviço público que estão, de resto, consagrados na lei 32/2003. Para isso, ver http://www.icp.pt/template20.jsp?categoryId=2566&contentId=122135

Miguel Fabiana disse...

1. O PS, enquanto partido político, devia pronunciar-se criticamente em relação ao conteúdo do anúncio.
...estou contigo!

2. O PS, enquanto partido político, não é O Governo nem tem a tutela da televisão pública.
...aqui estamos divergentes!

A televisão e a rádio pública estão obrigados por lei a padrões de serviço público que estão, de resto, consagrados na lei.
...fiz algumas alterações ao teu texto!

Concordas?

Abraço,
Miguel

José Guilherme Gusmão disse...

Miguel,

Não concordo nem é matéria de opinião. O Governo TEM a tutela do meios de comunicação social públicos. Se não fosse assim, quem é que nomeava as suas administrações?

Isto não significa (nem a lei permite) que o Governo faça a programação da televisão ou da Rádio públicas. Mas obriga a que o governo faça cumprir os critérios de programação que constam dessa lei, nos capítulos referentes aos limites e obrigações à programação e no contrato de serviço público de televisão.

Abraço

Anónimo disse...

Miguel

Não percebo..! então os sindicatos não são os portadores da mensagem dos trabalhadores e das suas reivindicações!?!

então não há partidos politicos, cuja coluna vertebral é a defesa dos trabalhadores?!?! e não há outros partidos que têm "sindicalistas" a defender o contrário?!?!

então não está mais que provado que o enfraquecimento dos sindicatos (eua), também, levou a esta crise, pois permitiu a alarvice das empresas (poderosas...) ?!?

em relação às últimas perguntas, penso que a 2ª hipótese é que tem de ser resolvida (vidé o blogue Tempo das Cerejas!!)

em relação a zita seabra, sem comentários...

Abraço fraternal

Miguel Fabiana disse...

O Governo TEM a tutela do meios de comunicação social públicos - Claro! de facto e de juris !
...concordamos!

Isto não significa (nem a lei permite) que o Governo faça a programação da televisão ou da Rádio públicas.
... Alguém nos livre ou façamos TUDO o que for possível para nos livrarmos de haver governos a fazer a programação da televisão ou da Rádio públicas!

"...obriga a que o governo faça cumprir os critérios de programação que constam dessa lei, nos capítulos referentes aos limites e obrigações à programação e no contrato de serviço público de televisão..."
...aqui caímos de facto e de juris em matéria de opinião, Caro José Guilherme! Passo a explicar:
1) Eu apenas formulei que o PS, enquanto partido político, não é O Governo nem tem a tutela da televisão pública, porque tu tinhas escrito "O PS, enquanto governo e tutela da televisão pública pode, e está obrigado a impôr aos meios de comunicação social públicos padrões de serviço público".
2) O anúncio é alarve e mesmo que seja imbecil na mensagem que passe em jeito de piada de mau gosto, devemos manter-nos vigilantes e não deixar que se transforme em vox populi este tipo de alarvidades ultramontanas e provincianas de que quem se manifesta não deixa os outros "trabalharem".
3) Achas que o governo devia intervir neste anúncio ou devíamos manter a coisa como responsabilidade dos autores e de quem o passa (TV pública ou privada)? Sendo assim, começavam nos anúncios alarves contra os Sindicatos e acabavam ....ONDE? Olha que este anúncio não é uma singularidade, nem um acaso!!!
4) Proponho que excluindo a parte em que o PS já devia ter-se pronunciado contra o anúncio, o PS não tem nada a ver com esta cegada da Antena 1 e com o deslize da RTP.

Concordas?

Abraço,
Miguel

Miguel Fabiana disse...

Maria Povo,

Os Sindicatos são os portadores mais fortes e mais poderosos da mensagem dos trabalhadores e das suas legítimas reivindicações!

Há partidos politicos, cuja coluna vertebral não é a defesa dos trabalhadores! Não só mas também...

O enfraquecimento dos sindicatos esteve também na origem desta "crise" !

