sexta-feira, 20 de maio de 2022

Do «retorno» do SNS para a economia

Foi recentemente divulgado mais um Índice de Saúde Sustentável, anualmente elaborado pela Abbvie e IMS-Nova, que atualiza a estimativa do «retorno para a economia» resultante da prestação de cuidados pelo Serviço Nacional de Saúde, designadamente através da redução do absentismo e do seu contributo para o aumento da produtividade (dado o acréscimo de dias trabalhados face ao que seria expectável).

Nestes termos, concluiu-se que em 2021/22 os cuidados de saúde prestados pelo SNS permitiram que o número médio de dias faltados por doença fosse aproximadamente de 7 em vez de 10 (o que se traduz num ganho a rondar os 1,1 mil M€), ao mesmo tempo que o número médio de dias perdidos, em termos de produtividade, fosse de 17 e não de 27 (o que se traduz num ganho a rondar os 3,9 mil M€). Aplicando a estes valores um índice de remuneração de trabalho, obtém-se um ganho global de 7,5 mil M€, acima do registado em 2020 (a rondar os 6,8 mil M€).


Contas feitas, importa assinalar o que estes ganhos (que são apenas uma parte, mais «material», dos benefícios decorrentes da prestação de cuidados de saúde) representam face ao investimento no SNS. Como mostra o gráfico aqui em cima, em 2021 «compensam» quase 60% da despesa total do SNS inscrita no orçamento do Ministério da Saúde, permitindo considerar que a mesma se reduz, em termos «líquidos», de cerca de 12,4 mil M€ para 4,9 mil M€. Trata-se, aliás, da diferença mais significativa registada nos últimos quatro anos.

Não têm por isso razão os que sugerem, de modo mais ou menos velado, que o investimento em serviços de provisão pública direta, neste caso em saúde, deve ser encarado como simples despesa, como sendo o que a economia produz e que o Estado gasta. Aliás, e percebendo a boa intenção associada ideia de «retorno para a economia» decorrente da prestação universal de cuidados pelo SNS, importa sublinhar que o próprio SNS é, também ele, economia (desde logo pelo emprego que gera, mas também pelos setores de atividade que mobiliza e serviços que presta).

2 comentários:

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

E isto contando só os benefícios com expressão monetária directa... Gostaria de ver contas como estas sobre o sistema de ensino.

TINA's Nemesis disse...

Agora imaginem se Portugal tivesse um Serviço Nacional da Habitação?
Quão melhor seria a situação de tanta gente, incluindo trabalhadores, se o Estado português cumprisse com o seu dever constitucional?
A economia estaria melhor por que quem produz, o trabalhador, estaria em melhor situação, com a segurança que habitação não é um problema maior. Esta é a segurança que o SNS dá, nós sabemos que temos o direito a ter tratamentos médicos competentes, isto só por si é um efeito positivo na saúde mental com repercussões económicas.

O Estado tem que garantir o básico, não só por uma questão de dignidade humana mas também por uma questão económica os liberais, neoliberais, euroliberais, qualquercoisa-liberais aí estão para escamotear a realidade e tornar a vida da maioria uma miséria.