quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A culpa dos juros é toda da geringonça. Mas só às vezes.

Para sabermos se as taxas de juro da dívida pública portuguesa estão a subir ou descer não precisamos de seguir as informações financeiras - basta consultar as redes sociais. Se os juros estiverem a subir, não faltarão alarmes sobre os impactos devastadores que o governo apoiado pelas esquerdas está a ter no país. Se estiverem a descer, os mesmos observadores atentos e preocupados tiram férias das redes sociais.

O Fabian Figueiredo procurou ir além do habitual maniqueísmo, escrevendo um texto no esquerda.net intitulado "Porque subiram os juros da dívida pública portuguesa?". A pergunta foi colocada a seis economistas (de esquerda, claro está), quatro deles autores deste blog. Ficam abaixo as respostas que dei às quatro questões colocadas.


1. Porque sobem os juros da dívida pública portuguesa?

A evolução dos juros de títulos negociados nos mercados financeiros é sempre determinada por um conjunto de factores objectivos e subjectivos, uns deles de carácter geral outros de natureza idiossincrática. Logo, raramente conseguimos atribuir de forma inequívoca a variação dos juros a este ou aquele factor. A subida dos juros da dívida portuguesa desde final de 2015 parece estar associada a quatro factores principais: i) o crescente reconhecimento da fragilidade do sistema bancário português, ii) a entrada em vigor das regras da União Bancária da UE (que criam riscos acrescidos para os investidores privados), iii) as dúvidas sobre o empenho das autoridades da UE, em particular do BCE, para evitar uma nova escalada de juros em Portugal e, mais recentemente, iv) as perspectivas de um aumento das taxas de juro nos EUA (que afasta os investidores privados dos mercados de dívida europeus).


2. A que se deve a disparidade dos valores dos juros em relação a Espanha e/ou Irlanda?

Há três factores principais: i) as economia irlandesa e espanhola são estruturalmente menos frágeis do que a portuguesa, ii) os "programas de ajustamento" a que foram sujeitos tiveram como preocupação central o saneamento do sistema bancário nacional (o que não se verificou em Portugal) e iii) sempre que há instabilidade nos mercados financeiros, os elos mais fracos são sempre os primeiros a sentir o efeito de movimentos de cariz especulativo.


3. A subida dos juros deve-se ao facto de em Portugal o governo ser suportado pelo Bloco de Esquerda e PCP?

A base de apoio parlamentar do governo pode ter influenciado a evolução dos juros numa fase inicial por duas vias: i) a hostilidade com que foi recebida pela Comissão Europeia e ii) a dificuldade que alguns analistas externos tiveram em perceber a natureza e o alcance dos acordos estabelecidos. Em qualquer caso, não creio que este factor seja essencial para compreender a evolução dos juros sobre a dívida pública portuguesa no último ano e meio.


4. A nacionalização do Novo Banco pode influenciar os juros da dívida pública?

Tendo em conta a relevância do Novo Banco no sistema bancário português e os potenciais impactos da solução encontrada nas contas públicas, este processo pode sempre influenciar os juros da dívida. Isto é verdade qualquer que seja a solução encontrada - venda, resolução ou nacionalização. Os impactos podem ser minimizados se a solução encontrada for devidamente justificada e comunicada.

6 comentários:

Jose disse...

Com PPC os economistas de esquerda eram de uma lisura arrepiante: toda a melhoria de juros era aclamada entusiasticamente...

Anónimo disse...

Podemos ou não estar de acordo com o que RPM diz ou escreve.
Mas o que ninguém pode negar é a grande honestidade que revela nas suas intervenções.

E isto é de tal forma patente que obriga um sujeito como o Jose a limitar-se a um choradinho sobre os "economistas de esquerda", tentando esconder o rigor do texto de RPM. E ainda por cima mentindo ao "esquecer" que a crítica à esquerda na governação de Passos sobre as taxas de juros iam muito mais longe do que as"aclamações" patetas referidas.

Em 2014:
"O mito dos “mercados” corresponde à financeirização da economia, à sua entrega à especulação e usura, apoiada em paraísos fiscais, percorrida pela corrupção e pela fraude, suportada pelos bancos centrais (BCE, FED, etc.). Os “mercados” servem de arma de agressão social e opressão contra os povos por eles dominados, concretizada na chantagem dos juros e nos planos de austeridade, com ou sem troikas".

"Quem paga a dívida? A dívida é impossível de pagar nas actuais condições. Marx cita o economista Hodgskin (1797-1869) que em vários textos adoptou "o ponto de vista proletário": "Nenhum trabalho, nenhuma força produtiva e nenhuma arte podem satisfazer as exigências dos juros compostos".

Tal é sabido desde a antiguidade, compreendendo que o juro era a forma dos grandes proprietários e grandes comerciantes expropriarem os pequenos, os plebeus, ou ainda apropriarem-se dessas pessoas. Por isso, legisladores de então fixaram limites ao juro e o cancelamento periódico de dívidas, para evitar a destruição da economia e a desestabilização social."


"O aclamar entusiasticamente" faz parte da narrativa desonesta usada quotidianamente pela direita...ou seja pelos tais "observadores atentos e preocupados" referidos pelo autor do texto

António Pedro Pereira disse...

Pateta José:
Então estás a querer tornar equivalente a tua Direita moral e ética, impoluta, à Esquerda irresponsável e incompetente?
Como a Esquerda se comportou mal com o teu patrão (seria de esperar outra coisa desta gente inqualificável?), a tua Direita, patriótica e exemplar, faz rigorosamente da mesma maneira.
Grande pateta alegre que tu me saíste.
Tropeças nas tuas próprias palavras sem te dares conta.

Carlos Sério disse...

Uma outra razão. A hostilidade manifesta contra um governo apoiado pela esquerda.

Jose disse...

Manelzinho estás cada vez mais nervoso.
Com a Direita os juros desciam, com a tua querida geringonça só têm um destino...o desastre.
É o preço que os mercados acabam por dar à cretinice substantiva.

Anónimo disse...

Herr jose

Não fuja e não seja desonesto nem diga atoardas sobre a descida dos juros com a direita (direita sem letra maiúscula e sem a mão levantada, sorry).

Não fuja. Seja homenzinho e assuma os disparates que disse sobre a aclamação dos juros.

Não seja desonesto sobre a descida dos juros e a subida dos juros.Leia esta excelente posta de Ricardo Paes Mamede

E não exalte tanto os mercados, numa posição incómoda entre a bajulice e a servidão de classe própria da sua classe.«Os “mercados” servem de arma de agressão social e opressão contra os povos por eles dominados, concretizada na chantagem dos juros e nos planos de austeridade, com ou sem troikas"»

Pelo que pode arrumar, se não se importa, a sua propaganda à "cretinice substantiva" do grande patronato em processo de extorsão e chantagem.