sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

E estes modelos, para quê?

Em 2008 foram incapazes de perceber que a economia mundial estava à beira do colapso - depois foi o que se viu. No ano passado previram que a economia britânica ia colapsar com o Brexit - e afinal parece ir de vento em popa. O economista-chefe do Banco de Inglaterra vem agora dar a mão à palmatória, reconhecendo que os modelos de previsão macroeconómica habitualmente utilizados reflectem muito mal o mundo tal como ele existe.

É um alerta importante - ainda que velho de barbas - para aqueles que se deixam enfeitiçar pela sofisticação dos modelos matemáticos aplicados à análise económica. Esses modelos são úteis? Podem ser, desde que não esperemos mais deles do que têm para dar. Desde que não façamos deles o princípio e o fim da ciência económica. E desde que não abdiquemos de analisar a evolução económica nos contextos institucionais e políticos em que tem efectivamente lugar.

25 comentários:

Anónimo disse...

Nunca e´ tarde para dar a mão a´ palmatoria ainda que tenha custado caro às populações.
Em Portugal continua-se a protelar a saída deste Proto modelo económico sistémico que e´ a U.E. E´ pena!
E o pior, pior e´ ter apoio daqueles que se dizem contra este modelo económico. Deixar de ir a´ Sopa do Barroso para receber «caridadezinha» não deixa de ser a mesma coisa…já´ dizia a minha avo´
De Adelino Silva

Anónimo disse...

Seria importante saber se esse alerta é velho porque não é relevante apesar de andar sempre a aparecer ao longo dos tempos ou porque mesmo sendo relevante não haja muito que se possa fazer.

Quais são as limitações desses modelos? Até que ponto é que são úteis? Haverá outros modelos com limitações e utilidades bastante distintas?

Anónimo disse...

Um post muito útil e muito oportuno.

Antes de mais pelo alerta sobre os modelos matemáticos aplicados à análise económica.

Mas também pelo relembrar (sempre necessário) dos falhanços clamorosos citados por RPM e que deviam envergonhar a maior parte dos economistas "oficiais" que pululam nos media fidelizados

Anónimo disse...

E quem diz modelos económicos, podia também dizer modelos climáticos.

JR

Anónimo disse...

"... vemos como a utopia neoliberal tende a transformar-se na realidade numa espécie de máquina infernal, cuja necessidade se impõe até sobre os governantes... esta utopia evoca a crença poderosa — a fé do livre comercio — não só entre os que vivem dela, como dos financistas, dos donos e gerentes de grandes corporações, etc., mas também entre aqueles que como altos funcionários governamentais e políticos, aceitam a sua justificação vivendo dela. Eles santificam o poder dos mercados em nome da eficiência económica, que requer a eliminação de barreiras administrativas e políticas capazes de obstruir os donos do capital na sua busca da maximização do lucro individual, que se transformou num modelo de racionalidade.... E pregam a subordinação dos estados nacionais aos requisitos da liberdade económica para os mercados, a proibição dos défices e a inflação, a privatização geral dos serviços públicos e a redução das despesas públicas e sociais.
Os economistas podem não compartilhar necessariamente os interesses económicos e sociais dos devotos verdadeiros e podem ter diversos estados psíquicos individuais em relação aos efeitos económicos e sociais da utopia, que dissimulam a sua capa de razão matemática. Mas têm interesses específicos suficientes no campo da ciência económica para contribuir decisivamente para a produção e reprodução da devoção pela utopia neoliberal. Separados das realidades do mundo económico e social pela sua existência e sobretudo pela sua formação intelectual, na maior parte das vezes abstracta, livresca e teórica, estão particularmente inclinados a confundir as casas da lógica com a lógica das casas.
Estes economistas confiam em modelos que quase nunca têm oportunidades de submeter à verificação experimental e são levados a desprezar os resultados de outras ciências históricas, em que não reconhecem a pureza e transparência cristalina dos seus jogos matemáticos e cuja necessidade real e profunda complexidade com frequência são incapazes de compreender. Ainda assim algumas das suas consequências horrorizam-nos (podem ligar-se a um partido socialista e dar conselhos instruídos aos seus representantes na estrutura do poder), esta utopia não pode molestá-los porque, com o risco de poucas falhas, imputadas ao que às vezes se chama «bolhas especulativas», tendem a dar realidade à utopia ultralógica (ultralógica como certas formas de loucura) a que consagram as suas vidas".

Isto escreveu Pierre Bourdieu em 1998

Anónimo disse...

Deixa estar que o Louçã não fica atrás. Já perdi a conta das vezes que garantia, sempre com a certeza categórica da ignorância, que tínhamos no curto prazo uma nova grande crise financeira. Que chegará, quase certamente, afinal são recorrentes, mas não nos prazos do Zandinga.

