segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Abstenção violenta

António José Seguro tem razão: a opção pela abstenção do PS em relação ao próximo Orçamento de Estado é violenta, pois legitima, de forma inexorável, uma proposta orçamental que o próprio classifica como contendo «medidas violentas e profundamente injustas».

De facto, ao apresentar «três moedas de troca» para não votar contra (poupar um dos cortes previstos aos funcionários públicos e reformados, reduzir o aumento do IVA para a restauração e criar uma linha de apoio ao crédito às empresas através do BEI), Seguro dá a sua benção a todos os outros golpes no Estado social e nas políticas públicas, que o OE consagra (nomeadamente os cortes brutais na Saúde e na Educação).

Não pense pois o secretário-geral do Partido Socialista que a abstenção o demarca do Orçamento. Quando o país estiver, no próximo ano, a viver dolorosamente o seu impacto, será como se o PS tivesse votado a favor. O acordo da troika não o obrigava a subscrever, mesmo que a tinta incolor, este orçamento, que está muito para lá das suas fronteiras.

Fica aliás uma dúvida inquietante por esclarecer: quanto pior teria que ser a proposta orçamental para que o PS votasse contra?

11 comentários:

Anónimo disse...

Trabalhei toda a minha vida no sector privado. Só estive de baixa..de parto. Trabalhei muitas horas extraordinárias não remuneradas. Consumi bens pessoais, viatura, combustível, horas e horas de não descanso e de não tempo de família pelo bem fazer e sucesso da minha empresa. Trabalhei por objectivos, ultrapassei-os e aumentaram-me os objectivos. Toda a minha formação fui eu que paguei. Passei horas sem fim a verificar se a minha carreira contributiva estava correcta e tive insónias em muitos momentos por angústia. Estive doente e nunca faltei ao serviço. Fui internada e meti férias para recuperar. E muito sinceramente, conheço mais de meio milhar de pessoas que são ou foram funcionários públicos, vi-os passear ao fim de semana em carros do serviço, vi-os chegarem de férias e ir de baixa, vi-os sair nas horas de serviço em diligências pessoais, vi-os trazer as crianças para o emprego e para o circo de Natal e terem viagens ilimitadas nos transportes públicos das empresas onde alguns trabalhavam, vi-os entrarem com uma mão à frente outra atrás e de repente tornarem-se uns toleirões e toleironas e confesso que, se os salários são de facto miseráveis - no estado, a maior parte deles não troca o estado pelo trabalho para os privados. A esmagadora maioria dos funcionários públicos tem semana inglesa e sindicato. Não precisa de falar 3 línguas e ter uma licenciatura para ser candidato ou promovido. As greves as mais das vezes são feitas em casa e raros são os que de facto aderem e se dão ao trabalho de participar. As férias é quando querem e não quando convém ao "patrão". Se é tão mau, porque não saem? Trabalhadores contra trabalhadores, não. É um facto que se está a tentar ir por aí. Mas manipulação e diletantismo ideológico, por favor não me lixem. Com todo o respeito Dr. Seguro. Por, Helena Baião

Unknown disse...

E se votasse a favor mudaria alguma coisa...?

Manuel disse...

Helena Baião:

Dou por bons todos os argumentos que apresenta em seu favor e contra os funcionários públicos, não costumo contestar o que não conheço.
Mas o seu texto suscita-me uma pergunta? Nunca se candidatou ao El Dorado da Função Pública porquê? Por masoquismo ou por militância ideológica pelo privado?
Eu entrei para a Função Pública como professor em Outubro de 1974, com licenciatura, ganhava 5500$00 (27,5 euros), estava a 400 Km da casa dos meus pais e pagava 2200$00 (11 euros) de pensão completa, sobrava-me 3300$00 (16,5 euros) para tudo o resto.
Tentei alguns empregos privados (havia trabalhado num antes da malfadada tropa da altura, vários anos, com guerra pelo meio), mas nem sempre se consegue algo de que se goste e se adeqúe ao que sabemos fazer. Quando nos iniciamos e gostamos do que fazemos porquê andar sempre a mudar. E no meu caso, os privados eram (e são) muito poucos comparativamente com o sector público da educação. Assim andei vários anos por 17 escolas desde o Alentejo à Beira-Baixa, com a casa às costas (a mala de cartão na mão onde levava tudo o pouco que tinha), sem carro do serviço nem subsídio de casa nem férias nas Caraíbas. Na altura tinha-se a segurança máxima no emprego desde que se pertencesse aos quadros, o que só se conseguia por vezes ao fim de 15, 20 anos ou mais, dependendo dos casos. Sempre fui gozado pelos meus amigos pelo que ganhava, uma miséria comparativamente com o que eles ganhavam no privado.
(continua)

Manuel disse...