Sobre a Zita, respeito muito o passado anti-fascista dela, mas ela não é culpada de nada! Responsabilizou-se pelas opções que fez, numa dada altura da sua vida e neste momento não deve nada a ninguém! Não acredito em noites de facas longas, nem em queima de livros, nem na queima de bruxas...isso são coisas do passado selvagem e bárbaro!

Abraço Solidário Camarada Maria Povo,
Miguel

Miguel Fabiana disse...

Provedor do Ouvinte da Antena 1 ao que presumo ter sido uma chuva de queixas, informando do seu próprio parecer e da decisão do Conselho de Administração da Antena 1, no sentido da retirada do anúncio. Pelos vistos, ainda há vergonha...

Há vergonha e nem é preciso "culpar" o PS nem o Governo: "decisão do Conselho de Administração da Antena 1, no sentido da retirada do anúncio"...era o que eu defendia... se gristarmos muitas vezes "olha o Lobo" depois....quando vier o Lobo... afinal bastou uma decisão do Conselho de Administração da Antena 1 !


Abraço e obrigado!
Miguel

PS: O meu Obrigado é sincero e dirigido a ti, Camarada José Guilherme.

Anónimo disse...

Estes gajos andam todos, com essa merda da independência dos sindicatos e não sei que mais...somos todos anjinhos e ingénuos para acreditar nessa merda. deixem se de merdas, a independência não existe! O que existe são interesses económicos e estes mexem com questões politicas e de poder: o resto é conversa para amansar boi.

Miguel Fabiana disse...

...é o que dá exagerar na cerveja ao lanche !!!

Luisa Vasconcelos disse...

Caro Zé,

Excelente notícia a da retirada do anuncio.
Haja decência!
Mas a conivência do PS, com o seu silêncio, deve ser sublinhada, sobretudo tendo em conta que a direcção do PS/Sócrates têm atacado fortemente a comunicação social por notícias que não lhes convém...
Há limites para o cinismo e a duplicidade de critérios.
André Freire

Anónimo disse...

Honestamente,

Tanto burburinho por causa de um anuncio?

Fui mesmo apanhado de supresa, já vi e revi o anuncio e não vejo porque é que existe tanta revolta.

É um exagero por nada de substancial. Aquilo é um spot publicitário, neste caso um mau spot publicitário, mas mais nada do que isso!

Zé e já agora Miguel"

"1. O PS, enquanto partido político, pode perfeitamente pronunciar-se criticamente em relação ao conteúdo do anúncio, coisa que não fez."

Poder pode, no entanto não existe qualquer interesse nisso.

"2. O PS, enquanto governo e tutela da televisão pública pode, e está obrigado a impôr aos meios de comunicação social públicos padrões de serviço público que estão, de resto, consagrados na lei 32/2003."

Nada aconteceu que afecte essa lei pelo que o governo NÃO TEM de interferir neste caso. Aliás se o fizesse é que estaria a cometer um grande erro!

Raios às vezes penso que Portugal deve ser o melhor país do mundo, para se gastar tempo a discutir estas picuices!!!

STRAN

Anónimo disse...

"Honestamente,

Tanto burburinho por causa de um anuncio?

Fui mesmo apanhado de supresa, já vi e revi o anuncio e não vejo porque é que existe tanta revolta.

É um exagero por nada de substancial. Aquilo é um spot publicitário, neste caso um mau spot publicitário, mas mais nada do que isso!"

Ahhh !!! É tão subtil o sistema de controlo que até por vezes nem damos por ele.

Lembrem-se disto:

"As pessoas exigem liberdade de expressão em vez de liberdade de pensamento a qual pouco usam"

Falta-me o nome do autor ... ajudem-me !

José Magalhães disse...

“People demand freedom of speech as a compensation for the freedom of thought which they seldom use.”

Soren Kierkegaard

Anónimo disse...

É a mesma reacção dos mullahs e os cartoons do profeta
Censura pura e dura

Anónimo disse...

Croky,

"É tão subtil o sistema de controlo que até por vezes nem damos por ele."

Que sistema de controlo?

Anónimo disse...

"Que sistema de controlo?"

Nunca ouviste dizer que nunca ninguém viu uma bruxa mas que as há, há ?

Noutro tom. Será que os anúncios televisivos não são feitos para persuadir o consumidor ?