Por exemplo, escrevia a 18 de Janeiro no blog do Público: «Uma nova crise financeira não é uma possibilidade. É uma certeza. E essa certeza tem consequências para o euro, para a Europa, para as economias emergentes, para as relações internacionais de poder. Como terá para o Orçamento do Estado português para 2016».

Descontem-se as banalidades das implicações de uma grande crise mundial e atente-se nas consequências específicas para o nosso Orçamento de… 2016. Ah, pois é, mais uma profecia furada. Que continue a lançar os seus búzios, algum dia acerta… como sucedia uma vez por outra ao astrólogo.

Jose disse...

O Brexit não ocorreu nem está definido e o que dele possa resultar não é ainda modelável.
De facto nada o é de momento: a variável Trump/Putin/Xi Jinping não tem parâmetros definidos e as condicionantes da guerra económica estão a ser alinhadas para entrar em funções a curto prazo, protegendo fronteiras e ameaçando o estrangeiro.
O entusiasmo da esquerda indígena por essa eventualidade, a ambição de a ela se abalançarem com assomos de um arrojo que será nova maravilha fatal da nossa idade.
Qual internacionalismo, qual terceiro-mundismo, qual comércio justo e justas razões de troca.
Às armas é o brado, travestido de moeda desvalorizada, dívida esquecida e Europa desacreditada e dividida.

Anónimo disse...

Ah ... Esse travestimento feito paleio para boi dormir, passeando.se pela idade fatal e pelo comércio justo e pelo brado e por outras pieguices a armar ao pingarelho...só para fugir ao que se denuncia neste excelente post

Anónimo disse...

( Ameaçando o estrangeiro.mais do que a Nato e os EUA e a França e o RU e etc que ameaçaram o Iraque e a Libia e a Siria? A mortandade e os masacres a decorrerem e herr jose a pedir mais músculo e mais intervenção armada e mais bombas e mais genocídios.

Não se lembrará herr jose destas ameaças ao estrangeiro? Então deixe de ser cinico e aldrabão ou de pensar que por aqui não existe memória ).

António Pedro Pereira disse...

Caro Ricardo:
Que melhor encontra do que o rigor científico da Matemática para caucionar as opções ideológicas?

António Pedro Pereira disse...

José(zito):
Foi descoberto um novo medicamento para a disfunção cognitiva.
Vai à farmácia.
Trata-te- troll.

Anónimo disse...


Esta coisa a que deram o título de Crise veio para ficar, ela e´ perene neste sistémico sistema capitalista, ela acaba quando o sistema for banido, quando o capital for derrubado pelo trabalho!
Portanto, não haverá nova crise, esta se renovara´ por si própria, tanto quanto o capitalismo se exorcizar…
Os arautos da mediocridade bem podem continuar a deixar as suas larachas em tudo que e´ comunicação social, pintar de cores garridas o quadro social ou vender gato por lebre…Dentro do sistema actual nem a geringonça se salvara´. Já deviam ter percebido!
Estamos no interlúdio sem compasso de espera.
De Adelino Silva

Anónimo disse...

Uma grande crise vai começar?!

É preciso ser muito ingénuo para acreditar que saíram de qualquer crise…

Estamos em crise contínua há muitos anos, e se as coisas melhoraram porque é que a crispação continua?

Trump, Brexit são apenas sintomas de uma globalização neoliberal capitalista em decadência, e isto para alguns é terrível pois pensavam que a sua utopia (ou será distopia…) era uma inevitabilidade.

Bem podem tentar escamotear o mal, não o conseguirão, a propaganda já não funciona os povos começaram a rebelar-se contra a tirania que lhes andou a ser imposta.

Jose disse...

O que de desesperança anda por aqui!
Nem a matemática nem as inevitabilidades marxistas parecem já aplicáveis!

A descrença no Homem só pode justificar-se por o terem tornado num coitadinho destinado a ser vitimado por 'sistemas' em que, sem fé nem sonho, nem é autor nem actor.

Assim será enquanto, espartilhado nas baias de um igualdade que lhe nega o espírito, desprovido de uma moral individual e colectiva, o transformam em mero destino de um qualquer PIB.

Jaime Santos disse...

