sábado, 29 de julho de 2023

Só falta mesmo dizer o nome dos responsáveis

O jornal britânico The Guardian traz hoje um texto cristalino sobre a crise de habitação em Portugal, que envergonha o país e, acima de tudo, os responsáveis políticos (que têm cara e têm nome, mesmo que o texto não os refira) que para ela contribuíram ao longo da última década.

Fica aqui um excerto, mas vale a pena ler o resto.

“A recuperação económica de Portugal, alimentada pela desregulamentação e por uma série de esquemas destinados a atrair o investimento estrangeiro, distorceu o mercado imobiliário de forma irreconhecível, num país onde o salário mínimo mensal é de 760 euros e onde 50% das pessoas ganham menos de 1000 euros por mês.

A liberalização do mercado de arrendamento, a emissão de "vistos dourados", que conferem autorizações de residência em troca da compra de imóveis de valor igual ou superior a 500 mil euros, a introdução de um "regime de residentes não habituais" para estrangeiros, que permite poupar impostos, e, mais recentemente, a criação de um visto de nómada digital, que permite aos estrangeiros abastados trabalhar à distância e pagar uma taxa de imposto de apenas 20%, contribuíram para isso. Também o é, talvez de forma mais óbvia, a compra de apartamentos para serem convertidos em alojamento local [o número de camas no centro de Lisboa é mais de duas vezes superior ao do centro de Barcelona, uma das cidades com maior pressão turística do mundo].

A crise que se vive atualmente em Lisboa, no Porto e noutras cidades portuguesas não era propriamente uma surpresa."

1 comentário:

TINA's Nemesis disse...

Acho que era bom para começar a acabar com a distopia habitacional que afeta tantos neste país que se reconhecesse que a crise da habitação não começou com os vistos gold e alojamento local, a crise da habitação foi sempre a crise da habitação, mesmo com o disfarce do acesso ao crédito Portugal sempre teve graves deficiências nesta área.
A constituição até pode dizer que a habitação é um direito, mas a realidade é o que se sabe, e já não há crédito que disfarce a distópica realidade habitacional…

E não vamos fingir que não existem soluções.

Aos 18 anos uma pessoa em Viena fica elegível para um apartamento social.

https://socialhousing.wien/tools/flat-allocation-criteria

Habitação social de qualidade não é só para os pobres e para minorias, é para todos aqueles que necessitem, a “classe média” tinha muito a ganhar se um serviço nacional de habitação fosse implementado.
Portugal não é um país mais pobre devido ao SNS, é o contrário, é mesma coisa para outro bem/serviço básico, como é o caso da habitação. Portugal será um país mais rico se resolver a questão da habitação.