Para pessimismo da inteligência, vá ao cinema ver o Oppenheimer. Para optimismo da vontade, vá ver a Barbie. Esta é a boa ordem de visionamento, creio.
O primeiro filme, com impecável argumento político, em particular no que à questão comunista nos EUA diz respeito, ficou, no entanto, abaixo das expectativas elevadas: demasiado tonitruante, com música omnipresente quase insuportável, sobretudo na primeira parte, e com aquela lógica, muita norte-americana, de onde a predestinação não está ausente, de repetir n-vezes as teses e de forma por vezes bem estridente.
O segundo filme, acima das expectativas, é impura diversão, com algumas boas hipóteses políticas, incluindo a intuição da Barbie de que o fascismo é uma forma de proprietarismo. Mas, sobretudo, o filme é mesmo muito divertido e despretensioso, sem deixar de ser resolutamente feminista e também nesta sua forma contribui para quebrar preconceitos arreigados.
Não dei as cerca de quatro ou cinco horas por desperdiçadas, antes pelo contrário. A morte da boa cultura de massas norte-americana é como o lugar do dólar no sistema monetário internacional: francamente exagerada.
2 comentários:
No primeiro parágrafo, uma alusão um pouco críptica a Gramsci (mas afinal repescando ele Romain Rolland). “A concepção socialista do processo revolucionário caracteriza-se por duas notas fundamentais (…) — o ‘Pessimismo da Razão’ e o ‘Otimismo da Vontade’ ” (Ofrdine Nuovo, 1920). Quando é que juntamos forças para uma boa apresentação de Gramsci aos leitores portugueses? Boa e correta, porque o mestre sardo anda a ser deturpado por muita gente que de facto atraiçoa o seu legado intelectual.
Caro João Rodrigues, deixo-lhe aqui uma perspectiva alternativa do filme, que creio ser complementar à sua:
https://www.aljazeera.com/opinions/2023/8/4/sorry-american-liberals-barbies-feminism-isnt-for-all-women
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