sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Virar a página no debate sobre trabalho e competitividade (III)

«Nuno Carvalho, proprietário de um conjunto de padarias a quem uma certa novilíngua gosta de chamar "empreendedor", proferiu declarações à SIC Notícias apelando a uma maior flexibilidade do mercado laboral. Mas sejamos justos com o Nuno, porque ele não teve receio de dizer ao que vinha: quer mais facilidade nos despedimentos, redução no pagamento das horas extraordinárias e alargamento do período de trabalho.
Pelo caminho, admitiu que a subida do salário mínimo afetará 25% da massa salarial da sua empresa. Traduzindo: 25% do montante dos salários pagos pela padaria portuguesa está entre os 530 e os 557€ (o que corresponderá, tendo em conta os salários do Nuno e dos seus acólitos, a uma percentagem bem superior a 25% de trabalhadores a receberem o salário mínimo). O Nuno, que se vê como um messias da iniciativa privada não é, afinal, lá muito inovador. É só mais um indivíduo que teve acesso a capital por via de um amigo e conseguiu fazer prosperar um modelo de negócio baseado em salários baixos. Que grande feito!
Mas o nosso Nuno não ficou por aqui. Ainda teve tempo de debitar um pouco de conhecimento convencional, daquele que envenena a opinião pública e cai sempre bem. Disse o Nuno que era preciso flexibilizar o mercado de trabalho para aumentar a produtividade do país. Só há um problema: Não é verdade. Os estudos realizados apontam exatamente no sentido contrário.
Dois economistas, Servaas Storm e C. Naastepad publicaram um estudo em 2009 na revista Industrial Relations intitulado “Labor Market Regulation and Productivity Growth: Evidence for Twenty OECD Countries (1984–2004)”. Os autores concluem que mercados de trabalho mais regulados e protetores dos trabalhadores favorecem o crescimento da produtividade no longo-prazo».

Diogo Martins (facebook)

20 comentários:

Andre Fer disse...

Foi sem duvida uma entrevista muito infeliz.
Gostaria no entanto de deixar algumas perguntas relativamente a esta matéria:
Acreditam que o aumento do salário mínimo vai aumentar a produtividade / motivação dos trabalhadores?
Felizmente o nosso código do trabalho/Fiscal não é liberal mas também é em muitos aspectos conservador. Não existem aspectos que devam ser alterados? Acham justo taxarem horas extras em vez desses impostos reverterem a favor do trabalhador que está na disposição de as fazer?
Do meu ponto de vista penso que o mercado deveria ser muito menos taxado e os salários deveriam ser obrigatoriamente mais altos. Sem querer destruir a Segurança Social penso que os impostos aplicados no trabalho e nas empresas que depende dele são muito maiores do que por exemplo dos aplicados no Capital e de quem vive somente dele.
Gostaria de saber a vossa opinião e parabéns pelo Blog :)

Unknown disse...

Tanto tolo que defende a fexibilizaçaõ como um dos factores que contribuem para a pujança economica de muitos dos países que a esquerda(lhada ?) não gosta de seguir mas onde vivem as pessoas na terra com melhor nivel de vida. E tem por exemplo a Venezuela e todos os países onde as boas ideias das esquerdas podem mostrar um sucesso concreto de corar de ....vergonha.

Jose disse...

Havendo estudos em pacotes de países isso aplica-se pela certa ao Portugal abrilesco, atenta a sua 'originalidade'?
Todo o treteiro diz que sim quando lhe convém, e que não, no caso contrário.

O patrão em causa só teve que pegar em capital e pôr gum negócio em marcha; Pouca coisa?
Claramente, para todo o treteiro que tanto odeia o capital mas lhe atribui poderes miraculosos só comparáveis ao gozo que lhes dá quando lhe podem deitar a mão.

Bruno Miguel disse...

Precisamente, justiça lhe seja feita, apesar de tudo não se escondeu atrás de chavões como "reforma do mercado de trabalho" ou "flexibilização laboral", foi claro, disse inequivocamente ao que vinha. No fundo, o Nuno queria que o estado lhe permitisse ter mais escravos modernos. Mais, o Nuno queria que o estado lhe permitisse substituir os escravos que tem por outros escravos ainda mais precários (passo o pleonasmo) como se fossem peças num tabuleiro de xadrez. Mas há um problema, que talvez o Nuno e outros Nunos da nossa praça desconheçam: não são peças de xadrez; não são escravos; não são um número a mais numa folha de excel.

