domingo, 30 de julho de 2023

Tragédias e farsas políticas


A plebe tem que ser mais pobre, os bancos merecem os lucros .Já estivemos à beira da implosão da zona euro e, na época, o BCE percebeu o risco que corria. Que não entenda agora que uma população empobrecida e com baixos salários (em sociedades profundamente desiguais como a portuguesa) vai engrossar o descontentamento que um dia irá rebentar com tudo, é uma tragédia. 

Final de uma crónica de Ana Sá Lopes que vale a pena ler, até porque contém um raro ângulo de classe na crítica à política monetária do BCE. 

A tragédia, como se viu na Grécia, em 2015, não é a potência plebeia, a revolta contra o regime austeritário. A tragédia é que o BCE controla os instrumentos de política para organizar um “golpe de estado financeiro” (Varoufakis) e pode contar com a rendição das elites políticas supostamente radicais, mas na realidade europeístas. 

O BCE sabe que com as direitas, hoje uniformemente euro-disciplinadas, não corre riscos e com a esquerda dominante também não. Não há qualquer tragédia para si, só a farsa das procissões a Frankfurt ou dos pedidos para que Frankfurt venha a Lisboa.

Entretanto, recordo que Keynes defendeu a “eutanásia do rentista”, mas que o sadomonetarista BCE existe para defender o rentista: juros rendem 1800 milhões de euros aos grandes bancos no primeiro semestre.

E não, não nos podemos esquecer da história da economia política mais ou menos recente.

7 comentários:

António Alves Barros Lopes disse...

- Não seria de perguntar a Ricardo Reis qual foi o aumento de produtividade em que os lucros dos bancos se apoiam???

Anónimo disse...

A ditadura financeira é também um obstáculo ao progresso, não se escolhe democraticamente empobrecer os mais pobres. O não reconhecimento da ditadura instituída é no essencial falta de cultura democrática, em 2015 foi bonito de se ver a forma como a esquerda por toda a Europa se calou enquanto a Grécia era cobardemente esmagada. Sem um projeto politico agregador e capaz de enfrentar este poder de ocupação a esquerda será sempre a esquerda da direita nada mais para além disso. A TINA é o verdadeiro valor desta Europa decadente e decrepita.

Anónimo disse...

Alguém sabe dizer porque razão é que o rendimento do capital é sempre protegido e o do trabalho sempre negligenciado? Vamos falar de coisas que interessam: pleno emprego e salários que permitem uma vida equilibrada e saudável, o que é que a Europa civilizada está a fazer neste sentido?

Anónimo disse...

Os governadores dos diferentes países da zona Euro reconhecem e defendem os poderes não democráticos, aliás eles estão lá exatamente para garantir que nada muda, a hipocrisia da larga maioria dos cidadãos é monumental.

TINA's Nemesis disse...

Ana Sá Lopes podia ser mais consequente, mas isso é pedir muito a quem tem uma posição com visibilidade na comunicação social...

Ana Sá Lopes podia informar quem a lê e ouve que o BCE transformou de propósito, insisto, transformou DE PROPÓSITO uma recessão profunda em uma depressão em determinados lugares da Europa.
Ana Sá Lopes, tal como outros gatekeepers (porteiros) da informação, têm medo que o povo perceba de que foi vítima de um colossal crime económico.
Dizer que o BCE não aprendeu nada é uma simples mentira, os responsáveis do BCE sabiam perfeitamente o que estavam a fazer, e se começaram a financiar os Estados não foi porque tiveram pena da plebe, até gostavam que parte morresse à fome, tiveram é medo que o Euro-regime colapsasse.

Ao contrário do que diz a líder do Bloco de Esquerda, a UE e Euro foram sempre um esquema da classe dominante para desmanchar tudo o que melhorou a vida da maioria da população. Podem negar o quanto quiserem as evidências aí estão para quem as quer ver.
Por que é que os tratados foram criados com a austeridade embutida neles?
Por que é que o Euro é o que é?
Por que é que o BCE e a Comissão Europeia insistem sempre em mais austeridade?

Ana Sá Lopes julgará que isto é ingenuidade?
Julgará que os nossos “lideres” não sabem o que estão a fazer?
Quantas mais décadas perdidas serão necessárias para que Ana Sá Lopes chegue à conclusão de que os nossos “lideres” não querem o bem da maioria da população?

Nós não devíamos estar a pedir aos nossos “lideres” para que não nos façam sofrer mais, nós devíamos estar a pedir justiça pelos crimes de que fomos/ somos alvo desses ditos “lideres”.
Quem devia estar a aprender somos nós, a aprender a não aturar abusos de “lideres” perversos.

Não contam comigo para prolongar a farsa europeísta!

Anónimo disse...

"Os resultados que apresentamos hoje são muito positivos, conforme o que tem sido a regra dos resultados dos bancos, diria, do mundo inteiro, particularmente da Europa", afirmou o presidente da comissão executiva do Santander Portugal, destacando a influência das taxas de juro. Não tenho dúvidas que será este grande motivo para o aumento das taxas de juro que o BCE tem efetuado ao longo dos últimos meses, a coberto da teoria errónea de que o objetivo desses aumentos é o da redução da taxa de inflação.
O que estes neoliberais sem escrúpulos estão a fazer é encher os cofres dos bancos com o dinheiro do povo para que estes bancos, sem fragilizas a sua estrutura de capitais, possam pagar os empréstimos que o BCE lhes fez com taxas nulas e alguns com taxas negativas.
A desgraça provocada pelo capitalismo toca sempre aos mesmos do costume.

Anónimo disse...

Excelente sempre o João Rodrigues. Obrigada
Excelentes também os comentários
Dá esperança que os portugueses e os europeus que são vítimas das políticas europeias e do BCE, ACORDEM