Dito desta forma, este evolucionismo parece vago, especulativo, e até suspeitamente conotado com um darwinismo social que temos boas razões para descartar. Mas o certo é que há tempos, quando li um pequeno artigo sobre psicopatas organizacionais (corporate) e o papel que podem ter desempenhado na criação de condições propícias para a crise financeira, foi de Veblen e do seu evolucionismo que me lembrei.
Psicopatas, explica-nos o autor do artigo, “são pessoas que, talvez devido a fatores físicos relacionados com uma conectividade e química cerebral anormal, especialmente na área da amígdala e córtex frontal orbital/ventrolateral carecem de consciência, têm poucas emoções e exibem incapacidade de experimentar sentimentos, simpatia ou empatia por outras pessoas”. No interior das organizações, os psicopatas – os psicopatas organizacionais , psicopatas executivos, ou sociopatas organizacionais, como também são designados na literatura no campo de investigação em expansão a que pertence este artigo – embora possam aparentar suavidade, encanto e sofisticação e ser bem sucedidos, “ manipulam impiedosamente os outros, sem consciência, para realizar os seus propósitos e objetivos”, podendo a prazo tornar-se letais para as organizações.
O ponto importante deste artigo, e da investigação empírica em que se baseia, é que em organizações sujeitas a fortes pressões competitivas os mecanismos de seleção internos tendem a favorecer traços comportamentais característicos dos psicopatas ou sociopatas. O trabalho empírico dos psicólogos parece mostrar que é mais fácil encontrar um psicopata no topo de uma organização do que na sua base ou mesmo numa prisão de alta segurança.
De resto, lembro-me de ter lido noutro artigo que já não consigo localizar, que os critérios de seleção de dirigentes de topo usados por algumas empresas que se dedicam ao recrutamento de pessoal se assemelham de perto aos critérios de diagnóstico da psicopatia. A ser verdade, isto significaria que os encantadores psicopatas não só vivem bem e prosperam nos infernos organizacionais em que se estão a converter muitos locais de trabalho, como são ativamente procurados para as posições de topo.
Não sei se é a química e a conectividade cerebral o que determina o comportamento dos psicopatas, ou se se são as condições institucionais das organizações competitivas que modificam a química e a conectividade cerebral de algumas pessoas, transformando-as em psicopatas. O que me parece certo é que as condições prevalecentes nas organizações “competitivas”, trazem ao de cima o que de pior existe em todos nós, e transportam para o topo os que mais rapidamente se transformam em psicopatas ou sociopatas. O resultado, como hoje sabemos melhor que ontem, é fatal para as próprias organizações.
17 comentários:
"O que me parece certo é que as condições prevalecentes nas organizações “competitivas”, trazem ao de cima o que de pior existe em todos nós, e transportam para o topo os que mais rapidamente se transformam em psicopatas ou sociopatas."
O homem como lobo do homem.
Com as condições propícias a transformar-se nas bestas que todos reconhecemos entre essa cambada.Ou guiados pelo seu sentido de bestas ao seu bestial ( brutal, bruto, depravado, grosseiro, repugnante) lugar
A tomarem nas mãos o combate feroz e sem tréguas ao serviço da classe dominante.
De
A promoção dos comportamentos identificáveis como psicopáticos deriva as mais das vezes da necessidade de tirar as 'boas almas' do seu conforto, avesso à competição, e tão bem é suportado pelas ideologias dos coitadinhos - todos irmaos e todos iguais.
Quando desaparecer a competição é sinal que triunfaram os porcos orwelianos.
Banqueiro britânico assassina 2 mulheres.
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/asia/hongkong/11203291/British-man-arrested-over-Hong-Kong-double-murder.html
Não vejo a competição a evitar o triunfo dos porcos. Já a liberdade de expressão e a democracia têm algumas virtualidades a este respeito.
Há algo de repugnante na defesa de comportamentos psicopáticos e sociopáticos como solução para arrancar as "boas almas" do seu conforto.
Tão repugnante como tais comportamentos em si.