A persuasão é, inerentemente, um sistema de controlo meu caro.

Anónimo disse...

Caro Croky,

Dito de uma forma mais moderna: de minimização de risco.

Mas já que estamos a falar na relação de consumo: qual é o produto com que queriam persuadir o consumidor?

Anónimo disse...

Caro Stran,

Será um produto ideológico. Neste caso é uma prenda anti-sindical embrulhada como engarrafamento a caminho do trabalho.

Anónimo disse...

Adorno quando se referia às "massas" (inteligência colectiva) e à "indústria cultural" afirmava que esta impedia «a formação de indivíduos autónomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente». Este é realmente um bom exemplo da manipulação da "Indústria Cultural" em pleno sec. XXI.

AnaP

Anónimo disse...

"Será um produto ideológico. Neste caso é uma prenda anti-sindical embrulhada como engarrafamento a caminho do trabalho."

E você foi persuadido? conhece alguem que foi persuadido?

P.S. - olhe e eu que pensava que era um spot publicitário à Antena1...

Anónimo disse...

"E você foi persuadido? conhece alguem que foi persuadido?"

Eu tento não o ser, mas conheço alguma gente que já foi.

Repare que isto é um processo contínuo, subtil e que "trabalha" o subconsciente da população. Vários conceitos já nos foram enfiados pela goela a baixo nas últimas décadas. Uma das maiores farsas é a falsa noção de liberdade, individualista e materialista:

"Consumam meus caros, consumam e não deixem que ninguém vos tire essa liberdade"

De uma certa forma define o Ser Humano no ponto actual da História. Mas é sempre bom saber que ainda existem indivíduos que acham que o Homem não pode, não deve, ser reduzido a este conceito. Que somos capazes de mais e de melhor. Que a liberdade individual só faz sentido num planeta sustentável e numa sociedade justa e solidária entre todos.

Neste caso, quem persuade tenta dividir. Tenta criar uma ideia de sociedade completamente individualista, onde as exigências sociais parecem ter menos valor que as individuais.

Anónimo disse...

"P.S. - olhe e eu que pensava que era um spot publicitário à Antena1..."

Pois, é o que toda a gente pensa até alguém se dar conta de que não é só isso ...

Logo à primeira vez que vi o spot comentei com a minha mulher aquilo que, mais tarde, veio ser a matéria que gerou a polémica que vemos agora.

Epá não me quero fazer de muito esperto ou um gajo que esotericamente sente as coisas. Não é nada disso. Só acho que existem pessoas que estão mais abertas à persuasão do que outras. Muitas nem sequer questionam que exista algum tipo de controlo praticado através da comunicação social.

Anónimo disse...

Caro Croky,

"...mas conheço alguma gente que já foi."

Dá para concretizar (nota: não quero saber quem foi, mas como foi e como chegas à conclusão de que foi)?

"Uma das maiores farsas é a falsa noção de liberdade, individualista e materialista:

"Consumam meus caros, consumam e não deixem que ninguém vos tire essa liberdade"

De uma certa forma define o Ser Humano no ponto actual da História."

Eu não sei que tipo de pessoas tu tens à tua volta, mas as pessoas que eu conheço são bem mais interessantes do que o que tu descreves.

Além de que eu não quero que ninguém me tire a minha liberdade individual, mesmo que seja para cometer alguns erros. Eu não sou mentecapto e não julgo que ninguém é mais capaz do que eu para fazer um escolha por mim.
E tu?

"Que a liberdade individual só faz sentido num planeta sustentável e numa sociedade justa e solidária entre todos."

Aqui discordamos totalmente numa pequena e unica palavra: "só". A liberdade individual vale per si e não é um conceito condicionado para além da liberdade do próximo. O que tu acabas de afirmar pode ser uma jutificação para uma ditadura!

"Neste caso, quem persuade tenta dividir. Tenta criar uma ideia de sociedade completamente individualista, onde as exigências sociais parecem ter menos valor que as individuais."