Hoje sabemos que a questão de fundo em volta desta matéria é puramente ideológica. Sabemos que o objectivo último é o desequilíbrio de forças entre trabalhadores e o capital no sentido deste último, no sentido da transferência de recursos de baixo para cima, no sentido de cavar ainda mais o fosso monstruoso entre os mais pobres e os mais ricos. Sabemos hoje que não existe evidência (falo de factos, não de "conhecimento de rua") de que a desregulação laboral seja benéfica para a economia (o próprio FMI - pasmem-se - o reconhe), e sabemos que, pelo contrário, tem efeitos deletérios na saúde dos trabalhadores.

Assim, partindo dos seguintes pressupostos: temos o objectivo de ser coerentes e somos sensíveis aos factos, só podemos concluir que não existe razão, e enfatizo a palavra razão, que suporte a agenda da precariedade laboral, não está demonstrado benefício para a economia e está demonstrado prejuízo para a saúde dos trabalhadores.

Posto isto, surge inevitavelmente a questão: a racionalidade morreu?

Luís Lavoura disse...

favorecem o crescimento da produtividade no longo-prazo

Certo, mas a longo prazo estamos todos mortos, e isso é especialmente verdade dos empresários portugueses, que se focam muito no curto prazo.

Um proprietário de um restaurante explicou-me uma vez por que é que tinha investido nesse negócio: porque um restaurante é um negócio em que há sempre dinheiro a entrar a curto prazo, não é preciso esperar muito tempo para que o investimento frutifique. Da mesma forma, a Padaria Portuguesa está sempre a vender pão, que é um produto de baixa tecnologia e sem grandes aumentos de produtividade a esperar. Para a Padaria Portuguesa o que interessa é o dinheiro que entra em caixa a curto prazo, não quaisquer supostos aumentos de produtividade a longo prazo.

Anónimo disse...

"Tanto tolo que defende a flexibilização"

Tudo dito Sr Cristóvão . Até que enfim uma em que estamos não completamente de desacordo.
Mas eles não são só tolos. São mais e pior do que isso

Quanto aos exemplos de maior flexibilidade laboral temos todos os países bem sugados pelos Capitalistas. Aqueles de mão-de-obra barata, ao preço da uva mijona. Aqueles que trabalham 12 a 14 horas por dia e recebem um salário de miséria.Aqueles países capitalistas que servem de quintal ao capitalismo.

Que é o que os tais que têm "bons níveis de vida" querem fazer na periferia da europa. Querem mão-de-obra barata. Querem escravos. Inventaram até o termo de flexi-segurança que felizmente tem vindo a cair juntamente com os ideias neo-liberais da canalha em causa.

Pelo que o sucesso que o Sr Cristóvão quer apregoar com a tal flexibilidade o que significa é apenas o acentuar da exploração de quem trabalha. Para sucesso de quem se apropria da riqueza assim produzida.

Isso não o faz corar de vergonha, sr Cristóvão?

É que os dados são claros quanto à distribuição da riqueza. E se for necessário reproduzidos de novo para aumentar a vergonha do Sr Cristóvão. Se este a tiver, claro

Anónimo disse...

"Havendo estudos em pacotes de países"

Este é um bom começo para confirmar que provavelmente estamos mesmo em presença dum treteiro.

Conformado pelo que diz a seguir. Ideologicamente motivado e patronalmente confirmado. Parece que não gosta de estudos que lhe contrariem os axiomas nem a sede do aumento das taxas de lucro.

Defende a sua classe. Mas defende-a desta forma balofa, vazia, oca, com palavras de ordem tiradas dos velhos cardápios dos capitalistas reunidos para o assalto final

Nem um. Nem um único argumento que contrarie o post aí em cima. Apenas isto mais o gozo ( algo que rotineiramente repete, o que tem levantado por vezes algumas suspeitas e perplexidades).

Anónimo disse...


