Augusto Mateus é um protagonista do longuíssimo cortejo fúnebre da economia portuguesa.
Trocou o doutoramento e a investigação regulacionistas, que ainda deixaram lastro na excelente revista Economia e Socialismo (1976-1987), pela consultoria, repetindo as mesmas vacuidades sobre competitividade há décadas e mantendo um pé na academia. Também ajudou ter passado brevemente pelo governo Guterres, afastando-se logo do PS para passar a dar ares de independente muito sério.
O seu empreendedorismo da consultoria prosperou no final dos anos noventa, à boleia do esvaziamento, que vem do cavaquismo, das capacidades intelectuais da administração pública. Se Cavaco Silva não tivesse destruído o Gabinete Básico de Economia Industrial, por exemplo, não teria havido tantos PowerPoints por aí.
Mateus não foi caso único, claro: a concorrência das multinacionais foi intensa, acabando aliás por integrar a sua empresa numa delas. Portugal fez parte de uma tendência que Mariana Mazzucato e Rosie Collington analisaram criticamente. Em inglês soa realmente melhor, como a música pop: Big Con.
Durante a troika acusou os portugueses de terem vivido acima das suas possibilidades, mencionando ecrãs plasma e referindo-se aos participantes no debate sobre austeridade como “malucos”. Pouco interessaram as centenas de milhares de postos de trabalho destruídos e as centenas de milhares de compatriotas compelidos a emigrar, simplesmente porque o BCE não fez o que lhe competia e que é tão simples: controlar juros. O que conta é o ar e o tom arrogantes com que se fala, de cima para baixo.
Agora, no palco que, inexplicavelmente, lhe continuam a dar, defende que o BCE devia ter sido ainda mais duro a rebentar com uma pequena economia endividada, subindo mais cedo a taxa de juro. Nem cedo, nem tarde.
Estes economistas, para quê e para quem, mesmo?
4 comentários:
Até no Financial Times vi anúncios à empresa dele.
Deve ser como o Matteo Renzi, a dizer ao MBS que a Arábia Saudita podia ser a nova Florença, terra de onde é natural.
A Faculdade de Economia da Universidade do Porto é um viveiro de iluminados; este, Teixeira dos Santos, Bessa, Cadilhe...
Perdão, este não é lá de cima, mas do ISEG, a tal que deu o doutoramento honoris causa a Valle e Azevedo, perdão, ao grande DDT.
Estes economistas para quê e para quem?
Para isto:
“Paulo Macedo lamenta falta de mão-de-obra e é contra discussão de semana de quatro dias”
“Nós precisamos claramente de mais imigrantes para virem para Portugal, para permitir o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e satisfazer as necessidades das empresas” – Paulo Macedo, director da Caixa Geral de Depósitos
https://eco.sapo.pt/2023/07/10/paulo-macedo-lamenta-falta-de-mao-de-obra-e-e-contra-discussao-de-semana-de-quatro-dias/
Satisfazer as necessidades das empresas, satisfazer os interesses dos Donos Disto Tudo.
E é por isto que sou contra a esquerda não liberal limitar-se a repetir o argumento “nós precisamos de imigração”, só está a fazer favores à classe exploradora.
Imigração custe o que custar só serve os interesses de uma minoria que quer alimentar a besta capitalista a todo o custo.
O empoderamento da classe trabalhadora tem que acontecer, seja ela de que origem for.
Paulo Macedo, Augusto Mateus e os neoliberais em geral não querem que a discussão que leve à conclusão de que a ideologia deles é mortífera para a maioria da população ocorra.
Não é curioso como à medida que estes CR7 das finanças e gestão foram tomando conta do país, o país não parou de se afundar?
Deve ser culpa do “socialismo”…
Foram outros os tempos, em que alguns passavam do PS a independentes, para dar ar de muito sérios, que falam de coisas, que são muitas e sérias e são coisas seríssimas. Outros nem tanto, abriam as garrafas de champanhe pela privataria logo aí, nos gabinetes do governo. E os sectores que não tinham sido entregues às rendas garantidas, em negócios protegidos, estavam na lista saqueadora dos PEC's.
O indivíduo, como este Mateus, que defende afincadamente que os de cima continuem a esmifrar a vida dos de baixo é aquilo que, em linguagem popular, se costuma chamar de ''mete nojo''.
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