sexta-feira, 13 de março de 2009

O problema não está nos salários IV– Prescrição para o desastre

Vítor Bento, que já no passado Outono se manifestava contra a subida do salário mínimo, prescreve um congelamento ou mesmo redução dos salários como forma de Portugal escapar à crise. Parece piada... Num contexto de crise internacional profunda, com a procura internacional deprimida, é irresponsável avançar com este tipo de proposta. Porque não tenhamos ilusões, quando Vítor Bento fala de redução de salários, está a falar dos miseráveis salários pagos pelos grandes exportadores nacionais, como é o sector têxtil. Já nem discuto a relação subjacente, no mínimo discutível, entre custos salariais e competitividade de uma economia. Também não quero discutir a imoralidade de pedir tal ajustamento a quem ganha 500 ou 600 euros por mês no país mais desigual da Europa Ocidental. O que me parece evidente é que qualquer redução dos salários em Portugal teria como efeito imediato a redução da procura interna, única variável que, no presente, consegue ainda suavizar um pouco a abrupta queda das nossas exportações. Se esta crise, a maior desde 1929, já é grave, mais terrível se tornaria. O que precisamos é, pelo contrário, um combate à desigualdades efectivo que valorize os piores rendimentos e dinamize a procura.

6 comentários:

Anónimo disse...

Bem , se diminuirem os salários da administração e função pública , como fizeram na irlanda e o zapa , e os salários do privado acima de um montante razoável , tipo 4 salários minímos...Sempre fica mais algum para os que ganham pouco e a procura interna fica igual . Diminuir o leque salarial é uma ideia mesmo boa. E para ser permanente.

Anónimo disse...

Perdoe-me a expressão, mas esses iluminados, do tipo Vítor Bento esquecem que a inflação é também ela enganadora. Portugal aumenta por exemplo o custo ao consumidor dos serviços públicos essenciais (água; energias e combustíveis) muito além da taxa de inflação. Só as taxas (ilegais em conformidade com a legislação em vigor) aumentaram em média mais de 40% num ano apenas. Imaginará esse senhor o que é viver com salários ainda mais reduzidos, mas com serviços essenciais ainda mais elevados?! Ou outros tantos impostos que obviamente irão disparar face ao número de desempregados??

Anónimo disse...

Polémica nos Açores in http://maquinadelavax.blogspot.com/

Anónimo disse...

Se o aumento do consumo se cingisse a produtos manufacturados em Portugal, admito o que disse, mas será que pode garantir que não terá impacto nas importações?. Quem exportaé competitivo, quando importamos é pela ineficiência das nossas empresas que produzem o mesmo. Já agora o PIB também aumenta com os gastos do Estado (como está a acontecer) e com o investimento (neste caso liderado pelo Estado). O consumo também aumenta com a quebra das taxas de juro (já aconteceu) a baixa dos combustiveis (estamos em risco futuro por reajuste entre a oferta e a procura) e as transferências sociais (nunca houve tantas).

Luís disse...

Há muito já se perdera a oportunidade dos ladrões trazerem este ponto ao blog. A análise do Teles é bem feita, diria, manipula bem os números, para derrotar o argumento contrário. Claro que tudo isto é insuficiente.

A análise nem devia começar em 2000, mas sim por volta de 95/96 que é quando a dinâmica do endividamento começa a ganhar velocidade. A distorções vêm por si. 1999-2000; a moeda únida é uma realidade, mas tamos mt longe de uma economia única, europeia; com ou sem orçamento federal!

Há aquele capítulo em que se estuda a "doença holandesa"; para quem está familiarizado com os cursos de economia não o pode falhar: esta teoria construída a partir dos factos alerta para os factos que os países que descobrem de um momento para o outro grandes reservas petrolíferas e conseguem gerar um afluxo de riqueza (dinheiro) significativo aos seus países vêem o nível dos salários reais elevados por causa dessa fonte quase "exterior"; desse maná que desvia depois os recursos mobilizáveis para sectores mtas vezes designados dos não transaccionáveis tal e coisa (serviços); e como o salário nos serviços é mais elevado por razões nunca mt bem explicadadas isso leva ao aumento do nível médio de salário da economia e para todos os efeitos DA INDÙSTRIA MANUFACTUREIRA, bloqueando assim um desenvolvimento articulado. Os exemplos dados variam da holanda, onde pelos vistos primeiro se originou a toda uma gama de países do golfo; é só ir ver os trabalhos publicados. Países há que tb conseguem escapar a isso, como é sabido o caso da NORUEGA que de certa forma está a enterrar em fundos de investimento grande parte das receitas do ouro negro. Tb ´já se chegou a dizer que os fundos da CEE puderiam ter tido um efeito semelhante em Portugal... e tb se vai dizendo porque é tão difícil instalar uma indústria na madeira (não é por causa do paraíso fiscal, certamente,) mas devido ao peso dos turismo voltado para exportação.
Lição dada. As conclusões.

