domingo, 29 de janeiro de 2017

Cosmopolitismos há muitos

O de Gunnar Myrdal, o social-democrata que dividiu o prémio Nobel da Economia com Hayek, por exemplo:

“(...) O nacionalismo, como tenho sugerido, tem uma importante função na união das massas, na sua inspiração num propósito comum e numa política unificada e isto torna-se ainda mais importante na ausência de facto de uma comunidade mundial funcional. Mas sinto uma responsabilidade especial em lembrar que uma política económica não se torna racional meramente por apelar a sentimentos nacionais e ainda menos por poder causar danos a outras nações. É crucial sublinhar este aspecto porquanto, por razões naturais, o nacionalismo nos países desprivilegiados contém, não apenas ímpetos positivos de crescimento e bem estar em casa, mas também muito ressentimento contra aqueles países ricos que, até recentemente, têm usado poder para controlar as suas aspirações nacionais.

Há uma regra simples que deve ser observada quando se traça a linha entre o que é, e não é, um nacionalismo são e razoável: um país subdesenvolvido age correctamente se tomar todas e quaisquer medidas que uma avaliação sensata possa provar que melhoram o seu bem estar económico; contudo, deve evitar cuidadosamente quaisquer medidas de política que não sejam nacionalmente benéficas nos seus efeitos globais finais. Adicionalmente, do ponto de vista cultural, esse país deve aprender com todo o mundo: erguer barreiras contra a civilização e os valores dos mais ricos do mundo é uma política derrotista, que um país pobre é o último a poder suportar.

Advogo um nacionalismo racional com a consciência tranquila, dado que estou convicto que o sucesso real de políticas económicas nacionalistas nos países subdesenvolvidos levar-nos-ia mais perto, e não mais longe, da fase em que uma política mundial integrada, baseada na solidariedade internacional, poderia ser eficazmente tentada. É a pobreza em si mesmo que mantém os níveis de cultura baixos nos países subdesenvolvidos. E, gostemos ou não, a solidariedade não é um estado de espírito nutrido pela compaixão condescendente por aqueles que são diferentes; a solidariedade desenvolve-se naturalmente entre iguais ou quase iguais (...)” (págs. 66-67).


“(...) Para falar em termos Hegelianos: o caminho para a integração internacional deve ser procurado através da integração nacional. A adopção de políticas nacionalistas pelos países pobres e um incremento do seu poder negocial, como resultado dessas políticas e do incremento da cooperação entre eles enquanto grupo, constituem uma fase necessária no desenvolvimento de uma mais efetiva e alargada cooperação internacional (...)” (pág. 70).

20 comentários:

Anónimo disse...

Nem mais. Um texto muito bem escolhido.

Depois virá mais um ou outro, de botas calçadas, falar em Salazar, escondendo no próprio armário a farda da legião?

O caminho entre um salazarista de outrora e um cosmopolita hodierno é curto. E varia na razão inversa do seu apetite pelo lucro.

Jaime Santos disse...

Eu pergunto-me quantos dos países em vias de desenvolvimento foram bem sucedidos economicamente adotando modelos baseados no protecionismo e no estatismo. A generalidade dos países ditos emergentes ou adotaram modelos de capitalismo selvagem para se conseguirem desenvolver (casos da China ou da Índia), beneficiando da abertura do comércio mundial, ou então converteram-se em oligarquias em que os interesses da elite que governa se confundem com os do próprio País (casos de Angola ou da própria Rússia), muitas vezes profundamente dependentes do comércio de matérias primas como o petróleo e os minerais, sujeitas a variações apreciáveis de preço (veja-se a crise em Angola ou na Rússia dos anos 90). Mas talvez o principal problema tenha sido, como diz Myrdal, a rejeição dos valores dos mais ricos, a começar pela Democracia e pela Transparência.

Jose disse...

O das 18:18 aplaude tudo o que aparece, ainda que seja o receituário para o Portugal de 1950!

Anónimo disse...

Eu vinha há pouco a pensar num tema conexo. Ao chegar num outro país da Europa a diferença entre o noticiário político desse país, e o daquele também europeu de onde se vem, é muito mais pronunciada do que qualquer outra diferença entre esses dois países. Não será isso mais um sintoma do desfazamento da política em relação aos verdadeiros dilemas de vida dos nossos concidadãos? Escusado será dizer que não estou nada optimista em relação à evolução política na Europa, ou no Mundo, não sejamos modestos. Outro aspecto que choca quem chega a Lisboa é a propaganda na sala das bagagens do aeroporto: real estate para ricaços, em especial chineses. No fundo o nosso futuro é ser criadas(os) de servir. O que relativiza bastante o sentimento nacional, e dá vontade de tomar o avião de volta. Para onde?

