domingo, 15 de dezembro de 2024
Cristo em Gaza
«Há dias li uma reportagem sobre a desgraça que se abateu sobre Israel agora porque não há turistas. Era uma daquelas reportagens que quase parece gozar connosco, de tanta falta de noção. Mas era tudo genuíno, desgraça genuína, desolação genuína. Bolha genuína.
Entretanto, milhões de palestinianos que mal viviam de algumas lojas, e alguns hotéis, vivem do nada agora, com a diferença de serem reféns de Israel. De estarem a morrer em Gaza, e a serem queimados, roubados, assassinados por colonos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. De não terem um Estado. De serem milhões de reféns de Israel, em vez de 100 reféns do Hamas.
(…) Não sei quando o turismo vai voltar à Terra Santa. Este Natal volta a não haver Árvore em Belém. As ruas continuam desertas, as portas fechadas. Só que com muito mais mortos do que há um ano. Muito mais pobres. Muito mais emigrados (quem pôde).
(…) A Terra Santa não é do Estado de Israel. Natal não é quando Israel quiser. Este Natal, como o anterior, é uma vala comum. Muitos cristãos se angustiam, sei bem, muitos têm feito muito contra. Mas onde estão todos os outros? Esse quase terço do mundo desde 7 de Outubro?»
Alexandra Lucas Coelho, Cristo está morto em Gaza, e não vai nascer sozinho
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