(continuação)
Em 1988 ganhava apenas 86000$00 (430 euros), um amigo muito próximo, apenas com o secundário e a frequência do 1.º ano da Faculdade, vendedor comercial de uma média empresa, ganhava mais do dobro e (ele sim) tinha carro da empresa no qual íamos para a praia aos fins-de-semana. Só o novo SRFP de Cavaco Silva melhorou a minha situação, e a de muitos outros. Passados estes 20 anos incomoda muita gente uma certa paridade com o privado, digo uma certa paridade porque não se pode comparar o incomparável: na FP deixou de haver segurança (os contratados, cada vez mais, estão como os do privado; os dos quadros têm o quadro de excedentários à espreita, logo, uma redução de 50% de salário e a rua a curto prazo, tal como os do privado que são indemnizados. Portanto, calemo-nos com a segurança). A função Pública, com 575 mil (ver os números do INE), não os 700 mil de que teimosamente se continua a falar nos «media», gostava de saber porquê, tem a mais elevada taxa de habilitações, licenciaturas, mestrados e doutoramentos (universidades e não só) por via de 145 mil professores, dos vários milhares de médicos, de enfermeiros e de quadros superiores, portanto não comparável com o privado. Os vencimentos, pela via das reduções a que os privados se safaram, estão hoje abaixo dos privados, mas continua a narrativa da segurança e dos ordenados superiores.
Afinal, que põe público contra privado Helena?

Dias disse...

(de volta ao postal)

Que associação ridícula!
Esta “abstenção violenta” só pode ser vista como um pedido de desculpas aos seus parceiros daquela coisa muito exclusiva chamada arco da governação.

Manuel disse...

Correcção ao meu comentário anterior:

Afinal, quem põe o público contra o privado Helena?

Zuruspa disse...

D. Helena, lá porque você foi IDIOTA por se deixar trabalhar nessas condiçöes, näo se faça de vítima, nem presuma que os outros também queiram ser IDIOTAS.

A essa triste história de ir às lágrimas só respondo, em maiúsculas: PROBLEMA SEU. Näo tenho pena nenhuma de quem se prostra aos pés do paträo sem lutar pelos seus direitos. E ainda mais quando tem a lata de gritar contra quem ainda luta pelos seus direitos! Näo gosta, condidate-se ao público, já que é täo bom. Nunca tentou porquê? E porque nunca foi delegada sindical, já que se parece que se enriquece a sê-lo? Ah pois, falar é fácil.

Estudei com afinco e sacrifício, sempre trabalhei no sector privado, mas nunca me agachei. Por isso estou onde estou.

Maquiavel disse...

É preciso ter lata!

Se os trabalhadores da Função Pública têm o que têm, é porque são os *únicos* a lutar pelos seus direitos.

A Helena quer os mesmos direitos? Mexa-se!

Quem não chora não mama!

Anónimo disse...

Eu, singelo, gosto da coisa pública.

Gosto do que faço.

Ganho menos do que no privado (trabalhei num banco). Despedi-me. Fiz um exame para entrar no público (coisa rigorosa, difícil). Concorreram milhares, mas só alguns entraram.

Escolhi o sítio e a função que queria. Cinco anos cheios de trabalho e realização pessoal.

Conheci alguns que tentaram (via Cej, diplomacia, CEAGP, Medicina,polícias e exército, etc), mas não entraram.

Alguns, passaram a ganhar muito bem, outros ficaram desempregados, outros estão em empregos miseráveis.

Vários casos, de entre esses, que adiam ter filhos porque não têm segurança no trabalho. Outros emigraram. Outros resignaram-se.

É por mim, por estes e por outros que eu luto. Sem divisões, sem facciocismos.

meirelesportuense disse...

Eu simplesmente acho que muitos dos que aqui destilam ódio supremo sobre a FP o fazem por profundo despeito, porque nunca tiveram capacidade para lutar por um lugar digno nesse sector...Porque entrar no Sector Público exige regras que quase nunca são cumpridas no Sector Privado onde "a cunha e a coxa" são sempre a melhor moeda de troca e o mais respeitado cartão para a entrada...E então deixaram-se embalar pelo sacrifício e pela bajulação sem preconceito e fim do Patrão e do Amo...E como muitos deles entraram por vias muito indignas de fazer as suas vidas fugindo à solidariedade e ao desprendimento, vão atingindo o fim das suas tristes vidas sem terem nada que lhes valha a pena olhar com verdadeiro orgulho...

sepol disse...

Abstençao violenta "uma ova" porque não antes encosto significativo á direita, tal como o Socrates que fez toda uma politica de direita e desencadeou a guerra publica ou privada como um verdadeiro Tirano " dividir para reinar" e este palonso do PPC e o seu cão de fila MRelvas viram também uma boa oportunidade conflituosa de governar os incautos cidadãos que se degladiam enquanto eles enchem o saco á custa dos nossos sacrificios e já agora deixe-se de guerras que só aproveitam ao inimigo comum "este governo de direita" e é assim ... "hoje uns amanhã outros" ou julgam os privados que vão escapar como dizia a outra " chama-lhe puta, antes que ela te chame a ti".. pobre povo este em que "quem vota não é quem lê os jornais mas sim quem limpa o cú a eles".. por isso estamos como estamos atolados até ao pescoço!