Anónimo disse...

É uma tristeza.

Aqui em toda a sua (pequena) extensão a vã deriva ideológica dos que se dizem sociais-democratas.

O texto que se coloca é um texto de um social-democrata. De há já mais de 50 anos. Nada tem de revolucionário. Aquilo que dele ressalta é sobretudo uma posição honesta dum social-democrata, posição equilibrada, fundamentada, solidária com os países desprivilegiados.

"o nacionalismo nos países desprivilegiados contém, não apenas ímpetos positivos de crescimento e bem estar em casa, mas também muito ressentimento contra aqueles países ricos que, até recentemente, têm usado poder para controlar as suas aspirações nacionais".
A evidência desta constatação é inquestionável

"um país subdesenvolvido age correctamente se tomar todas e quaisquer medidas que uma avaliação sensata possa provar que melhoram o seu bem estar económico"

"Advogo um nacionalismo racional com a consciência tranquila, dado que estou convicto que o sucesso real de políticas económicas nacionalistas nos países subdesenvolvidos levar-nos-ia mais perto, e não mais longe, da fase em que uma política mundial integrada, baseada na solidariedade internacional, poderia ser eficazmente tentada. É a pobreza em si mesmo que mantém os níveis de cultura baixos nos países subdesenvolvidos"

"A adopção de políticas nacionalistas pelos países pobres e um incremento do seu poder negocial, como resultado dessas políticas e do incremento da cooperação entre eles enquanto grupo, constituem uma fase necessária no desenvolvimento de uma mais efetiva e alargada cooperação internacional"

É a "isto" que se atira Jaime Santos? Ainda por cima da forma como o faz, citando exemplos que depois excepciona, revelando um pensamento tortuoso e sobretudo não honesto?

Aqui se revela uma das muitas pontas que mostram um dos motivos pelos quais uma dita "esquerda" está no estado em que está. Trai princípios básicos, princípios que formataram os seus combates. Trai os que disseram defender e com que se comprometeram combater.

Por isso estão reduzidos quantas vezes a estes exercícios florais, enquanto se afundam lenta mas inexoravelmente os países europeus sujeitos às grelhas da UE.

Anónimo disse...

O principal problema não será assim a rejeição dos valores dos mais ricos, a começar pela democracia e pela transparência.

Valores que como se sabe são apenas slogans propagandistas a descartar quando tal é necessário. Nem o respeito pelo voto popular, nem o respeito por qualquer transparência, como Edward Joseph Snowden bem o demonstrou.

Adivinha-se uma qualquer defesa envergonhada de um neocolonialismo moderno?

E enquanto se fala em Angola e na Rússia, não se fala na UE e em Portugal:

"Portugal, dos perto de duzentos países da ONU, está entre os dez que menos cresceu desde a adesão ao euro. Dos outros nove, dois, a Grécia e a Itália, não por acaso, são também da periferia do euro. Outros dois, a Micronésia e Palau, respetivamente com 106 mil e 18 mil habitantes, menos que os concelho de Funchal ou de Barcelos, são “ilhotas perdidas” no Pacífico. E os outros cinco, a Síria, o Sudão do Sul, a Líbia, o Zimbabué e a República Centro-Africana, foram países destruídos por guerras ou violentos conflitos civis"

A este respeito o que sobra é mesmo o silêncio.

Anónimo disse...

Aplaude? O das 18 e 18?
Mas como saberá herr José? É o cuco que o diz? A mãe do Cuco? O cuco ds mãe?

Mas e se for verdade? Ou mesmo meia- verdade? Ou mesmo inverdade?
Por que carga de água fica assim herr Jose?
Para que nao o acusem de andar a fazer aquilo que anda a fazer?

Mas independentemente da comichão estranha de herr jose, porque motivo herr Jose mao aborda o que se discute em vez de se lamuriar desta forma apatetada?

Jose disse...

