quinta-feira, 1 de maio de 2008

A esquerda italiana em estado de choque VIII

Se as eleições italianas de 13 e 14 de Abril tiveram um grande derrotado esse foi a coligação Esquerda Arco-Íris que juntava a Refundação Comunista (PRC), os Comunistas Italianos (PdCI), os Verdes pela Paz e a Esquerda Democrática (ala esquerda dos ex-DS que se recusou a aderir ao novo Partido Democrático).

Se é verdade que o Partido Democrático de Veltroni e os seus aliados do movimento Itália dos Valores (do ex-juiz DiPietro) não foram capazes de vencer a coligação liderada por Berlusconi, é de notar que o centro-esquerda praticamente manteve o número de votos face às eleições de 2006. Pelo contrário, os partidos à esquerda do PD reunidos em torno da coligação Arco-Íris (símbolo do movimento pacifista em Itália) viram-se reduzidos a cerca de ¼ dos votos obtidos há dois anos atrás, ficando sem qualquer representação parlamentar.

Embora não se esperasse a repetição do sucesso das anteriores eleições - realizadas no culminar de um período de grande mobilização das esquerdas, com o entusiasmo em torno do movimento alter-globalista, a contestação às guerras do Afeganistão e do Iraque e os protestos contra o governo de direita - poucos esperavam uma situação tão dramática neste final de Abril. O drama não é apenas político-simbólico - a vitória da direita populista, xenófoba e autoritária, e o primeiro parlamento italiano desde o pós-guerra onde não tem assento nenhum partido socialista ou comunista - mas é também de ordem pragmática - são às centenas os activistas políticos que ficaram sem emprego e significativa a redução de receitas partidárias associadas à perda dos assentos parlamentares.

Um dos grandes motivos de desmobilização do eleitorado Arco-Íris tem a ver com o facto de quase não se ter feito sentir a presença destes partidos no governo liderado por Prodi, o qual integraram desde as eleições de 2006. Por um lado, a prioridade política centrou-se no controlo do deficit orçamental, inviabilizando qualquer proposta que implicasse um aumento, mesmo que transitório, da despesa pública. Por outro lado, os partidos dominantes na coligação governamental prosseguiram uma linha moderada nos temas internacionais (e.g., a presença de tropas italianas no Líbano) e tendencialmente conservadora no que respeita aos direitos cívicos ou às relações com a Igreja, contrariando assim algumas das principais bandeiras da esquerda crítica.

Paradoxalmente, os partidos do Arco-Íris são também acusados por alguns dos seus eleitores de assumirem uma atitude excessivamente crítica e destabilizadora do 2º governo Prodi, contribuindo assim para o seu desgaste.

Difícil equilíbrio este para os partidos de esquerda, o de participar num governo em que as condições para prosseguir uma agenda própria são altamente limitadas (frustrando as expectativas dos seus apoiantes), mas em que as condições de estabilidade são de tal forma frágeis que qualquer tentativa de distanciamento é vista como irresponsabilidade ou traição. Para os eleitores mais críticos, os partidos do Arco-Íris não fizeram a diferença; para os eleitores mais moderados, não foram suficientemente colaborantes. Resultado: os partidos do Arco-Íris perderam votos para os partidos do centro e para a abstenção, ficando reduzidos a um conjunto de forças extra-parlamentares com destino incerto. Agora é tempo de questionar as opções estratégicas feitas pelos partidos da esquerda italiana nos últimos anos. (Continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

Arco-íris foi um nome engraçado! O problema não foi o nome, foi antes a falta de clareza de ideias ou até programática, em relação a temas fundamentais como as questões de economia (obsessão pelo controle do défice) e da política externa. A febre guerreira de Bush e dos neocons, em plena euforia neoliberal, iludindo o mundo mais incauto como se a História já estivesse escrita, também contribuíram para o pesadelo arco-íris.