Foi Keynes quem disse, creio, que preferia estar em linhas gerais certo, a estar precisamente errado. No entanto, os ditos modelos e planos têm uma vantagem. Se falham, podemos criticá-los onde falharam. Por outro lado, de quem se refugia na ideologia nunca podemos esperar mais do que afirmações vagas e o eterno otimismo de quem acredita que os sacrifícios não devem ser nomeados, porque serão sempre pequenos. E depois, o que é curioso é que essa ideologia se baseia normalmente em modelos determinísticos da História que já falharam vezes sem conta e num grau que faria empalidecer de inveja as modestas previsões dos modernos economistas. Ou seja, a ação política moderna deveria antes de tudo nortear-se por um modesto e belo princípio enunciado por Tony Judt pouco antes da sua morte: devemos, acima de tudo, procurar evitar mundos piores...

Anónimo disse...

Parece que há quem avance que prefere estar em linhas gerais certo a estar precisamente errado.

A questão que atravessa esta frase, a grande questão que atravessa esta frase é esta:
O que é isto de estar em linhas gerais certo e estar precisamente errado? Quem define tal? O próprio? Os seus parceiros? Os sues opositores? A História? Em que momento da sua leitura?

Passos Coelho poderá subscrever esta frase. Quem anda a defender os seus interesses de classe jurará isto mesmo. Quaisquer que sejam estes interesses.

Pelo que é uma frase pobre, paupérrima para esconder a miséria denunciada por aqui.

Anónimo disse...

A acção política poder-se-ia nortear por muitos e bons princípios. O procurar evitar mundos piores é com toda a certeza um deles, sabendo nós que o mundo está de tal forma que isto não basta. E sabendo nós que a maioria das vezes a tal acção política deixou o mundo pior do que já estava.

Aqui entroncam necessariamente as"modestas previsões dos modernos economistas". É que a maioria destes "modestos" tipos deixaram o mundo bem pior do que já estava. E de acordo com tais modestas previsões deram origem a um agravamento das condições de vida de muitos milhões e milhões de seres humanos.

Claro que para tais tipos que desenvolveram modelos e planos que falharam pode sempre haver a Critica. E até lhes dar uma condecoração pelo seu esforço modesto de terem contribuído com os seus planos e os seus modelos para um qualquer futuro.

Acontece que a maioria de tais planos e de tais modelos falharam. Conduziram o mundo a um lugar pior. E vão por água abaixo as piedosas palavras que fazem empalidecer de inveja os males tantas vezes nomeados num processo de disco riscado a repetir a cassete do costume.

E os tais ditos modestos ( modestos? Só mesmo a gozar)economistas podem ser absolvidos pelos confrades mediante não sei quantos Padres-Nossos e Avé-Marias, porque são passíveis, veja-se bem, da Crítica.

Quando a escola de Chicago avançou como os seus sinistros planos e modelos sob a batuta de Friedman e capitaneada por Pinochet, pode-se dizer que abriu a caixa de Pandora. Podem no entanto as suas vítimas ficar consoladas porque tal doutrina foi criticada.

E quando os axiomas neoliberais se espalharam pelo globo, fazendo crer em "planos e modelos" bem sujos e emporcalhados....podem as suas vítimas terem descanso e sossego. Foram apenas erros matemáticos. E basta a sua crítica para lavar os sacrifícios que não devem ser nomeados, porque serão sempre sacrifícios pequenos.

Há aqui algo que não cola. E não só não cola como adquire foros de desonestidade e de má fé

Anónimo disse...

Temos assim que para refutar este belo texto de RPM,Jaime Santos opte por duas escassas linhas em que tenta justificar a honra perdida dos "planos e modelos". Virando-se depois, por uma série mais numerosa de outras linhas para outro lado, repetindo pela enésima vez um discurso que não justifica em nada as suas opções ideológicas ou a eventual bondade destas.

Tenta-nos assim convencer da velha treta do mal-menor sem se aperceber de duas coisas:
- que os factos são tão poderosos que esvaziam de conteúdo o discurso em torno das benesses do mundo ofertado por Jaime Santos ( reduzidas a duas linhas de justificações mal paridas)
- que quem tem deixado o seu legado ao mundo o tem feito quase que invariavelmente tornando-o um lugar pior. E assim se arruína uma bela e piedosa frase mas que é utilizada aqui de forma profundamente hipócrita.

As citações têm destas coisas. Por vezes servem apenas para ocultar a vacuidade argumentativa de quem as utiliza.

Anónimo disse...

Deve ser duro ouvir uma verdade de la Palisse que no entanto é ocultada por todos os meios mediáticos do poder dominante:

"Em 2008 foram incapazes de perceber que a economia mundial estava à beira do colapso - depois foi o que se viu"

Um facto incontestável que mina por completo a pretensa cientificidade da economia. Mas que mina outra coisa. Mina a credibilidade da maioria dos economistas, afinal peões entretidos num jogo em que tomaram o seu lugar dum dos lados da barricada e em que forneceram os "planos e os modelos" tidos por adequados para justificar as políticas que nos conduziram até aqui. Cúmplices e coniventes foi o que foram

Tal como deve ser duro ler isto:

"No ano passado previram que a economia britânica ia colapsar com o Brexit - e afinal parece ir de vento em popa. O economista-chefe do Banco de Inglaterra vem agora dar a mão à palmatória, reconhecendo que os modelos de previsão macroeconómica habitualmente utilizados reflectem muito mal o mundo tal como ele existe".