A defesa da matilha de lobos que devora o resto dos animais, da forma sórdida como o faz, tem paralelo com a promoção desta visão social por parte de uns "gestores","auditores","ideólogos" em cursos, cursozinhos,mesas redondas, encontros em sofás a beber cerveja,congressos ...e em praças a abarrotar de gente em discursos que outrora eram em alemão mas que podem ser escutados em qualquer língua.
De
Mais uma nota:
A estória da estigmatização das "ideologias dos coitadinhso - todos iguais, todos irmãos" revela uma curiosa , mas não surpreendente deriva para a promoção dum dos fundamentos básicos da xenofobia, o darwinismo social, um dos suportes asquerosos do referido racismo...e do nazismo.
José M. Castro Caldas já avisara que "temos boas razões para (o) descartar".
Que haja quem o queira encartar não é de facto surpreendente.
De
A competição incorpora o princípio da liberdade e por isso é dela prova de vida.
Não passa disso, mas não é pouco.
"Competição incorpora o princípio da liberdade"?
Mas que tonteira é esta?
"E por isso é dela prova de vida"?
Isto é o quê?
(A competição que existia entre os pasquins de hitler para obter o título de lugar-tenente era a prova de vida da liberdade existente entre a alcateia nazi?)
Competição não passa do "princípio da liberdade"?
Mas o que é isto?
Os jogos das palavras podem ser bonitinhos mas estas afirmações são um rotundo disparate, digamo-lo sem quaisquer rodeios.Um chumbo do tamanho do chunbo universitário do relvas. Ou pior.
Não se sabe se isto é feito para elidir a trave mestra do que se discute, se é um exercício ideológico de manipulação pura e dura
"Competição é a interação de indivíduos da mesma espécie ou espécies diferentes (humana, animal ou vegetal) que disputam algo".A "incorporação da liberdade" nesta espécie de equação é a manha manhosa do mais forte para justificar a sua pulhice. Revisite-se a fábula da panela de barro e da panela de ferro para apreciar bem as tretas que andam para a impingir.
De
A defesa absurda a outrance da "competição" como "valor" em si tem água no bico.
É profundamente ideológica.
E é sistematicamente manipuladora no sentido de lhe conferir "propriedades" quase que divinas que inquinam o debate, aldrabam conceitos e abastardam significados.
Um profundo ideólogo dos princípios austeritários ao serviço deste tipo de "divindades", um teólogo especializado em bramir dogmas religiosos como se fossem "verdades" absolutas , um tal césar das neves, utiliza sistematicamente este tipo de orações ideológicas como álibi para os seus desvarios.
Vejamos um pouco mais fundo:
"No capitalismo, uma classe social pretende conduzir as sociedades em conformidade com os seus interesses particulares, privados. Faz das tecnologias e do mercado valores absolutos em relação aos quais os demais se definem, quando na realidade apenas exprimem transitórias relações sociais, não podendo portanto constituir um sistema de valores, pois eles próprios têm de se definir em relação a estes. O neoliberalismo, tal como o fascismo, leva ao extremo aqueles critérios, conduzindo as sociedades para o caos.
E que caos é este? Um caos provocado por uma avidez sem princípios, determinada pela competição, pela continuada pressão para formas extremas de rendibilidade em que os direitos humanos, como o direito á subsistência digna, são subalternizados em relação à maximização do lucro e todos os processos daí decorrentes, que se reflectem de forma muito diferente conforme o poder de mercado de cada interveniente.
Os objectivos mais elevados da vida não podem portanto ser alcançados com um sistema que produz desemprego e miséria. Não há capitalismo ético."
Daniel Vaz de Carvalho
Ora aí está uma questão que os neoliberais detestam.Que se fale em ética nestes tempos de barbárie.
De
É simplesmente consequência do capitalismo. Aliado à pressão do desemprego, ao esvaziamento e censura da ação dos sindicatos, às "novidades" do código de trabalho que legitimam esta pressão e temos o campo de ação ideal destas personagens.