Uma visão um pouco "conspirativa" da realidade, não achas? Embora eu julgue que em Portugal existe muito individualismo (que se transmite até nos grupos que são como um todo muito "individualistas"), não faz parte de uma campanha "maligna" contra outros valores. Infelizmente é como somos, e atribuir as culpas a uma "campanha" é tapar o sol com uma peneira e nunca irá realmente mdificar esse facto! Apenas o esconde e acaba dessa forma por o agravar.

"Epá não me quero fazer de muito esperto ou um gajo que esotericamente sente as coisas. Não é nada disso. Só acho que existem pessoas que estão mais abertas à persuasão do que outras."

Sim e normalmente é quem acredita nisso. É como o hipnotismo, não consegues hipnotisar quem nã acredita nisso, mas quem acredita...

Aquilo foi um mais um reflexo das pessoas do que uma maneira de alterar a mente das pessoas!

Miguel Fabiana disse...

Caros,

um excerto para reflexão:

"SUBJETIVIDADE E COISIFICAÇÃO: UM ESTUDO INTRODUTÓRIO" por Luciene Maria Bastos, Mestre em Educação pela Universidade Federal de Goiás. Professora de disciplinas do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Goiás de Campos Belos.
http://www.fe.unb.br/linhascriticas/n25/Subjetividade_e.html

"O caráter fetichista do mundo das mercadorias provém do caráter social peculiar do trabalho que produz mercadorias. Em outros termos, é inerente às condições do trabalho sob o capitalismo. O caráter fetichista presente nas mercadorias transforma as relações estabelecidas entre os homens em relações entre “coisas” que assumem uma existência independente. Nesse processo, os homens se coisificam em relações reificadas à medida que as coisas (mercadorias) parecem adquirir vida nas relações sociais.

As relações humanas se perdem e passam a ser mediadas pelas leis do mercado. O que existe é a relação entre mercadorias, coisas. O fetiche e a coisificação atingem o indivíduo para além da objetividade, pois atuam em sua subjetividade. Alienado de sua consciência, coisificado, o indivíduo fica impossibilitado de perceber a lógica do mercado que vela a realidade de sua produção."

Abraço,
Miguel

Miguel Fabiana disse...

...e da mesma autora e sobre o mesmo artigo, em:

"Considerações finais

O desenvolvimento histórico do homem na modernidade lhe imputa um processo de alheamento de si e do outro. O que implica a intensificação de sua inserção no mundo do capital e da mercadoria. Com o desenvolvimento da ciência, a técnica passa a exercer absoluto poder sobre a sociedade.

Tal processo se acirra com o Iluminismo e sua promessa de vida melhor e de felicidade mediada pelo progresso científico. Paradoxalmente, o que deveria trazer libertação resulta em dominação, dependência e inconsciência. O objetivo era acabar com o mito, mas a ele retorna, isto é, o que deveria ser desmistificação converte-se em nova mistificação.

A indústria cultural insufla-lhe idéias e valores que são aceitos sem objeção, sem análise e sem serem confrontados com os reais interesses do homem enquanto ser genérico. O homem se reduz ao indivíduo burguês, extremamente identificado com as mercadorias, com o consumo. Este não percebe que vive uma realidade produzida e reafirmada como “o progresso da vida humana”, mas se resume a um grande mercado, cujas características e dimensões morais, éticas, políticas não existem; a existência é subordinada aos interesses do capital."

Anónimo disse...

Um pensamento meu:

"...mas se resume a um grande mercado, cujas características e dimensões morais, éticas, políticas não existem; a existência é subordinada aos interesses do capital.""

Mas será que existe essa dimensão etica, moral, politica no ser humano e nas suas relações em sociedade? Se sim, qual e onde? Se não, então não deveria ser esse o foco de analise e mudança?

STRAN

Miguel Fabiana disse...

Camarada Stran,

Dizia Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa):

O Universo não é uma ideia minha.
A minha idéia do Universo é que é uma ideia minha.

A noite não anoitece pelos meus olhos,
A minha idéia da noite é que anoitece por meus olhos.
Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos
A noite anoitece concretamente
E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso.

Mas o Alberto Caeiro "é" um Pastor ou "Guardador de Rebanhos"...!

Eu diria que :
O Universo não é uma ideia TUA.
A TUA idéia do Universo é que é uma ideia TUA.

