domingo, 27 de novembro de 2011
Ler João Martins Pereira
Depois do colóquio/evocação, que teve lugar sexta e sábado, toda a obra publicada de João Martins Pereira (1932-2008) está a partir de agora disponível no sítio do Centro de Documentação 25 de Abril. Pensar Portugal hoje, título do seu primeiro livro de 1971, implica sempre tentar responder a questões económico-políticas, tendo em atenção a nossa "dupla dependência de Bruxelas e do sistema mundial", de que falava o autor do que é talvez mais importante trabalho sobre economia política do socialismo publicado em Portugal - Sistemas Económicos e Consciência Social, de 1980: "O que são as nossas classes dirigentes? De onde vêm? De onde lhes vêm os 'ideais democráticos'? Como procuram articular o poder político com o económico? De que condições dispõem para conseguir uma efectiva 'hegemonia' (Gramsci)?" Podem ler também o ensaio de Manuela Cruzeiro sobre o livro onde estas questões são colocadas, sobre os tais falsos avestruzes que ainda dominam, mais de 25 anos depois, a nossa vida pública.
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1 comentário:
Caro João
Não há que ligar muito a conversas sobre a pretensa natureza "irremediavelmente datada" do que quer que seja. Nem há de resto que pretender ser demasiado "actual"...
Pensadores que se quiseram assumidamente "inactuais" (como Nietzsche, entre outros, se não considerar a referência demasiado pretensiosa) foram de facto, e são, duma enorme actualidade. E outros, por contraste...
Considere-se este parágrafo, como exemplo de portentosa in/actualidade:
"A questão não é, pois: ‘que fazer para evitar que o PS se alie à direita, para que se assuma de vez como partido de esquerda?’ Mas outra: ‘que fazer face ao facto muito concreto que é o PS não ser aquilo que gostaríamos que fosse?’ Por mais que se procure esconder esse facto e evitar excessos de linguagem que empurrem o PS para a direita, ou que dêem origem a uma divisão do PS tão perigosa para a democracia (o que é verdade) isso não evita que esses riscos cada vez mais se concretizem, ante o falso espanto e culposa impotência dos que acharam melhor ‘fazer de conta que’, em lugar de enfrentar a desagradável verdade da nossa situação política".
Quanto a isto, digo-o com toda a franqueza, a questão que ainda hoje se me coloca dolorosamente não é da im/possibilidade de alianças do PS à esquerda (quanto a esse tema, a única coisa que julgo saber firmemente é que a política de "ass-kissing" à suposta "esquerda do PS" é duma completa inanidade), mas a da incapacidade já não digo para alianças, mas ao menos para o "diálogo" das forças oficialmente à esquerda do PS: PC e BE antes de mais, claro, mas com a porta completamente aberta quanto a isso ("seja bem vindo quem vier por bem").
Essa é que é, claro, a questão - e a ferida - que verdadeiramente dói.
Em cima disso (e para já não falar do "alegrismo", que admito ser uma história mais longa), tem-se finalmente o Anschluss ideológico do BE, ou pelo menos do BE maioritário, pelo "consenso de Bruxelas". A adesão, digo, à conversa de que "a Europa é bela, os homens é que dão cabo dela", de que os "pais fundadores" da CEE/UE eram umas almas pias cheias boas intenções e rebéu-béu sparrows to the nest, etc., etc.
Em suma, e se me autoriza a paráfrase: o "que fazer face ao facto muito concreto que é a UE não ser aquilo que gostaríamos que fosse?"
Ainda recentemente, deixe que o declare aqui, decidi NÂO SUBSCREVER o abaixo-assinado dos investigadores em apoio da Greve Geral, não porque não apoiasse a Greve Geral, claro, mas pela dolorosa, doentia linguagem de "mendacity" e de "avestruzismo" do dito abaixo-assinado, com as suas sempiternas referências à treta da "Europa social" e restante rebéu-béu, com todo o Anschluss ideológico implícito que tal já revela.
Isso, reconheça-se, é que dói mesmo...
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