Comecei a aprender economia em 2007, pouco tempo depois da criação deste blogue. Ano em que rebentou a grande crise financeira que se agudizaria em 2008 e levaria a uma hecatombe de acontecimentos com efeitos devastadores, a nível financeiro, económico, político e social, particularmente em Portugal às mãos da troika e das suas políticas de austeridade.
Aprender Economia naqueles anos era
entrar, de facto, num “desporto de combate”, combate esse em que este blogue se
assumiu com uma posição clara, de esquerda, socialista, sempre pelos direitos
de quem mais sofreu com as más políticas baseadas na má Economia. Vir aos
Ladrões era uma lufada de ar fresco depois das aulas onde se aprendiam as
virtudes do mercado: os modelos de equilíbrio geral, a concorrência pura e
perfeita, a equivalência ricardiana, a neutralidade e a teoria quantitativa da
moeda, a teoria dos mercados financeiros eficientes e a teoria dos ciclos reais
de negócios, a NAIRU, as várias leis que justificavam a opção pela livre
circulação de capitais ou a ineficácia das políticas de desenvolvimento, os
modelos de oferta e procura agregada que explicavam (juravam-nos) por a+b que
um aumento do salário mínimo levava necessariamente a um aumento do desemprego,
as teorias das falhas de mercado onde o mercado era a base e a ação do Estado
apenas justificada em caso de emergência…
Ao mesmo tempo, na comunicação social,
ouviam-se os argumentos pró-austeridade que nos ensinavam como tínhamos vivido
acima das possibilidades, como era necessário apertar o cinto, deixar de ser
piegas e aplicar medidas estruturais com os efeitos que todos sabemos.
Este blogue foi parte fundamental da
minha aprendizagem desde jovem estudante de Economia até hoje, ajudando a abrir
horizontes de pluralismo que me permitiram traçar o meu próprio caminho numa
perspetiva heterodoxa que não esquece a história, a sociedade, instituições,
relações de poder e luta de classes, no fundo, que não esquece a Economia que não é premiada. Bem posso agradecer a todos os que ao longo
destes anos nele escreveram.
Hoje, talvez mais ainda do que em
2007, este trabalho é necessário. Hoje, como em 2007, estamos no início de uma
crise cujos efeitos podem ser ainda mais devastadores se continuarmos a ser
guiados pelas mesmas ideias, pelas mesmas políticas, pela mesma teoria económica. Não admira que já se procure reescrever a história da crise passada. Mas hoje o risco é redobrado tendo em conta
que um dos efeitos da sucessão de crises que o mundo (e em particular a Europa)
tem vivido foi a ascensão de forças políticas cada vez mais à direita,
deslocando cada vez mais para esse lado as agendas, o foco das políticas, as
propostas, as instituições.
Perante isto, é extremamente
necessário propor, anunciar e defender aquelas que são as convergências que os
fundadores deste blogue bem alinharam no início: “o pleno-emprego, serviços públicos, redistribuição da riqueza e do rendimento, controlo democrático da economia.” Contra a ameaça do individualismo
egoísta de algumas iniciativas recentes, contra o contínuo desmantelamento de
serviços públicos, contra a crescente mercantilização da vida, contra as várias
TINA’s que nos impõem os poderes instalados e contra uma ciência económica e
uma academia que se dedicam às tarefas de relações-públicas do capital. Perante isto, é preciso entender a Economia como um desporto de combate, mas também como um desporto de resistência. Nem que tenha de ser com uma bicicleta roubada.
É por isto que irei pedalar. Pedalemos
juntos.
3 comentários:
Pedalamos juntos. Mas, por favor, escolha outra foto. Este pelotão da elite do ciclismo tem à cabeça uma série de patrocínios de multinacionais, pertencentes a grupos económicos dos mais reles que o capitalismo encontra: INEOS Grenadier, UAE, Jumbo-visma, etc.
Pedalar é lutar e se luta individual for o da consciencialização colectiva todos juntos levaremos o barco a bom porto
Pedalar é lutar e se luta individual for o da consciencialização colectiva todos juntos levaremos o barco a bom porto
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