...e acrescentaria que:
O Universo não precisa de mim e de TI para continuar a existir, tal como ele é, ie, as propriedades do Universo mantêm-se inalteradas e imutáveis, apesar das ideias que eu e TU fazemos/construímos sobre o Universo!

"o foco de analise e mudança" não é sobre a ideia que define/explica o Universo, mas sobre a forma como o tornamos mais "habitável" para TODOS e não só para alguns iluminados ...por falar em iluminação... assistimos ao "fundir" do neoliberalismo em que este quase "fundiu" tudo o que havia para "fundir"...graças a uns quantos iluminados neoclássicos armados aos cucus, ie com ideias pretensamente científicas de uma dada "dimensão etica, moral, politica no ser humano e nas suas relações em sociedade"...quase que "fundiam" a cena SOCIAL TODA!!!

Eu diria que a Economia em particular e as Ciências Sociais em geral, precisam urgentemente de acabar com a "Coisificação" do Homem, porque segundo a autora em cima "...Paradoxalmente, o que deveria trazer libertação resulta em dominação, dependência e inconsciência. O objetivo era acabar com o mito, mas a ele retorna, isto é, o que deveria ser desmistificação converte-se em nova mistificação...."

Relembro que "O objectivo era acabar com o mito" !!!

Acrescento relembrando também que estamos na Era DD (Depois de Damásio, António) e a Era AD (Antes de Damásio, António) já era !!!...Acabou!!!

Não me "fundas", PAH!!!...ás vezes fico a pensar que escreves só para lançar o caos nos comentários!!!

Tout façon, fica com um abraço,
Miguel

Anónimo disse...

Oi Miguel,

Começo pelo fim: Não te quero "fundir" em nada ;)

Mas tu "fundes-me" profundamente por não "coisificar" a conversa de forma clara e acertiva...

Terminar o processo de coisificação é basicamente eliminar todas as ciências sociais, cujo objectivo principal é mesmo coisificar!

Concordo contigo que os neoliberais "fundiram" isto tudo, no entanto não existe uma descoisificação mas sim passar de um tipo de coisificação para outra coisificação, sendo certo que "o que deveria trazer libertação resulta em dominação, dependência e inconsciência. O objetivo era acabar com o mito, mas a ele retorna, isto é, o que deveria ser desmistificação converte-se em nova mistificação...."

Será que não nos estamos a "fundir" outra vez?

"Acrescento relembrando também que estamos na Era DD (Depois de Damásio, António) e a Era AD (Antes de Damásio, António) já era !!!...Acabou!!!"

Agora é que me fundiste à grande. Não entendo este peso que dás a Damásio. Poder-me-ias explicar?

Um abraço
STRAN

Miguel Fabiana disse...

Camarada Stran,

Não me peças para fazer epistmologia da ciência, porque algures, tenho a certeza, vou fazer uma do género "quem inventou o proletariado foi o K.Marx" !

A Ciência até "O Erro de Descartes" e "O Sentimento de Si" do Prof. António Damásio, descartava tudo o que não estivesse estritamente no plano RACIONAL, quer na abordagem ao Objecto do Conhecimento, quer na especificidade de cada Sujeito do Conhecimento (ou cada perspectiva científica; por exemplo o Homem pode ter uma perspectiva Sociológica, Psicológica, Económica, Médica...you name it...) quer daquilo que era ou é entendido como Conhecimento!

Havia um "desconforto" no processo de construção do Conhecimento que foi "aliviado" pelo Prof. António Damásio (o Karl Marx, justificou a sua ausência do II Congresso da Internacional Socialista: "Não vou porque constatei na I Internacional Socialista que eu era o único que não era Marxista!" - receio que o Prof. António Damásio um dia diga que não fez nada "disto"...).

Passo citar uma entrevista da TSF, para não ofender o próprio nem quem, melhor do que eu, percebe a Obra do Professor Damásio e as suas implicações paradigmáticas na forma de pensar e sobretudo na forma de pensar ciência e construir conhecimento:
"Na sua obra anterior, «O Erro de Descartes», António Damásio escreveu sobre a importância das emoções e dos sentimentos no processo de tomada de decisão - investigação que resultou na eliminação do velho paradigma que opunha a razão à emoção. Agora, propõe uma outra ideia que está a despertar o entusiasmo da comunidade científica: «a consciência começa por ser um sentimento»."