Só não as censura/conhece que nunca trabalhou por conta de outrem, especialmente numa grande organização
O Dick Fuld levou o LB à ruina porque o board deixou. Duas ofertas pelo LB falhadas (Bank of America e Barclays) foram por àgua abaixo porque Dick Fuld achou que andava sobre a àgua e o board achou que vinha um regate do FED. O LB fex o filling to chapter 11 um dia antes de ser publico por pressão do regulador. Em completa negação. O darwinismo social, goste-se ou não da teoria, existe enquanto fenómeno. Nas sociedades humanas desenvolvidas o "ambiente natural" foi em larga medida substitutido pelo ambiente social institucional. O 'mercado' seleciona caracteristicas nem que seja "conhecer a pessoa certa" e enquanto construção humana, o mercado actua enquanto seletor. Em relação ao capitalismo, foi o modelo de organização económica e social que melhor serviu a humanidade até ao final do século XX. É claro hoje que face aos vários desafios que se colocam à humanidade o capitalismo terá de evoluir e mudar a partir de dentro.
Mas claro que o darwinismo social existe como teoria. E como fenómeno.
Quem o nega?
Também a xenofobia e o racismo...o o nazismo
Mais prosaicamente, o troikismo também existe...e o passismo/portismo/albuquerquismo
E que vamos fazer perante tais factos?
Assobiar para o lado , como o fez um certo capitalismo perante a ascensão do nazismo na década de trinta do século passado?
Ah, e desde quando os que detém 1% de quase toda a riqueza vão querer mudar? Tal como o nazismo mudou por dentro e o darwinismo social quer mudar por fora?
Hum...não cola mesmo
De
"“O primeiro presidente da República da Alemanha, Theodor Heuss, foi um dos deputados que a 23 de Março de 1933 votou no Reichstag a lei que deu a Hitler plenos poderes (Ermächtigunsgesetz). O seu sucessor será Heinrich Lübke, construtor de campos de concentração e de centros de trabalho escravo no III Reich. Após um curto interregno, seguir-se-ão Walter Schell e Karl Carstens, ambos antigos membros do partido de Hitler, o NSDAP. Kurt Georg Kiesinger, membro do partido nazi desde Fevereiro de 1933 será chanceler da Alemanha entre 1966 e 1969. A subida de Hans Globke ao cargo de secretário de Estado da chancelaria de 1953 a 1963 veio demonstrar não haver limites para a recuperação de nazis pelo regime de Adenauer. Globke foi o comentador oficial das leis racistas de Nuremberga, cuja finalidade era a defesa da pureza do sangue e da superioridade da raça ariana”
Rui Paz
Mais fenómenos que existem.Como teorias...e como realidades
De
Não vou entrar em devaneios. Não sou particular defensor do capitalismo. As realidades existem independentes de mim. O modelo de capitalismo co-ordenado da Alemanha é na minha opinião muito superior ao modelo Anglo-saxónico e como disse o modelo de capitalismo apartir do qual a evolução se deve realizar. O problema é que o modelo anglo-saxónico prevalece e é promovido por instituições internacionais várias. É que o modelo alemão tem em si a génese daquilo que precisamos:coordenação. Como disse a humanidade enfrenta problemas globais que requerem, não competição mas coordenação. Em relação às teorias e realidades, dizer que ao julgar a xenófobia, o capitalismo ou o racismo como algo mau - a eliminar - está exactamente a contribuir para o darwinismo social. É por isso à sociedades mais ou menos capitalistas, mais ou menos racistas... FM
Não.
Dizer que ao julgar a xenofobia, o capitalismo ou o racismo como algo mau - a eliminar - não se está a contribuir de todo para o darwinismo social.
De
Acho que vivi pessoalmente na PT situações aderentes a esta análise, em épocas diferentes e com "estilos" ou patologias diferentes (em mais de 3 décadas, portanto com vários sistemas instalados).
Aliás vivi tambem transições com golpes e contragolpes. Assisti tambem a alguns triunfos dos porcos.
Fica provado que existe gente que não sabe o que é uma instituição.
Mas, voltando ao tema principal do post, exactamente pelo comportamentos desviantes de alguns CEOs se discute hoje e muito a limitação do tenure dos CEOs. Casos como o LBrothers e mais recentemente o Tesco, mas também os casos em Portugal PT e BES, entre outros, são exemplos de CEOs que estiveram tempo demais a dirigir os destinos dessas corporações.A selecção de Directores não executivos, CEOs, CFOs, Chairman, é feita em circulos muito restritos onde independencia não abunda.
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