sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Juncker é que era...


Perante o incompreensível entusiasmo em relação a Jean-Claude Juncker entre os eternos euro-iludidos, não deixámos aqui de assinalar que o Presidente da Comissão Europeia tinha sido apoiante da austeridade em vigor e governante de um pequeno inferno fiscal. Isto está agora ainda mais à vista, graças ao bom jornalismo de investigação: centenas de multinacionais beneficiadas e muitos interesses públicos nacionais prejudicados em muitos milhares de milhões de euros por toda uma teia de acordos secretos activamente tecida pelas autoridades luxemburguesas ao longo dos anos. Não sendo o Luxemburgo caso único de certeza, lembrem-se, apesar disso, por onde andou o Espírito Santo e as razões dessas andanças luxemburguesas. Isto está tudo de alguma forma ligado e é por isso que se fala de sistema em economia política, sendo preciso muito treino numa certa economia, daquela que não tem política (supostamente), nem história, nem sociedade, nem nada, para deixar de ver.

A verdade é que as chamadas térmitas fiscais foram sendo criadas por todo o lado nas últimas décadas: desde a abolição dos controlos de capitais até aos grandes interesses que comandam reformas fiscais cada vez mais amigas de um certo capital (descidas sucessivas no IRC, com os resultados conhecidos...), passando pelos infernos fiscais europeus que alastram, graças a diabruras políticas várias. É todo um contexto institucional progressivamente coerente e também gerado por uma europeização que foi a expressão concreta que a globalização neoliberal assumiu no continente. A opacidade e a injustiça estão inscritas num sistema multi-escalar em que o dinheiro manda com freios e contra-pesos assim cada vez mais carcomidos, que as térmitas são selectivas em termos de classe: as coisas são como são feitas e desfeitas, os tais sistemas. É tudo muito claro para quem tenha vontade de olhar para os sórdidos mecanismos reais para lá das fantasias de mercado.

9 comentários:

João disse...

O seu texto confirma uma evidência popular: a do carácter cristalino da verdade. E tanto assim é, que nem são precisos grandes parágrafos nem detalhadas explicações para fazer perceber que antes de tudo e para além de toda a fumaça, há um primeiro passo que é imprescindível: estar disposto a ver, já que não há mais cegueira mais severa do que a voluntária.

Unknown disse...

O selo da qualidade atravessa grande parte dos governantes. Assim os protestantes fossem mais eficientes e e consequentes e estes capangas porcos já tinham feito as malas há muito.
Talvez o Podemos traga alguma novidade

Anónimo disse...

Sobre o tema, a posição do PCP, pela boca do seu eurodeputado João Ferreira.

http://pcp.pt/sobre-responsabilidades-envolvimento-do-presidente-da-comissao-europeia-em-processos-de-evasao

Anónimo disse...

João resume e bem um texto mais uma vez notável de João Rodrigues.

A posição do PC e o conteúdo do seu comunicado são muito bons

De

Jose disse...

Sempre e só a verdade às postas. A sanha tributária cria necessariamente medidas defensivas e fornecedores de antídotos.
Pelo menos no caso do Luxemburgo parece que era exigido ao cliente mais do que uma caixa postal e disponobiliza servoços judiciais de insolvência eficazes.

Anónimo disse...

A verdade às postas?

Porque não se lembrarão das postas quando de forma inequívoca pregam as virtudes austeritárias, endeusam os "credores" e os agiotas e conclamam contra os piegas e as pieguices?

Por outras palavras, porquê só se ouvem as referidas pieguices na defesa de alguns dos mais sórdidos exemplares desta sociedade em que vivemos?

As pieguices em torno destes exemplares, exemplares exemplos da hipocrisia da classe dominante traduzem-se exemplarmente nas "necessariamente medidas defensivas e fornecedores de antídotos" a servir nas doses adequadas às térmitas.De forma selectiva pois claro.

Ah , o contraste gritante como os berros gritantes e urros estridentes quando tentavam fazer passar a mensagem dos que "viviam acima das suas possibilidades"

De

Anónimo disse...

Confesso que me espanta sempre a defesa mais ou menos encapotada, mais ou menos às escancaras, da fuga à legalidade e da violação da lei quando estas são cometidas pelo poder económico e seus serventuários.

Faz lembrar num outro contexto as palavras dos fundadores do marxismo.
Engels, considerava que "nós os revolucionários, os "elementos subversivos", prosperamos muito mais com os meios legais que com os ilegais. Os partidos da ordem, como eles se designam, afundam-se com a legalidade criada por eles próprios".

É neste sentido que Marx afirma: "Os partidos da ordem burguesa só podem conter o avanço dos partidos revolucionários mediante a violação das leis e a sua subversão."

O que se revela também no espectáculo cru e obsceno revelado agora e que envolve Junker, o seu governo de direita e as multinacionais.

(E "que se aplica totalmente ao governo de direita/extrema-direita do PSD-CDS que desgoverna o país pela subversão das leis e em continuada afronta à Constituição.")

De

R.B. NorTør disse...

O jornalismo é de primeiríssima água, em particular as infografias que o Guardian publicou. De notar que em Portugal não teve mais do que breves menções.

Agora há outra questão e que é se isto será mesmo o motivo para fazer cair Juncker. É de saudar que o PCP se junte, entre outros, a figuras do estado Holandês e Britânico (http://www.theguardian.com/business/2014/nov/06/luxembourg-jean-claude-juncker-pressure-tax-deals) na condenação do recém empossado Presidente da Comissão.

A pergunta que fica no ar é: não sendo segredo nenhum o que se passava no Luxemburgo (e com as ilhas do canal e Flying Dutchman, quer britânicos quer holandeses encarnam bem a figura de Frei Tomás), não estará esta indignação toda mais relacionada com o facto de Juncker ter aparentemente alinhado pelo diapasão germânico no caso do TTIP?

Anónimo disse...

Verdade às postas? Nem por isso.

Não é propriamente segredo que as empresas, em especial as grandes, tendem para estas práticas e até são elogiadas pelso seus acionistas quando conseguem fugir aos impostos de forma mais ou menos descarada.

Aliás, se Ricardo Salgado tem utilizado as offshores para benefício dos acionisas era considerado um herói de gestão em vez de bandido.

O que temos de perceber, José e outros, é que os riscos destas práticas serem contrários ao "bem comum", se é que isso ainda existe, são muitíssimo elevados e altamente prejudiciais, ptt, há que ter olho neles.

Já 2008 revelou como estes vícios podem ser perniciosos. Convinha termos aprendido qq coisa.