Pois é Cuco...
É receita dos anos 50, e até um pouco mais além.
O ´potencial do proteccionismo varia na razão inversa do desenvolvimento tecnológico.
Veja-se o caso do Brasil. Toda a protecção só lhe valeu para consolidar a corrupção,

A esquerda dedica-se a preservar dogmas e transformou-se em força de bloqueio do progresso económico.
Na fase presente, as dinâmicas económicas não se adequam aos dogmas de uma organização social fundada em modos de produção estáveis num mundo de transformações lentas.
Compreende-se a dificuldade de passar de um hierarquizado plano quinquenal para o quinzenal; de uma democracia orgânica para uma democracia mediática... c'est la vie!

Anónimo disse...


Esta coisa do “nacionalismo” tem muito que se lhe diga, ate porque afecta o bem-estar da população. Neste 77 anos de minha vida passei por nacionalista, bairrista e agora no dealbar internacionalista. E´ claro que tenho uma pátria como outro qualquer cidadão, também tenho a terra onde nasci e faço parte desta Europa no centro do mundo. Convêm no entanto dizer que esta situação não me obriga, em caso algum,
pactuar com actos deterministas porque não pedi para nascer aqui ou ali, simplesmente sou português. Como diria Eça, trilhei desde o seio materno, passando pelo padre e mais tarde pelo almirante uma vida bem a´ portuguesa. E por isso mesmo fartei-me desses imbricamentos. Nacionalismos, bairrismos e internacionalismos não passam de jogos perigosos para alguns gerirem e dividirem os povos a seu belo prazer. De Adelino Silva

Anónimo disse...

Pois é herr Jose.

Não respondeu à primeira questão
E a primeira questão tem a ver com os aplausos trazidos a esta conversa por herr jose

Quem lhe disse tal? Foi o cuco? A mãe do cuco? O cuco da sua mãe?

Aguardamos a justificação da sua atoarda. Para delimitarmos o terreno do ponto de vista higiénico.

E depois falaremos dos tipos que gritavam que Angola era nossa e que agora falam em Deutschland uber slles. Como com toda a certeza Herr Jose se lembra.

Já lá iremos.

Anónimo disse...

Veja-se o caso do Brasil mais a protecção mais a corrupção.

Infelizmente para o sujeito, o Brasil é um bom exemplo. Do que é ser um pais capitalista, sujeito às regras da maximização do lucro e da concentração do capital. Governado durante bastos anos por um governo fascista a que a seguiram governos de direira corrupta. O ventre da besta não reside no proteccionismo mas sim no Capital. E o capital escolhe geralmente a dança que quer dançar.

Por isso o exemplo de Brasil é um excelente exemplo do modelo de sociedade de trampa que este fulano quer. Mas apresentado de forma encapotada, como se não fosse nada com ele. Até lhe dedcobrirem a careca

Jose disse...

Cuco, só nos aplausos manténs alguma coerência.
E nem a formular insultos consegues ser consistente e claro...

Anónimo disse...

O que é extraordinário é a tentativa de puxar o debate para uma simples questão "proteccionismo" versus "cosmopolitismo". Um chega ao ponto de tentar fazer uma serenata acerca dos anos 50.

O autor deste post chama atenção para a hipocrisia descarada dos "cosmopolitas" da actualidade, com a sua retórica oca, que procuram apresentar-se como veículos duma espécie de "modernidade" referendada pelas elites e pelo "bom-senso". Uma espécie de papagueadores das vantagens do progresso da humanidade feita em função da "globalização". Um chega ao ponto de desaustinado e embalado pela sua própria função falar em "bloqueio do progresso económico" e em "dinâmicas económicas" e em "dogmas" e em "transformações lentas". Um modernaço a esconjurar os "reaccionários" que não querem seguir os mandamentos da modernidade. O que está a tentar vender é uma casa de proxenetas como se fosse o paraíso terrestre.

E aqui voltamos ao que o autor do post desmascara. Desmascara o discurso oco e vazio de quem estabelece verdades definitivas,tentando rasurar as próprias escolas ideológicas de que se dizem descendentes. Dá uma bofetada de luva branca nos pataratas cosmopolitas e chama a atenção que estas questões devem ser levadas com muito mais seriedade que as patetices tolas e tontas dum Vital Moreira ou dum qualquer neoliberal de pacotilha a declamar em francês.

Anónimo disse...

Os posts sobre este tema e sobre temas correlacionados têm sido periodicamente postados por aqui.
Este por exemplo bem recente de João Rodrigues
https://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2017/01/o-passado-e-o-futuro-sao-paises-que.html

Claro que se verifica nos comentários que há quem não perceba o que leia ou que simplesmente esteja a fazer o seu trabalho em prol dos "cosmopolitas " do mercado.
Claro que estas questões estão intimamente relacionadas com os europeístas e com a sua impotência de mostrarem a mais valia deste projecto sem ser reivindicando um pedegree tonto e falhado.