Sobre "O Sentimento de Si", o Prof António Damásio diz: "É um livro sobre a ideia da consciência, sobre a maneira como devemos explicar a consciência, mas que olha tanto para o aspecto mental, para o aspecto psicológico, como para o aspecto neuro-biológico. No fundo, o meu interesse principal é o de começar a apresentar explicações para o modo como a Biologia, e especificamente a Neurobiologia, podem ajudar-nos a compreender o processo da consciência."

Acrescenta: "Aquilo que eu quero vincar é que a consciência é aquilo que nos permite viver e conhecer, não só aquilo que há de mais belo e sublime na condição humana, mas também, infelizmente, aquilo que há de mais triste e trágico. Uma coisa vem com a outra. E, claro, a partir daí, vem também a possibilidade de ter um sentido de responsabilidade em relação a nós próprios e em relação aos outros. É a partir daí que começa todo o exercício da ética, da moral, da lei, que, evidentemente, são essenciais para reger a vida em sociedade em que estamos inseridos."

Por outro lado no livro "O Erro de Descartes", António Damásio defende a hipótese de que as experiências adquiridas ao longo da vida, conforme são classificadas como agradáveis ou desagradáveis, dão origem a uma sinalização de natureza positiva ou negativa, através do mecanismo do marcador somático. Posteriormente, no processo de tomada de decisões, o organismo recorre a este mecanismo para eliminar ou seleccionar hipóteses, de tal forma que apenas um pequeno conjunto de opções é que é, finalmente, objecto de análise "racional".

Desta forma o mecanismo das emoções, em lugar de atrapalhar o processo de "tomada de decisões racionais", revela-se como um poderoso auxiliar desse processo, funcionando como uma espécie de algoritmo ou rotina inconsciente que elimina ou selecciona determinadas opções em função da probabilidade de virem a causar ao indivíduo sensações agradáveis ou desagradáveis.

Depois de ler «O Erro de Descartes», Jonas Salk(American medical researcher and virologist, best known for his discovery and development of the first safe and effective polio vaccine) escreveu: "Nunca mais conseguiremos olhar para nós ou para o outro sem nos interrogarmos sobre o que se passa por detrás dos olhos que assim se encontram."

Descartes acreditava que o corpo era separado da mente. A mente só precisava do corpo para poder funcionar, fora isso, não havia nenhuma conexão entre eles. Mas Damásio acredita justamente o contrário, que corpo e mente estão intimamente conectados: a mente comanda o corpo inteiro, mas são as sensações que o corpo manda para mente que induzem a mente funcionar daquela maneira, contrapondo o dualismo cartesiano no qual a alma (razão pura) é independente do corpo e das emoções.

Fico um bocado desconfortável quando, em Ciências Sociais alguém adopta uma postura Cartesiana, racional e analítica - como podemos facilmente constatar, acabamos sempre na via Moralista ou como alguém dizia "Para cada problema complexo, há uma solução que é simples, elegante e sempre errada".

Uma postura Cartesiana, racional e analítica coisifica o Homem, ou como diz Luciene Maria Bastos "As relações humanas se perdem e passam a ser mediadas pelas leis do mercado. O que existe é a relação entre mercadorias, coisas...", acrescentando que "Para Horkheimer e Adorno (1985) ... A racionalidade, que deveria se afastar do mito, é encantada pelo fetiche e ao mito retorna.".

"Fetiche" como explica Luciene Maria Bastos "O caráter fetichista presente nas mercadorias transforma as relações estabelecidas entre os homens em relações entre “coisas” que assumem uma existência independente"

Mas em vez de afundar-mos este blog em textos infindáveis, proponho uma leitura crítica da obra do Prof Manuel Damásio. Se houver tempo proponho uma leitura demorada e tranquila da obra de Jacques-Marie Émile LACAN.
Juntos, estes autores constituem uma ruptura paradigmática e filogenética do conhecimento humano, numa perspectiva que refunda TUDO o que constitui a forma de pensar do Ser Humano, ie, desde a forma como produzimos conhecimento até a forma como pensamos e agimos no nosso dia-a-dia....desde a publicação de "O Erro de Descartes", em Abril de 1995.