Já há muito constatamos a presença física, não fictícia, do rico e do pobre – estão aí «a long time ago» sem se incomodarem com coisas da avareza pessoal, pois na cultura actual avarentos são todos, sedentos de riqueza e luxuria, ricos e pobres, enfim e´ o homem na sua essência. E´ perturbante, pois e´ e o pior de tudo isso e´ que não há volta a dar.
Este processar constante do Capital contra Trabalho, ora agora ganhas tu ora agora ganho eu e‘ dos tais combates eternos, mas indispensáveis para a sobrevivência humana.
Esta coisa de se dizer ou cantar vitoria não tem de deixar espaço para dúvidas, o circulo e´ fechado e vicioso e vesse pelas manobras efetuadas pelas partes interessadas que vai tudo dar no mesmo - trava-se a TSU mas avançamos com o pagamento por conta, e tem graça, ficaram mais satisfeitos como se tivessem obtido uma grande vitória. Como as coisas são, ainda os hei-de ver pior. De Adelino Silva

Anónimo disse...

Bom, o cerne desta questão é:
a subida de salários faz perder alguns milhares de euros a um rapaz abonado e com amigos bem colocados;
o rapaz não faz ideia de estudos ou o que quer que seja, mas tem acesso a crédito, lá está, porque tem amigos;
o rapaz quer vender os pães e a pastelaria variada a turistas;
o rapaz é sócio do Dias Loureiro, pelo que deve considerar que os portugueses viveram acima das suas possibilidades, razão pela qual a SLN/BPN teve de expiar os pecados de todos nós;
parece que o rapaz se tornou empreendedor aos 40 anos, depois de uma vida de contemplação, serena, mas rica, que lhe permitiu assimilar, com toda a propriedade, a dinâmica da procura e da oferta no mercado de trabalho;
talvez esse trabalho tenha sido feito com a ajuda do brilhante académico Passos Coelho, se calhar mais do que mero guia espiritual;

estes rapazes que desabrocham aos 40 anos começam a ser muito problemáticos para este país, pelo que: Mães, pais, tias, tios deste país, pelo amor de Deus, deixem os vossos filhos(as), sobrinhos(as) e afilhados(as), tornarem-se homens/mulheres em devido tempo.

Jose disse...

Cambada!
Porque é que se reclamam as reformas a partir de uns escassos descontos e os juros nos depósitos bancário?
Porque o capital é remunerado com lucros e juros.
Posto isto, tudo mais são contas.

Quanto ao resto da treta, é simples:
Se o patronato não fosse uma cambada de tarolos, entre a bonomia e o abrilesco e os tribunais um couto de paternalistas com «elevada sensibilidade social», publicavam-se regras detalhadas dos processos de trabalho e despediam sem dificuldade os incumpridores.
Ver-se-ia o que resultava melhor para a saúde dos trabalhadores, a precaridade ou a exigência.
Mas por uma e outra razão, seguramente que a precaridade vai continuar por toda a forma, e vai crescer.
Nunca vi tanta empresa a subcontratar mão-de-obra a empresas de serviços e trabalho temporário!!
Quantas mais regras mais serviços 'externos'; quanto mais chatices e riscos tiver o negócio, mais lucrativo tem de ser.
Cambada, c'est la vie!

Anónimo disse...

Cambada?

Mas o que vem a ser isto?
Um arrependido das nulidades que disse ha pouco em processo de correção do tiro ao lado?

Mas para esconder o puxao-de-orelhas dado trata de dar um ar da sua graça assim deste jeito?

Cambada?

Anónimo disse...

"Porque é que se reclamam as reformas a partir de uns escassos descontos e os juros nos depósitos bancário? "

Repare-se como o tal padeiro careca não está sozinho e logo um outro se assume como seu perito:

"escassos descontos" ( sim? a opinião dum perito?)
Mais os "juros" e os "lucros". E o resto são contas.

Assim se tenta varrer para debaixo do tapete toda a questão da exploração que atravessa todo o universo destes empreendedores carecas.
As contas divididas como as dividiram os donos do BPN/SLN.?

Anónimo disse...

Talvez enfurecido por lhe terem desmontado a vacuidade argumentativa o sujeito da cambada insiste no tema da "treta". Um seu tema favorito.

Rotula de forma apressada os tribunais como um couto de paternalistas com elevada sensibilidade social". Rotula de forma apressada mas sobretudo desonesta. Porque não corresponde à verdade. Porque tenta desqualificar quem se revolta contra o exercício predador dos patrões.
Como o deste patrão

Mas há mais:

"Publicavam-se regras detalhadas dos processos de trabalho" dirá às tantas.