Ninguém defende de forma obtusa o proteccionismo tout court. O que se defende é olhar para a situação com outros olhos que não sejam os do mercado a reivindicar a sua cada vez maior quota.Percebe-se que os ressabiados colonialistas assumam projectos neocoloniais na sua procura de manterem o saque sobre os povos.

O que se tenta é reivindicar o direito soberano dos povos. É reivindicar o internacionalismo assumindo a condição de homens e povos livres e não sujeitos à canga do Capital.

Há mais a dizer. por exemplo sobre a corrupção referida aí em cima por alguém. Fica para depois

Anónimo disse...

Pois herr jose
Voltou a não responder à primeira questão E a primeira questão tem a ver com os aplausos trazidos a esta conversa por herr jose

Quem lhe disse tal? Foi o cuco? A mãe do cuco? O cuco da sua mãe?

Aguardamos a justificação da sua atoarda. Para delimitarmos o terreno do ponto de vista higiénico.

Entretanto quanto aos insultos...essas coisas deixam-se para uso de herr jose.



Jose disse...

«...olhos que não sejam os do mercado a reivindicar a sua cada vez maior quota.»

Isto não é protecionismo; é ir ao mercado e soberanamente dizer: esta quota é minha! Ora sendo 'cada vez maior' a quota, haverá expansão, logo uma soberania imperialista.

Que trapalhada!

Anónimo disse...

"O potencial do proteccionismo varia na razão inversa do desenvolvimento tecnológico". A que se seque o Brasil mais a corrupção

Tretas. Escondidas debaixo de uma matemática para burguês ver e da manipulação histórica para patrão cantar

"Em primeiro lugar, pode dizer-se que no chamado longo século XIX os EUA inventaram o proteccionismo como técnica bem-sucedida para a industrialização, através, entre outros, do relatório sobre as indústrias do seu primeiro Secretário do Tesouro, Alexander Hamilton: a indústria é a base material da independência nacional e não se desenvolve espontaneamente. A guerra civil nos EUA foi depois travada entre o Norte proteccionista e abolicionista e o Sul escravocrata e defensor do comércio livre, o que indica que a história não encaixa bem nas narrativas convencionais. A história do algodão de resto não engana. Os EUA foram fortemente proteccionistas em matéria comercial pelo menos até à primeira metade do século XX, ou seja, até que estiveram prontos para o proteccionismo dos que se sentem mais fortes, também conhecido por comércio livre"
(joão Rodrigues)

Anónimo disse...

"as dinâmicas económicas não se adequam aos dogmas de uma organização social fundada em modos de produção estáveis num mundo de transformações lentas.Compreende-se a dificuldade de passar de um hierarquizado plano quinquenal para o quinzenal"

Mais tretas para burguês ver. Mais propaganda néscia sobre as virtudes do Capital.
A tradução é a que se segue mais abaixo e foi feita pelo próprio treteiro em causa aquando da denúncia de Nuno carvalho mais as suas declarações a favor da exploração desenfreada:

"Chateiem-no muito ( ao tal Carvalho) e ele fará contas e, ao fim de cada tarde passa a enviar um email que diz ao seu fornecedor de serviços quantos de cada profissão devem comparecer em que lojas; e passa a dormir o melhor dos sonos! "
Jose dixit

É que se o chateiam quem sofre mais é o impertinente do trabalhador que ousa perturbar o sono do patrão.

São estas as "dinamicas económicas" defendidas por tal gentalha

Anónimo disse...

Que trapalhada, dirá herr Jose.

E berra pelo mercado e pelo direito ao saque. Ao quinhão. Ao império. Ele, logo ele, patrocinador de patrões, ele próprio patrão.

Agora basta ler e dar uma bos gargalhada de tao grande dinamismo da treta

Anónimo disse...

O protecionismo foi e é ainda usado pelo Capital sempre que tal lhe seja útil.
Os monopólios e os oligo- monopólios são a face visível, se bem que oculta, desse mesmo proteccionismo, disfarçado de livre- concorrência.
Ainda bem que a trapalhada de jose desembocou no imperialismo. Sobre tal é útil ler Lenine sem preconceitos. Por vezes é duma clareza espantosa e os exemplos dados aí em cima parece que confirmam de forma espantosa as suas teses. Venham mais.