quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Algumas razões para os gregos votarem "não"

A mistificação em torno do alegado "perdão" da dívida grega é extraordinária. Primeiro, qualquer notícia de Telejornal anuncia triunfalmente um perdão da dívida em 50%. Estamos já fartos de saber que não é o caso. No entanto, de forma aparentemente mais honesta, somos informados pela imprensa que se trata de um perdão da dívida privada em 50%, no valor de 100 mil milhões de euros. Felizmente, há quem faça o trabalho de casa, neste caso o Financial Times, e tente perceber melhor os contornos do acordo.

Segundo o FT, existem duas contrapartidas previstas neste acordo: 1- Um mecanismo de compensação (que erradamente pensei ser europeu e que ninguém sabe como vai funcionar) no valor de 30 mil milhões de euros para os credores estrangeiros. Estes 30 mil milhões são emprestados pela troika e por isso contam como endividamento grego; 2- Um outro pacote de 30 mil milhões de euros para recapitalizar a banca grega, de forma a compensar os efeitos do... perdão à dívida.

De repente, os 50% já não o são. Substitui-se, na verdade, dívida privada por dívida "oficial", da troika, cujo estatuto legal é "blindado". Finalmente, a imprensa continua a anunciar a redução da dívida para 120% do PIB em 2020, o que, como já aqui assinalei, assenta em pressupostos inverosímeis. E que tal olhar para o "nada-secreto" documento da troika e observar o impacto imediato, no todo da dívida pública grega, deste anunciado perdão?

1 comentário:

João Carlos Graça disse...

Bem, ahahah... o pessoal começou a olhar e, por isso, afinal de contas, acabou-se o referendo. Sempre é mais tranquilizante jogar pelo.... "seguro"...