Para meia dúzia de linhas mais abaixo:
"Quantas mais regras mais serviços 'externos'

Em que se fica?
Na tangente exacta entre a aldrabice e a manipulação

Anónimo disse...

"Ver-se-ia o que resultava melhor para a saúde dos trabalhadores, a precaridade ou a exigência"

Só isto é todo um programa ideológico. Com laivos insultosos e ameaçadores:
Vejamos: "Saúde do trabalhador"? O que quer este da cambada dizer com isto?

Exigência?
Qual exigência? A que devia ser exigida aos patrões pela sua escolaridade medíocre e ordinária?

"Mas por uma e outra razão, seguramente que a precariedade vai continuar por toda a forma, e vai crescer".

Não. Não é nem por uma e outra razão apontada desta forma pelo da cambada. A precariedade cresce pelo facto de tal interessar aos patrões e ao Capital. E ser por eles promovida. Com a serviçal subserviência dos seus governos.

A prova?

No pequeno gesto incontinente do da cambada. Involuntariamente não consegue esconder a conclusão pela qual anseia:"tirem as regras , tirem as chatices, tirem os riscos".
Se não os tirarem o negócio ainda vai ser mais lucrativo"

"Isto" não é verdade pois não? Só para proteger o Carvalho este tipo pensará que somos todos atrasados mentais?

Pede-se desculpa mas para treteiros a receita é uma só: confrontá-los com a sua condição.

Jose disse...

O das 00:49, quando não sabe o que dizer, faz-se de parvo e parece ficar feliz!

Anónimo disse...

Herr Jose. Deixe-se de tretas. O confronto com a realidade é desconfortante.
O da treta na ponta da língua ficou apanhado entre os tribunais e as regras. Na tangente como alguém disse.

Ficou infeliz. Caiu-lhe a cambada

Jose disse...

«para treteiros a receita é uma só: confrontá-los com a sua condição»
Cuco, já te disse que essa frase tem a minha autoria e requer aspas!

O Carvalho não precisa de ser protegido.
Chateiem-no muito e ele fará contas e, ao fim de cada tarde passa a enviar um email que diz ao seu fornecedor de serviços quantos de cada profissão devem comparecer em que lojas; e passa a dormir o melhor dos sonos!
Cambada de protectores de 'coitadinhos' só desacreditam quem é trabalhador; e por boa razão o fazem: nunca o foram ou já se esqueceram do que isso seja.

Anónimo disse...

"Cambada" mais uma vez.

Mais a reivindicação do direito aos treteiros serem confrontados...

Ainda nao terá percebido que a frase, que de forma tao piegas reivindica, é a oferta da sua própria imagem refletida no espelho? Sem aspas e com a frieza objectiva do vidro?

Porque será que é preciso sempre explicar tudo?

Tal como a ode ao Carvalho. Nao chegam a ter pena do seu apelo patético a não se chatear o Carvalho?

É que se o chateiam quem sofre mais é o impertinente do trabalhador que ousa perturbar o sono do patrão.

Digam lá se isto não é a evidência absoluta da luta de classes?

Jose disse...

O que é que o direito ao sono tem a ver com a classe?
O direito de defesa individual é para os timoratos e para a carneirada sempre agregado a um qualquer dever do colectivo que lhes poupe o esforço e o risco.

Feitas as contas, sempre o colectivo é acção de uns poucos, sejam eles revolucionários ou líderes de qualquer espécie.

Anónimo disse...

Timoratos, carneirada mais o risco. A substituir o "cambada"?

Mais o direito ao sono

Que patetice é esta? Uma fuga também. Mas a indigência de quem nem sequer se lembra que quem convocou o sono do patrão, do Carvalho, foi o mesmo que agora pergunta a relação com a classe.

Nao se sabe se há motivos para alem dos ideológicos que determinem estes "lapsos". Para nao se cair em especulações que podem ser ofensivas, mantém-se a afirmação da tangente entre a aldrabice e a manipulaçao. Tal como aconteceu com as " regras detalhadas" e as "mais regras"

O resto é a marca da classe possidente com esta falta de classe.

( E sobretudo nao chateiem o Carvalho.Senao lixan--se, não é mesmo?)