quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Leituras


«Na sua obra monumental, O Capital no Século XXI, Thomas Piketty identifica e caracteriza pormenorizadamente os processos que levam não só à persistência e à intensificação das desigualdades económicas como à sua reprodução a favor de um conjunto muito limitado de pessoas e de grupos. Os trajetos de mobilidade social ascendente tendem a cristalizar-se e a inverter-se. Uma das consequências mais preocupantes reflete-se na reemergência da sociedade de herdeiros no contexto de uma Europa envelhecida e profundamente em crise.»

Renato Miguel do Carmo, Para matar de vez a desigualdade

«Os dados do INE vieram dizer-nos que, em 2012, 18,7% da população portuguesa estava em risco de pobreza. Em 2009, esta percentagem era de 17,9%. Mas, se esta diferença parece curta, isso resulta de a quebra dos rendimentos das famílias ter conduzido à diminuição do limiar de pobreza e, consequentemente, a que muitas famílias deixassem de ser estatisticamente pobres, ainda que a sua situação não se alterasse. Se ancorarmos a linha de pobreza em valores de 2009, o risco de pobreza em 2012 é de 24,8%, o que aponta já para um aumento significativo deste indicador nos últimos anos.»

Ana Rita Ferreira, Pobreza, desigualdade e políticas sociais hoje

«A alegada insustentabilidade financeira da Segurança Social é justificada pelos governantes com a redução dos saldos do sistema previdencial nos últimos três anos. Ora, neste período, a desvalorização salarial e o aumento do desemprego significaram uma perda de cerca de 3.000 milhões de euros para a Segurança Social, pelo crescimento da despesa global com subsídios de desemprego, apesar dos cortes, e pela redução da receita. A perda de recursos para o país representada pela massiva emigração e a mais baixa taxa de natalidade das últimas décadas, inseparáveis da instabilidade e da falta de futuro sentida pelas gerações mais jovens, têm também evidentes repercussões negativas.»

Grupo de Trabalho da Segurança Social do CDA, Há futuro para uma Segurança Social pública, universal e solidária!

«Numa altura em que a (suposta) insustentabilidade da Segurança Social tem servido de pretexto para cortes nas pensões e nas prestações de pobreza, e em que se multiplicam os grupos de trabalho nomeados para resolver o desequilíbrio financeiro da Segurança Social, a promoção de mais um vale isento de TSU não é justificável nem coerente com esse mesmo discurso. No entanto, se olharmos para lá do discurso e dos sound bites concluímos, com relativa facilidade, que este tipo de medidas serve na perfeição uma estratégia de descapitalização e de descrédito da Segurança Social pública, universal, tal como a conhecemos.»

Mariana Trigo Pereira, Vale mais um rombo nas contas da Segurança Social?

9 comentários:

Jose disse...

1 - «reemergência da sociedade de herdeiros» percebe-se mal a reemergência do que nunca desapareceu a partir do código napoleónico. E sendo que herdeiros significa repartição, há que promover a natalidade dos ricos ou…a palavra aos ideólogos do Estado uber alles..

Jose disse...

2 - Lá dizia o Guerra Junqueiro: Pobres de pobres são pobrezinhos…
O país pobre é naturalmente de pobres, e há 17,9% de pobrezinhos.
Em 2009 o país ainda usufruía da riqueza socrática.

Jose disse...

3 - Inteligentíssimo texto que seguramente determinará que a solução está em que alguém pague o pato.

Jose disse...

4 -Estratégia perversa que beneficia quem trabalha e visa prejudicar os pensionistas, esses legítimos destinatários de majorações e antecipações, que souberam conquistar com denodada gritaria contra a tirania do trabalho e o horror da exploração.

Anónimo disse...

Deixo aqui o link de (mais) um a oferecer a hipótese da austeridade expansionista http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/detalhe/austeridade_nao_e_escolha_e_heranca.html

Não há paciência...

Anónimo disse...

Falar no "Deutschland Deutschland über alles" levava tempo e ocupava espaço.

Podemos dizer duma forma simplista que está associado à alemanha, também obviamente à alemanha nazi.

O estado "über alles" era assim o estado defendido pelo que de pior teve a humanidade.Em Portugal a versão salazarenta da coisa é por todos conhecida.

Ainda há por aí resquícios da dita pelo que não faltarão ideólogos por aí a arrastar o reumático e o saudosismo serôdio e bafiento.

Numa demonstração peculiar e desonesta tenta-se excomungar o papel reservado ao Estado , utilizando velhos temas associados aos nazis. ao fascismo , inevitavelmente aos seus aparelhos repressores( por cá a Pide ). Esquece-se que os ditos neoliberais defendem que o aparelho repressivo permaneça na mão do Estado para exactamente permitir a rédea solta aos que se apropriam da riqueza dos demais.