Porque arruína o discurso de muitos sobre o assunto, entre os quais Jaime Santos, que incapazes de assumir o que disseram e de tirarem daí ilações, preferem outros processos.

Por isso a fuga para o perdão divino e salvífico da "crítica" e para um "outro lado", qualquer que este seja.

Anónimo disse...

Duma forma muito mais elegante Pierre Bourdieu citado aí em cima:

"Os economistas podem não compartilhar necessariamente os interesses económicos e sociais dos devotos verdadeiros e podem ter diversos estados psíquicos individuais em relação aos efeitos económicos e sociais da utopia, que dissimulam a sua capa de razão matemática. Mas têm interesses específicos suficientes no campo da ciência económica para contribuir decisivamente para a produção e reprodução da devoção pela utopia neoliberal. Separados das realidades do mundo económico e social pela sua existência e sobretudo pela sua formação intelectual, na maior parte das vezes abstracta, livresca e teórica, estão particularmente inclinados a confundir as casas da lógica com a lógica das casas.
Estes economistas confiam em modelos que quase nunca têm oportunidades de submeter à verificação experimental e são levados a desprezar os resultados de outras ciências históricas, em que não reconhecem a pureza e transparência cristalina dos seus jogos matemáticos e cuja necessidade real e profunda complexidade com frequência são incapazes de compreender."

Honra seja feita contudo às excepções que as houve e as há. E exemplo destas, com todo o mérito, os autores do LdB.

Anónimo disse...

O comentário do sujeito das 17 e 52 não merece sequer grandes reparos, já que se auto-desqualifica por si próprio.
O coitado nem se apercebe que a desesperança que aí critica, dinamita o seu comentário anterior,cheio de choradinhos com as variáveis Trump e Putin e Xi e condicionantes da guerra económica a curto prazo, e ameaças ao estrangeiro e maravilhas fatais e travestis de moeda desvalorizada e dívida esquecida e Europa desacreditada e dividida.

Pelo que ficamos sem saber se a sua crença ou descrença no Homem varia na exacta medida em que assume o seu papel da forma mais conveniente para a defesa, como autor ou como actor, do seu "sistema".

Mas deixando para lá a patetice ignara da "moral individual" há outra coisa que destrói o seu comentário, cheio de coisas pias ,como essa de moral individual e na descrença no Homem e na fé e no espírito e na moral.

É quando fala no "espartilhado nas baias de um igualdade".
Preferirá com toda a certeza as baias da desigualdade.

Essa história da igualdade só mesmo para animais como é expresso desta forma tão grotesca e que nem os eventuais estados de embriaguez ou de senilidade permitem atenuar a sua gravidade.

Jose disse...

Há discordância que são o meu conforto.

Carlos disse...

É um problema dos formalismos matemáticos em geral: qual a sua ligação ao real? Na mecânica clássica, funcionam razoavelmente; já quando passamos à biologia a sua adequação é, no mínimo, problemática e serve de regra o que disse René Thom: uma teoria que explica, não prevê, e a que prevê, não explica. E ao nível das Ciências Sociais, como a Economia (!), o uso desses modelos quantitativos é sempre secundário e dependente das avaliações qualitativas, duma Sensibilidade aos problemas.

Anónimo disse...

Amém dirá o coneqo jose.
E partirá para elaborar uma Fátua contra quem nao obedeça sos mercados, à competição selvagem e à tia Cristas

Anónimo disse...


“A esquerda, em consequência de sua história, aprendeu muito bem a resistir a cenários adversos. Esse esforço foi fundamental para a sua sobrevivência, mas deixou de ser suficiente”. Hoje e pela primeira vez na nossa historia democratica tem um governo e um parlamento com maioria absoluta dando aso a criar condiçoes propicias ao estabelecimento de uma democracia mais avançada.
O desafio não é somente resistir a uma U.E. federalista e sua agenda de eliminação de direitos que provocará graves prejuízos aos trabalhadores. E´ tambem preciso saber reexistir, reinventar a nossa existência e dar um novo sentido ao nosso papel e às nossas práticas, principalmente em relação àqueles que pensam diferente de nós. Eis a importância do trabalho de base. De Adelino Silva