A lata dos banqueiros não tem fim. Depois de terem contribuído para provocar a intervenção externa com a sua aberta pressão política, tratam agora de escrever à Comissão Europeia a fazer queixinhas das tímidas condições que o governo quer propor para a capitalização da banca, comparando-a a nacionalizações de boa memória, que puseram fim ao esteio económico do fascismo. Não há comparação possível até porque o Estado troikista terá de ser um parceiro silencioso nos três próximos anos, ou seja, para sempre, prometendo não exercer direitos de voto e fazendo apenas vagas exigências de fiscalização, através de um representante em órgãos de administração ou de fiscalização, de concessão de crédito e de limitação de alguns dos abusos remuneratórios entretanto registados, mas sem mexer nos abusos da distribuição de dividendos. Continua a ser muito pouco para tanto dinheiro público que será canalizado para um sector tão especial.
Dizem os bancos que as suas dificuldades são devidas à dívida soberana, ao malvado Estado. Quem é que os obrigou a comprar dívida soberana, beneficiando das diferenças de juros face ao BCE? Mas isto nem sequer é rigoroso: a sua muito recente fragilidade financeira deve-se sobretudo à fragilidade das famílias e empresas geradas por uma austeridade que os banqueiros exigiram, mas que só gera aumentos do crédito mal parado, insolvências. Isto para não falar da forma, cada vez mais clara, como os bancos usaram e abusaram da assimetria de poder e de “literacia financeira” na sua relação com quem se dirige aos seus balcões, perante a complacência de reguladores. Entretanto, sigamos os conselhos dos Bessas desta vida – cortar ainda mais nos rendimentos – e veremos o que acontece.
Mas as aldrabices de financeiros pouco recomendáveis não têm fim: ontem Ricardo Salgado, em entrevista a Pedro Santos Guerreiro do Negócios, declarava, entre outros dislates interesseiros, que a banca estava a ajudar o Estado com as transferências dos fundos de pensões para a segurança social, que assim contribuem para diminuir o défice. A banca alivia-se das suas responsabilidades futuras, mostrando como a gestão privada das pensões não é a solução de que precisamos, transferindo-as para o Estado e ainda chama a esta transferência de custos ajuda ao Estado. Estamos perante os mais eficazes operacionais políticos da economia portuguesa, um sector que sabe bem como capturar o Estado e monopolizar o debate para fazer valer os seus interesses.
Por isso, não sei se hei-de rir ou chorar quando Pedro Santos Guerreiro associa a tímida presença do Estado à entrada da porca da política na banca. Isto num sector económico intrinsecamente político, um sector que tem comandado a economia política nacional e que continuará a comandar se depender deste governo. Esta suposta tensão com o governo só serve para fazer passar a socialização dos prejuízos em curso. Pedro Santos Guerreiro usa Vara, um personagem quase irrelevante, como metáfora do Estado, só para distrair, como se a cortina de fumo não fosse já densa. Por cada Vara, eu tenho um Oliveira e Costa para a troca. E conhecerá Pedro Santos Guerreiro actores políticos mais relevantes do que Ulrich ou Salgado? E se o público fosse constituído só por Varas, por que é os accionistas do BCP os foram buscar à Caixa? E como poderia funcionar uma banca que acaba sempre por depender do Estado, se este fosse composto só por Varas? E, já agora, os problemas principais da Caixa não terão o nome BPN e a sua captura parcial por interesses privados, isto para não falar da crise geral? E não é isto que é precisamente de evitar, através de um aumento do controlo político democrático sobre este sector tão crucial, nacionalizando de facto, nomeando gestores competentes e que respondam perante o poder político, perante a ideia de uma banca mais parecida com um serviço público de crédito? O que haverá melhor do que descobrir como aplicar a seguinte fórmula: nem um só tostão sem controlo e gestão, a bem do interesse cidadão? Sim, a banca é uma questão de toda a economia e, por isso, de cidadania.
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3 comentários:
A necessidade do estado capitalista intervir a este ponto na banca, mostra as contradições com que o capitalismo tem de confrontar-se para resistir ao seu desmonoramento.
Seria também disto que Karl Marx falava quando dizia que o capitalismo transporta no seu seio os germes da sua própria destruição? Ou estamos perante uma outra contradição, entre capitalismo e democracia, assente esta na defesa dos interesses gerais? Ou as duas teses são equivalentes?
800 a 900 mil euros de rendimentos ano, dispensados de gastos correntes via cartão, carro e seguro,
felizes que andaram com Sócrates,
diz bem da cultura dos devoristas do regime.
Ou do "Triunfo dos Porcos".
Estão bem para o sucesso dos Varas.
Monti
Os donos de Portugal querem marcar território, não dão um palmo. Ou melhor, querem continuar a viver “à vara larga”.
A venda de dinheiro ao Estado, diga-se de passagem, um Estado minado, era à partida um verdadeiro negócio da China. Mas quem diria!
Só que quem joga, sabe que pode perder, ou que pode ganhar abaixo das suas expectativas. E ainda veio Ulrich queixar-se que um “perdão” retiraria qualquer risco ao estatuto da dívida pública. Risco?
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