terça-feira, 31 de março de 2009

Uma escolha acertada ou disponível? - I

Reproduzo em três postas sequenciais o meu artigo do Público, de 30/3/2009, intitulado “Uma escolha acertada ou a melhor disponível?”, e que versa sobre a candidatura de Vital Moreira como cabeça da lista do PS às europeias de 2009:

“Recentemente, foi apresentado o cabeça de lista do PS às europeias. As escolhas quanto a esta lista poderão ter especial relevo. Primeiro, porque sendo o partido incumbente, se houver uma significativa penalização do governo, então o PS poderá ser bastante castigado. A composição da lista, sobretudo o nome de topo, poderia minimizar uma eventual penalização. Segundo, porque, nomeadamente devido à inflexão centrista do PS, o partido tem estado a sentir uma acérrima competição das forças à sua esquerda e a composição da lista poderia ajudar a minimizar as transferências. Adicionalmente, porque se os dois fenómenos se conjugarem e a débâcle for grande, poderá gerar uma dinâmica de refluxo que contagie as legislativas. Foi referido que Vital de Moreira seria uma escolha acertada porque é independente e vem da esquerda, podendo por isso aplacar as duas prováveis tendências de refluxo. A situação é mais problemática. Mas recordemos primeiro a evidência sobre os comportamentos eleitorais nas europeias.

As “eleições de primeira ordem”, como as legislativas, são aquelas em que está em jogo algo determinante para o funcionamento do sistema político, o controle do executivo. As “eleições de segunda ordem”, como as europeias, são aquelas em que aquilo que está em jogo para o funcionamento do sistema político é relativamente menos importante. Nestas eleições, os eleitores têm menos constrangimentos e, por isso, podem mais facilmente votar no partido da sua preferência, independentemente de quaisquer considerações tácticas, ou votar em protesto. Pelo contrário, quer em legislativas, quer em europeias, mas substancialmente mais nas primeiras, as pessoas tomam em linha de conta as considerações tácticas, nomeadamente de forma a não desperdiçar votos em partidos que, provavelmente, não terão grande importância na formação do governo. Apesar da liderança do PS nas sondagens, sabemos que, segundo vários estudos, o governo e o seu líder são impopulares. Logo, as europeias seriam sempre muito difíceis, até porque, pela proximidade, poderão servir como “marcador” para as legislativas. Do que se trata é de uma estratégia de contenção de danos.”

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