domingo, 1 de maio de 2022

Se fossemos uma democracia que se dá ao respeito


O senhor da imagem, dirigente da Associação dos Ucranianos em Portugal, pergunta "Como é que Portugal continua a ter o PCP?". 

A resposta à pergunta do senhor é simples: porque somos uma democracia com direitos de liberdade política constitucionalmente consagrados. O PCP existe porque centenas de milhares de portugueses militam nesse partido e outras centenas de milhares votam nele. Ao contrário do que sucedia na "democracia" ucraniana, em Portugal não há partidos políticos proibidos. Muito menos aquele que deu um contributo fundamental para a existência de democracia em Portugal. 

Se fossemos uma democracia que se dá ao respeito, afirmações como a deste senhor e semelhantes, como a da embaixadora ucraniana, deveriam merecer repúdio público dos órgãos democráticos nacionais, nomeadamente do Primeiro-Ministro e do Presidente da República. Os titulares desses órgãos deveriam declarar em público ser inaceitável que associações de cidadãos estrangeiros ou representes diplomáticos procurem limitar as liberdades democráticas portuguesas. Como não o fazem, deixam claro que Portugal é uma democracia que se dá pouco ao respeito. 

Este é o milésimo alerta que a existência de uma atitude condenável de uma das partes não transforma a outra numa representante virtuosa de bons valores. Sobre a Ucrânia, basta-nos condenar a invasão russa (tal como fizemos com o Iraque) sem no entanto criar heróis que não o devem ser. Isto é, podemos ser solidários com o povo ucraniano contra a invasão sem nos colocarmos ao lado das autoridades ucranianas e dos seus representantes. Tal como foi possível colocarmo-nos ao lado do povo iraquiano invadido sem estar ao lado de Saddam. O amarelo e o azul não são símbolos de liberdade, assim como a bandeira do Iraque não o era. 

Os tempos são perigosos. E é neles que se definem os verdadeiros democratas. De um lado, estão os que consideram intolerável a campanha que está a ser movida contra um partido central da democracia portuguesa e se colocam ao seu lado, mesmo que nele não militem ou não sejam seus votantes. Do outro, os que participam ativamente dessa campanha ou se refugiam num silêncio conivente com o objetivo de colher ganhos políticos. Os últimos não respeitam o património democrático que lhes foi legado.


8 comentários:

Dolores Cabral disse...


Comemora-se hoje 48 anos do Primeiro "1 de Maio em Liberdade", ao fim de 48 anos de ditadura!

Graças ao 25 de Abril de 1974. E a todos que o tornaram possível. Ao PCP, muito especialmente.

25 de Abril, Sempre
Com o PCP, naturalmente!


Anónimo disse...

Assisto, entre tristeza e preocupação, a um conjunto de manifestações, heterogéneas na sua origem, mas convergentes nos seus objectivos: reabilitar as forças conservadoras e fascistas, ao mesmo tempo que se intensifica um movimento de puro anticomunismo que, de tão primário, nos deixa até perplexos. Os objectivos são mais profundos, do que a mera superfície das coisas pode fazer crer e as circunstâncias que o têm favorecido, também. Atolado em crises cada vez mais profundas e irresolúveis (de que a situação na Ucrânia é uma manifestação muito concreta), aquilo que o sistema capitalista nos mostra é que não hesitará em recorrer a todo o seu arsenal, para quem ousar fazer frente aos de cima. O aparelho mediático tem mostrado por estes dias quem o comanda e ao serviço de quem está, mas também muitos sectores e actores institucionais, têm sido eloquentes quanto ao seu posicionamento, entre o voluntarioso e o servil. E aqui, cabem tão bem o Presidente da República ou o Primeiro Ministro, como os líderes da social-democracia decadente. É, como noutras ocasiões, tempo de cerrar os punhos e de lhas barrar a ofensiva, na certeza de que o Mundo, quer queiram quer não, segue a sua marcha inexorável.

Anónimo disse...

Õskar Lafontaine: Lafontaine: a América está empurrando a Europa para uma guerra nuclear:

https://de.rt.com/inland/137478-lafontaine-amerika-treibt-europa-in/

Anónimo disse...

👍

José Braz disse...

Como na na Alemanha de 1936, também na Ucrânia de 2014, primeiro foram os comunistas, depois os outros todos 😉
https://www.abrilabril.pt/nacional/o-descarado-comportamento-anticomunista

@G_L disse...

Obviamente não concordo e não acompanho o que diz o presidente da associação de ucranianos sobre o PCP ou os seus comentários sobre o sistema político português. Mas o tom deste post é xenófobo. Portugal é livre, ele diz o que quiser, conquanto não faça nada, ele pode achar que não devia haver PCP em Portugal. O que é ridículo é a comunicação social divulgar este tipo de alarvidade. O problema não é ele dizer esta enormidade, é a comunicação social em peso e alguns partidos — ouvido da boca de dirigentes e militantes — concordarem com ele.

Ao contrário do que diz o autor do post, era o que mais faltava os mais altos representantos da República comentarem o que este infeliz disse. Ainda bem que ainda há algum discernimento nas instituições.

Anónimo disse...

Entretanto na Ukrania...
https://threadreaderapp.com/thread/1519696185828720642.html

marão disse...

Permitir isto a quem se dá guarida é revelador da nossa subjugada pequenez.