Coisas e loisas que denunciam processos e métodos.

Outros processos de repartição que escondem o essencial da coisa.

É que esta é de tal forma poderosa ("a reemergência da sociedade de herdeiros" ) que se torna confrangedor assistir à cortina de fumo napoleónica que um ou outro esboça

De

Anónimo disse...

Fazer arremedos de humor com a pobreza é algo que remete para um comportamento que não quero qualificar por demasiado grosseiro.

Contrariando o sentido do texto de Guerra Junqueiro, há quem nem sequer tenha a capacidade ou a lisura para repetir sequer o que é dito no texto.

"há 17,9% de pobrezinhos" é falso.
Ana Rita Ferreira repete os dados do INE : em 2012 18,7% da população portuguesa estava em risco de pobreza.

Se ancorarmos a linha de pobreza em valores de 2009, o risco de pobreza em 2012 é de 24,8%, o que aponta já para um aumento significativo deste indicador nos últimos anos.»

É uma pena termos que repetir coisas que já são ditas no texto base, mas a deturpação manifesta do seu conteúdo obriga a tal

Quanto à referência socrática ( o primeiro ministro mais liberal da europa nos idos anos de 2006 ) ela é de franco mau gosto.
A riqueza socrática é a riqueza de cavaco.Ou do BPN .Ou de passos coelho.Ou de Portas. Ou do ricardo salgado . Ou de todos aqueles que demonstram pelo seu nível de riqueza e da sua concentração que afinal o país não é o país pobre que alguns o pintam.

É sim um pobre país que é governado pelos representantes enfeudados ao grande poder económico

De

Anónimo disse...

O fragmento de um texto do "Grupo de Trabalho da Segurança Social do CDA, Há futuro para uma Segurança Social pública, universal e solidária!" é duma limpeza cristalina.

À falta de argumentos para o contestar e face à inevitável frieza dos factos, utiliza-se uma espécie de slogan propagandista utilizando o " pato" como estribilho. Tínhamos já um coelho.

Mas usando tal tipo de linguagem é bom sublinhar que quem paga o pato somos todos nós. E que quem desfrutou e desfruta o pato são precisamente quem utiliza tais estribilhos como justificação para o saque. Veja-se o que dizia salgado ou passos coelho ou portas ou outro qualquer tubarão ou seu capanga, como justificação para a austeridade néscia

Basta olhar à nossa volta e verificar de quem é o pato.

"Desde a crise financeira a conversa foi sempre acerca da necessidade dos governos cortarem no seu endividamento, para equilibrar os orçamentos e as economias recuperarem. O curioso é que a dívida privada era muito maior que a dívida pública na maior parte dos países e ainda é. Na realidade, foi a insustentável divida privada que causou a crise. Em Portugal a dívida privada correspondia em 2012 a 225% do PIB.

Despejar dinheiro para bolhas especulativas não é investimento. Na realidade, o sector financeiro não necessita abranger mais que uns poucos por cento da economia Em vez disso domina a economia produtiva em detrimento de todas as pessoas. A atitude do sector financeiro perante a crise assemelha-se à daquele indivíduo que matou os pais e depois pede clemência por ser órfão.

Uma estimativa recente aponta para 4 milhões de milhões de dólares como o montante transacionado diariamente nos mercados globais de capital. Ou seja em duas semanas equivale ao PIB mundial num ano. Apenas 1% ou 2% daquele valor é alocado a investimento eficiente, 98% da actividade do mercado financeiro é parasitária. Contudo, o que se propala é que os mercados financeiros na sua forma actual são essenciais e desempenham um papel real, positivo e importante na economia global.

Longe de levar os mercados ao equilíbrio, o movimento especulativo continuamente os desestabiliza. Nos EUA, o sector financeiro representava em 1995, 34% de todos os lucros empresariais, valor que passou para 45% em 2011."

Excerto dum texto de Daniel Vaz de Carvalho sobre um livro de Geoff Davies "Sack the Economists - and Disband their Departments"
Aqui:
http://resistir.info/v_carvalho/demitam_nos.html~

Patos?
Patos somos nós por irmos na conversa da treta com que nos embrulharam a austeridade e demais paleio "neoliberal" governamental excremental

De

Anónimo disse...

Um último comentário sobre o que alguém diz acerca duma "estratégia perversa" a beneficiar quem trabalha (????) e prejudicar os pensionistas (!!!!)

Esta frase diz quase tudo

Permite aferir que para os fervorosos adeptos de portas e seus muchachos a " promoção de mais um vale isento de TSU" é vendida como "benefício para quem trabalha". Ou será que para tal gente "quem trabalha" são mesmo os beneficiários da redução da Taxa Social Única"?

E permite constatar que ideia têm alguns em mente quando falam em "pensionistas".

A raiar o obsceno. Simplesmente

De