Claro que os fundos da CEE foi coisa que entrou por uma balança e saiu por outra; e hoje Portgual é das economias mais dependentes do mundo em que a fé ainda só a fé objectivamente objectivada do funcionamento do sistema bancário mantém a aparência de normalidade. A fé no sentido que a gente vai ter capacidade para pagar. Balelas; mas desta vez o filme tá a passar muito lento...

Trocadilhos.
Saiu há uns tempos uma coluna no FT de um professor da Universidade de Pisa. O gajo faz a análise correcta dos défices intra-europeus. Procura lá, Teles. Os salários reais por cá não estão alto nem baixos; nós é q continuamos pobrezinhos e a juntar um débito junto do exterior. A agência Gov.com distribui computadores e painéis solares às famílias; a gente agradece mas na balança não se vê grandes efeitos. PORTUGAL NA BALANÇA DA EUROPA era título para obra de GARRETT, só nos falta o romantismo e o arrojo, diria o outro. MAS Q POBRE BALANÇA. Ainda não percebi quantas línguas fala o Trichet, mas talvez ele dê conta do recado, quem sabe.

Os diferenciais de inflação mantiveram-se, mais uma vez, porque por cá a gente passou a importar daqueles invisíveis que aliás à altura tinha uma preço baixinho e indexado. Bom, FLUXO bancário »»» a oferta (produção) nacional não responde ou se importa ou se vai jogar na bolsa. Importas se fores classe média (i.e. vais ai CONTINENTE DO COLOMBO) ou jogas na bolsa (se fores o BERARDO e o ESTADO-que tem um banco só para os amigos CGD- fôr teu amigo)! Os dados rola por si meus amigos; temos é que tar na mesa certa; e o jogo tem de ser justo! O que não tem sido, diga-se, em abono da verdade; CONTRA JOHN RAWLS, rabeta!

Ó Teles, porque se fores ver o peso dos salários no PIB ao longo dos últimos 20 anos, não vês grandes oscilações; e a percentagem nacional não tá assim tão abaixo na tabela! 50% em 2006 contra 47% em 1995 (séries mais e menos longas do BP); alguém andou a subir de escalão.. lálálá! Claro que esse tipo o Bento não sabe a economia funciona assim como uma espécie de entidade circular, orgânica; duas equações a duas variáveis não são equilíbrio de coisa nenhuma a não ser de um certo stasis mental do próprio cienta social (Bento, neste caso)!

Mas pronto. agora vem a desigualdade que é um problema real. que precisa de ser adressed, à boa maneira inglesa. mas não queiramos ó Teles dizer que "eles vão fazer a procura", pq secalhar não vão fazer, "eles" não vão deixar o "dimdim" no bolso, pq são pobres tá bem, não entesouram como a classe média; mas depois vão ali ao PINGO DOCE e záS! Não há produto nacional!!, até são capazes de comprar uma bolachas espanholas; para não falar das batatas e das maçãs, e os €€ entram por um lado e saem por outro: isto é, vão ajudar a fazer o roll-over da dívida da Jerónimo Martins. Tudo ok, para os lados da LAPA! E o serviço, no geral, tem melhorado!

manuel gouveia disse...

Os supermercados do Belmiro dão tanto lucro em Espanha como em Portugal, apesar de praticarem o mesmo preço final ao consumidor e em Espanha os empregados ganharem quase o dobro de em Portugal...

Há muito que os empresários reduziram os ordenados em Portugal, para quem ganha menos, e nem por isso a economia descolou!