quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Paz e segurança social


Estamos num contexto de neoliberalismo cada vez mais armado e agressivo. A luta pela paz cruza-se com a defesa do Estado social de forma cada dia mais clara. 

Deixo um excerto de um artigo que escrevi para o Le Monde diplomatique - edição portuguesa:

Nas presentes circunstâncias históricas, há um outro padrão que tem de ser identificado e que se articula com o da promoção do Estado policial: a erosão dos Estados sociais europeus, através do reforço do militarismo. O antigo primeiro-ministro holandês Mark Rutte, tão liberal quanto austeritário, agora secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), declarou que «basta uma fração dos gastos na Saúde e nas pensões para o orçamento de defesa». 

Luís Montenegro veio logo garantir: «Os próximos anos serão de acréscimo de investimento em segurança e defesa (…) Não há como evitar». Trata-se sempre de fechar as alternativas a um neoliberalismo que gera cada dia mais monstros. No tempo da Guerra Fria, a escolha enunciada por Rutte era mais difícil. Havia medo do socialismo. Hoje, o medo ainda está demasiado concentrado na base da pirâmide social, para onde foi transferido precisamente com as derrotas do socialismo. E é lá que a política neoliberal o quer manter.

O mesmo primeiro-ministro que aumenta as transferências orçamentais para o setor privado do capitalismo da doença, que já consome cerca de metade do Orçamento do Estado para a saúde, prepara-se para aumentar as transferências orçamentais para o mais lucrativo, até porque ainda mais estruturalmente opaco, capitalismo militar. 

Afinal de contas, como disse um dia Isabel Vaz, atual presidente do Grupo Luz Saúde e apoiante da Iniciativa Liberal (IL), «melhor negócio que o da saúde só o das armas». Ambos dependem claramente de decisões estatais de alocação de recursos. Trata-se de um autêntico desperdício de recursos, ainda para mais num país com uma situação geopoliticamente distendida como poucos. 

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