domingo, 28 de janeiro de 2024

Algarve: não há água sem justiça


Agora que chegou o momento em que o território apresenta a fatura, o governo corta cegamente e a eito em todos os consumos sem qualquer distinção entre as responsabilidades e as alternativas. A água para beber e a água para encher piscinas, a água para produções sustentáveis e a água para a monocultura intensiva. Entretanto, nada muda. A água para consumo doméstico será racionada, os aumento de preços já foram anunciados e até vão ser anunciadas multas para os prevaricadores. Mas nada disso impede a autorização de mais 722 hectares de abacatal ou a impunidade das explorações que nem autorizadas foram. As famílias vão apertar o cinto para que tudo fique na mesma.

É nessa realidade que esbarra a justiça ilusória do corte cego. Nem no meio da mais completa catástrofe o governo trata do que interessa: converter todas as monoculturas intensivas em produções sustentáveis, converter uma parte das explorações em culturas de sequeiro, obrigar hotéis e campos de golfe a investir no aproveitamento de águas residuais num curto espaço de tempo. Para o governo, obrigações, aumento de preços, racionamento, multas e ameaças estão reservadas para quem usa a água para beber, cozinhar e tomar banho.

É claro que não tem de ser assim. Quem há muito tempo aprendeu a trabalhar com os recursos de que o seu território efetivamente dispõe, quem não está de malas aviadas para ir explorar outros recursos quando estes forem exauridos, quem há muito alerta para o beco sem saída do modelo atual, não vai ficar calado a ver isto acontecer. Se no fim houver sacrifícios a fazer para salvar a região, as pessoas estarão certamente disponíveis. Desde que não seja para ficar tudo na mesma.

Artigo completo no Setenta e Quatro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Obrigar os hotéis....? Ok! E se eles não obedecerem, o que?

Anónimo disse...

Anónimo 08:48,

Ele há coisas... Tem gente que ainda não percebeu o que é o Estado. Mas, repare, é o Estado que garante as propriedades "privadas", é o Estado que passa autorizações, licenças, etc. Isto é, os modos e as maneiras de nos organizarmos socialmente.

Se nos encontrássemos no caso - justo - como esclarece Gusmão, se então os hóteis não obedecessem, ora, levavam com multa como qualquer particular "prevaricador" por tomar banho, cozinhar, etc, e poderia perder licença. Ou, como tão muito "justamente" (ironia) se vai fazendo, cortava-se a água, ora p*rra. Se não obedecessem... Esta gente pensa que isto é o quê?

Mas nós não somos capazes de entender que Estado não é só impostos? Este executa políticas (isto é, interesses de classe). Gente, vamos acordar... Precisamos é de mudar o carácter social do nosso Estado.