Público, 10/7/2013 |
Há dez anos, uma instituição presidida por Christine Lagarde, o Fundo Monetário Internacional (FMI), revia “em baixa” as suas previsões para três países que eram - e são - os principais destinos de exportação de Portugal. E, em consequência, era de prever que as próprias projecções do FMI para Portugal viriam igualmente a seguir a ser revistas “em baixa”, quando já andavam pela hora da morte. O desemprego em sentido lato já atingia por esta altura cerca de 1,5 milhões de portugueses.
Nessa altura, o FMI era uma das três instituições da troika (junto com BCE e a Comissão Europeia ) que acharam que a única terapia para Portugal poder recuperar a competitividade externa das suas empresas seria provocar uma recessão, provocar o fecho de empresas, fazer aumentar o desemprego, o número de pobres e a desigualdade na repartição do rendimento, para que os trabalhadores aceitassem melhor reduzir os seus salários nominais. O senhor Olivier Blanchard, então economista chefe do FMI (na foto) disse-o em 2007 com esta clareza singela e, ao mesmo tempo, desprendida do destino da massa de trabalhadores. Mas anos depois, em 2015, diria na mesma displiciente forma: “A crise foi um acontecimento traumático ao longo do qual todos tivemos de questionar diversas crenças que muito prezávamos”.
Era a “solução” de então... e é a mesma solução outra vez, passados dez anos. Faz-se tábua rasa das lições retiradas do passado e, desta vez, a “nova” ideia é do BCE. A política de taxas de juro altas visa provocar uma recessão para que - ao provocar o fecho de empresas, fazer aumentar o desemprego, o número de pobres e a desigualdade na repartição do rendimento - se reduza a procura e, com ela, forçar os preços a descer.
Tudo, veja-se lá, quando a fonte de inflação não está na procura de milhões de trabalhadores e pensionistas, mas na oferta e nos estrangulamentos da oferta. Desta forma, os preços não se reduzirão, mas os custos do trabalho sim, aumentando-se os lucros das empresas por duas vias. E o sector financeiro ganhará assim parte do bolo dos lucros, assim aumentados artificialmente.
E coincidência: não é que Christine Lagarde - sempre tão elegante e bem vestida, em que qualquer dos seus diferentes andrajos mostrados em cada dia representa o rendimento anual de vários pobres - estava há dez anos à frente do FMI e está agora a dar a cara pelo BCE?
E nunca pára de sorrir... apesar da desgraça com que bombardeia a vida fragmentada dos pobres.
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