quinta-feira, 22 de maio de 2008

A desigualdade é o nosso constrangimento

«Portugal foi hoje apontado em Bruxelas como o Estado-membro com maior disparidade na repartição dos rendimentos, ultrapassando mesmo os Estados Unidos nos indicadores de desigualdade». Diz o Público que o relatório da Comissão «revela não haver qualquer correlação entre a igualdade de rendimento e o nível de resultados económicos». Muito bem. Parece que a coisa se inverteu. Já houve um tempo em que os neoliberais nos garantiam que o aumento das desigualdades era o preço a pagar pela riqueza das nações. Hoje estamos muito longe da ideia simplista de que existe um «trade-off» necessário entre equidade e eficiência. A equidade e a eficiência podem ter uma interacção virtuosa. Questão de políticas. E a desigualdade excessiva é um obstáculo ao desenvolvimento. Como afirmou Pranab Bardhan, um dos mais importantes economistas do desenvolvimento, «em sociedades desiguais é muito mais difícil construir o consenso e organizar a acção colectiva para adoptar reformas com efeitos de longo prazo e para esforços cooperativos para resolver problemas». Aliás, o Público nota que «se forem comparados os coeficientes de igualdade de rendimentos dos Estados-membros com o respectivo PIB (Produto Interno Bruto) por habitante constata-se que os países como um PIB mais elevado são, na sua generalidade, os mais igualitários». É por estas e por outras que o combate às desigualdades tem de ser a grande prioridade no nosso país. Mais e melhor Estado Social. Isto exige uma alteração profunda da correlação de forças nos campos intelectual, social e político. Questão de contra-movimento.

6 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

O argumento deste post falha na argumentação, pois apresenta a necessidade de reduzir a desigualdade como desejável em nome de um bem comum, remetendo de novo para a ideia segundo a qual a redução da desigualdade é desejável.

Qual o incentivo que tenho em contribuir para soluções colectivas e resolução de problemas que não me interessam? Porque estarei interessado em alimentar as pretensões da inveja alheia?

L. Rodrigues disse...

Isso é sono, Sousa?

Interessa, se não tiver vistas curtas e tirar os olhos do umbigo. Mas como já mostrou que é incapaz disso, deixe-se estar. Ninguém conta consigo para nada.

E se o paradigma mudar um nadinha que seja, pode ficar para aí agarrado à sua indignação enquanto muita gente vive um pouco melhor.
Porque é disso que trata o post: Pelos vistos, há mais riqueza para dividir, quando é mais dividida, dentro de esquemas institucionais acertados.
È estranho não é? Chama-se realidade.
E não é inveja, é sentido de justiça. Até os animais têm.

Filipe Melo Sousa disse...

"ninguém conta consigo para nada"
Não se esqueça de dar o recado às finanças. Agradeço

há mais riqueza para dividir, quando é mais dividida
Eu ao contrário de si, defendo a liberdade de o deixar escolher se a quer repartir.

"sentido de justiça. Até os animais têm"
Será o seu melhor argumento, e talvez explique a sua vontade de repartir. Mas falha ao explicar o que eu ganho com isso.

Anónimo disse...

Meus caros, eu acho que o post tem que ser complementado com uma outra ideia, atee para evitar o tipo de discussao que se trava agora entre o Sousa e o L.Rodrigues.

O post comeca com uma constatacao acerca da falta de relacao entre a distribuicao estatiistica do rendimento, e o ritmo de crescimento de uma economia, e rapidamente aponta para a solucao de usar o instrumento fiscal (o estado social) para fazer "redistribuicao". O Sousa insurge-se contra isto dizendo que nao tem que engolir moralismos alheios. O L.Rodrigues diz-lhe que um pouco de moralismo ao Sousa nao lhe faria mal, e que a opiniao do Sousa nao interessa. Ideia que o Sousa rejeita, dizendo que se o bolso dele vai ser usado para financiar a moral alheia, ee melhor que lhe deem pelo menos a oportunidade de perguntar o que ee que ele ganha com isso.

Nao verdade, por detraas da distribuicao estatiistica do rendimento, estaa a distribuicao funcional do rendimento que ee gerado nas empresas, e que dependendo do recipiente (assalariado ou detentor dos meis de producao), ee canalisado de diferentes formas na economia. Como as proporcoes a consumir sao totalmente diferentes, a distribuicao funcional do rendimento influencia a taxa de utilizacao de capacidade numa economia, e por essa via os niiveis de investmento produtivo (acelerador) e os wage-claims do periiodo seguinte. Por isso, a distribuicao funcional do rendimento TEM influencia no niivel de crescimento de capacidade produtiva numa economia.

Tudo isto enchia paaginas de investigacao macroecoonoomica atee aa ditadura das funcoes de producao chegarem (procurem um dos uultimos papers do Debraj Rai em que ele faz um entrada para um livro sobre a fronteira da investigacao econoomica) e imporem a conveniencia metodoloogica com detrimento da realidade.

EE porque todos noos aprendemos a assumir sem questionar (ou nao somos informados de visoes alternativas aa) funcao de producao agregada que implicitamente somos levados a pensar que existe uma lei natural que faz com que a distribuicao funcional de rendimento seja feita de acordo com as produtividades marginais. Assim mesmo, como se os mercados de factores fossem como os mercados de laranjas em concorrencia perfeita em que o preco serve apenas uma funcao = equilibrar procura e oferta).

Basta fazer um google-search em Palley e Pasinetti-Kalecki Models para comecar uma viagem intelectual que permite ao viajante poder dizer passado uns dias que a distribuicao funcional do rendimento importa muito sim senhora para o crescimento econoomico, sem ter que ser de esquerda. Basta ser um economista curioso que questiona dogmas, mesmo que eles nao tenham passado de moda ainda.

Cumprimentos
Joao Farinha

Anónimo disse...

"Eu ao contrário de si, defendo a liberdade de o deixar escolher se a quer repartir."

Repartir tens que repartir... nem que seja por poucos.

Filipe Melo Sousa disse...

Números primos são divisíveis por 1 e por si próprios.