segunda-feira, 31 de julho de 2023

Michael Walzer nunca foi do extremo-centro


Só mesmo uma crónica de Nuno Severiano Teixeira para transformar ingredientes intelectuais da melhor qualidade num caldo sensaborão. O teórico político Michael Walzer, que passou uma vida na instituição que Oppenheimer dirigiu e de que Einstein foi um dos primeiros investigadores, merece muito melhor por seis razões. 

Em primeiro lugar, o liberalismo de Michael Walzer, como o da “sua” revista Dissent, sempre foi um liberalismo socialista, no sentido em que viu o socialismo, assente numa economia pós-capitalista, com controlo democrático das empresas pelos trabalhadores, por exemplo, como parte do pleno aprofundamento e da plena distribuição das liberdades. 

Em segundo lugar, Michael Walzer é um nacionalista liberal, entendendo a nação como o espaço privilegiado para a realização dos seus ideais e como a bateria cultural e política adequada para alimentar comunidades coesas, capazes de distribuir bens sociais de forma justa. 

Em terceiro lugar, Walzer é um “comunitarista”, no sentido em que a sua teoria da justiça, oposta à de Rawls, é social e historicamente situada, sendo anti-individualista do ponto de vista metodológico e ético-político. As Esferas da Justiça, obra muito bem traduzida, é um dos meus livros de eleição. Devo-lhe ter-me obrigado a pensar sobre fronteiras, em sentido literal e metafórico, incluindo com o que designou por “arte liberal da separação”. 

Em quarto, e agora problemático, lugar, Walzer é um sionista. Quando combinado com a ideia de guerra justa e sobretudo com avaliações equivocadas da situação internacional, isto pode levar a posições repreensíveis, como aconteceu a seguir ao 11 de Setembro, por exemplo. 

Em quinto lugar, Walzer pensou também sobre uma política externa para a esquerda de recorte anti-imperialista. Dada a escassez de reflexões nesta área, é um contributo que deve ser lido e discutido. 

Em sexto lugar, Walzer está nos antípodas da atitude de extremo-centro de Severiano Teixeira: uma vida de dissidência em relação à sabedoria convencional e em momentos decisivos, concorde-se ou discorde-se.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois é, o pobre Severiano é um tanto conselheiro Acácio. Por isso mesmo é tão apreciado, não trocem dos Acácios. O mundo é deles.