Já é tempo de começar a integrar a cena dele, nas nossas cenas...'tás a ver a cena?!?

Abraço,
Miguel

Anónimo disse...

Oi Miguel,

Antes demais MUITO OBRIGADO pelo teu texto que julgo que está excelente.

"Juntos, estes autores constituem uma ruptura paradigmática e filogenética do conhecimento humano, numa perspectiva que refunda TUDO o que constitui a forma de pensar do Ser Humano, ie, desde a forma como produzimos conhecimento até a forma como pensamos e agimos no nosso dia-a-dia...."

É aqui que não concordo muito (no caso do Damásio, já que não conheço o Lacan) com o grau de importancia. Julgo que Damásio foi muito importante (e tive oportunidade de ler três livros dele) mas não é o unico, nem é totalmente revolucionário.

Primeiro porque a dicussão sobre a dictonomia entre corpo e mente (que muitos negam, sendo essa a minha posição) já é muito antiga e muito anterior a Damásio, e encontras grandes autores a nível de Filosofia, Biologia, Psicologia e até no ramo da Inteligência artificial. (Podemos se quiseres falar sobre isto, que para mim é um tema extremamente interessante).

Depois, e é por isso que não dou tanta relevância a Damásio como tu dás, a teoria que ele explica não elimina os pressupostos da teoria neoclássica, apenas os obriga a um ajustamento. Tanto que um parte da Neuroeconomia (ramo da economia que vai buscar inspiração a autores como o Damásio) é, na minha opinião, muito neoclássica.
Por exemplo com Damásio não é afectada a visão de maximização egoista do ser humano (e até pode sair reforçada).

Acho que esta visão racionalista do ser humano é um questão muito própria da Economia. Se olhar para as ciências como um todo verás que a visão taxativa de um ser humano totalmente racional apenas existe no mundo económico, nas outras é tudo menos taxativa.

Demorei muito tempo a tentar entender o porquê disso acontecer e julgo que tem dois fundamentos principais:

1) Politico - exitiu um forte "financiamento" desta corrente filosófica dentro da economia

2) Questão prática: esta corrente produzia teorias mais robustas do que qualquer outra.

Julgo que ambas foram importantes a moldar o pensamento económico, mas gostava de debater um pouco mais o ponto 2) pois raramente é discutido.

A economia ganhou importancia e distingui-se da sociologia pois conseguiu introduzir um modelo matemático que explicava "muito bem" a realidade e produzia previsões robustas. Ou seja era uma "sociologia pratica". E só conseguiu isso com a simplificação da realidade (p.e. pressupondo um ser humano egoista e racional). E isto foi um passo muito importante no desenvolvimento da ciência. O problema de introduzir outros factores (p.e. emoções) é que dava uma complexidade demasiado elevada aos seus modelos não existindo possibilidade de serem praticos (não existia capacidade de calculo). Só com o aparecimento dos computadores é que finalmente existe espaço para alguém criar um modelo "melhor" do que o produzido pela teoria neoclássica. Que eu espere que aconteça, pois entretanto a economia tornou-se uma especie de religião do sec. XX, sendo que "abafou" outras ciências tão importantes como esta.

A economia dá-nos uma visão parcial da realidade, não a realidade como um todo.

Bem desculpa esta resposta longa e desculpa a minha ausência de referência, pois não sou muito bom a memorizar nomes, alguns que me lembro e gostei:

emoções - Pankepp
Embodied cognition - Von Uxkuel
Psicologia - Freud

Um abraço fraterno,
STRAN

Anónimo disse...

"quem inventou o proletariado foi o K.Marx"

Esta vai-me perseguir o resto da vida... ;)

STRAN

Miguel Fabiana disse...

O José Guilherme deve estar zangadíssimo comigo...estou com o Stran, noutro comprimento de onda...sorry!

Camarada Stran, escreve-me para o meu email, sff

Abraço,
Miguel

Anónimo disse...

Oi Miguel,

Já enviei o mail e aproveitei e enviei também um convite de facebook.

Melhores Cumprimentos
Stran