terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Confirmações

Depois do artigo racista do ano passado, Fátima Bonifácio tinha no fundo de declarar o seu apoio público ao Chega no final deste ano, como se intuiu em Janeiro. Sempre no Público, que assim confirma a sua decadência ético-política. 

Contrariamente a uma certa visão elitista, segundo a qual o racismo seria atributo quase natural das classes populares, a verdade é que ele é deliberadamente cultivado por uma certa intelectualidade das direitas. Como sempre, ódio de classe e ódio racial combinam-se. 

Repito-me, porque se repete. Quem se tenha dado ao trabalho de ler Bonifácio em livro, sabe que é uma apologista da história política das elites liberais do século XIX, reconhecidamente anti-democráticas, permanentemente assoladas pelo espectro da plebe urbana democrática e das revoltas anti-coloniais. Ora bem, para lá de classistas, estas elites eram imperialistas e logo racistas. Mergulhando  neste, e simpatizando com este, universo, Bonifácio transporta deliberadamente para o século XXI hipóteses hegemónicas do liberalismo do século XIX. E daí o seu ódio ignorante ao Estado social e, naturalmente, à democracia. 

O Chega é útil neste contexto. Como Nuno Serra assinalou, com a força dos factos que tem por inconveniente hábito mobilizar, a lata de Bonifácio é parte de uma paisagem mediática cada vez mais permeável às novas formas de autoritarismo neoliberal. Mistura fascistas mal reciclados nos negócios, como Júdice e Nogueira Pinto, o extremo-centro decadente de Barreto e tanta companhia e gente que começou no radicalismo pequeno-burguês de fachada socialista e acabou nas direitas cada vez mais extremas. 

Uma combinação tóxica e perigosa, confirma-se.

14 comentários:

Anónimo disse...

Inimigos da democracia.

JE disse...

Mais uma vez, um texto brilhante.

Aleixo disse...

Em Democracia, combate-se pela Liberdade.

O "Princípio", tem de ser o ADN do espectro político, que arroga defender a Democracia.

Assim não sendo… só se cria Trump's & companhia.

Anónimo disse...

Judice e Nogueira Pinto sempre foram da direita fascizante.

Anónimo disse...

Essa história do ADN do espectro político a arrogar-se qualquer coisa é de quem não sabe o que é isso de ADN. Nem do Princípio.
No princípio era o verbo e o verbo destas coisas têm no seu ADN aquilo que já aí em cima se disse. Direita cada vez mais extrema.
O resto é converseta de sala

Monteiro disse...

Ficam para a História como os reaccionários que foi preciso vencer.

jose duarte disse...

Acho que o branco fica angelicalmente bem, é uma cor poética profunda dando aquele ar de pano cru onde se pode escrever à vontade, qualquer ideia qualquer coisa mesmo que sejam "disparates" mesmo que seja...... não sei. Fico um pouco perplexo perante tanta erudição, tanta vontade de exprimir coisas realmente fora do nosso "chão comum".
E se a senhora falasse só de História, talvez fosse mais interessante ,,,
Bom, mas o que acho mesmo é que faltam duas outras personagens para compor a fotografia e as ideias: Ventura de um lado e O JMT do outro.

JE disse...

1936:

Jay Allen conseguiu entrevistar Franco, em Tetuão, a 27 de Julho de 1936. A partir da entrevista, Allen publicou um artigo com o seguinte diálogo:
Allen: "Durante quanto tempo prolongar-se-á a situação agora que o golpe fracassou?" ( nas principais cidades de Espanha a besta tinha sido derrotada )
Franco: "Não pode haver nenhum acordo, nenhuma trégua. Salvarei Espanha do marxismo a qualquer preço"
Allen: "Significa isso que terá de fuzilar média Espanha?"
Franco: "Disse a qualquer preço".

Allen, do Chicago Tribune, também dá conta do vexame e do sistemático assassínio dos republicanos no massacre de Badajoz. Numa das suas crónicas revela «um cerimonial e simbólico tiroteio na Praça da Catedral. Sete líderes republicanos da Frente Popular foram fuzilados diante de 3.000 pessoas». O que conta Allen não é mais do que o assassínio com humilhação pública incluída de, entre outros, o alcaide de Badajoz, Sinforiano Madroñero, e o deputado socialista Nicolás Pablo.
Estávamos em Agosto de 1936

JE disse...

Dezembro de 2020:

"No queda más remedio que empezar a fusilar a 26 millones de hijos de puta": Desvelan un chat de ex altos militares españoles

Entre los participantes en la conversación se encuentran varios de los militares retirados que enviaron una misiva al rey Felipe VI con argumentos alineados con la extrema derecha.

Varios ex altos mandos del Ejército del Aire de España han expresado en un grupo de WhatsApp su deseo de acabar con la mitad de la población española y su nostalgia del golpe de Estado que llevó al dictador Franco a instaurar un régimen nacionalcatólico autoritario durante casi cuatro décadas en el país.

Algunos de los mensajes más impactantes vertidos en esta conversación, desvelados en exclusiva por Infolibre, provienen del teléfono móvil de general de división Francisco Beca: "No queda más remedio que empezar a fusilar a 26 millones de hijos de puta", dice en uno de ellos.

Muchos de los participantes en este chat firmaron una misiva enviada al rey Felipe VI, el pasado 25 de noviembre, en la que afirman su lealtad al monarca y avisan de que "el Gobierno de coalición entre el Partido Socialista y Podemos, apoyados por filoetarras e independentistas, amenazan con la descomposición de la Unidad Nacional", haciendo suyo el argumentario y la terminología de la extrema derecha española representada especialmente por el partido ultraderechista Vox.

De hecho, el líder de esta formación política, Santiago Abascal, se hace presente en el chat descubierto hoy a través de un audio mandado por uno de los participantes en el que se escucha al político decir: "Me dicen que es obligatorio saludar a este grupo. Un abrazo a todos y ¡viva España!".

JE disse...

Estos son algunos de los mensajes publicados en el chat enviados por Francisco Beca:

"No queda más remedio que empezar a fusilar a 26 millones de hijos de puta".
"Yo prefiero la República porque tendremos más oportunidades de repetir las maniobras del 36 [cuando se produjo el golpe de Estado del dictador Franco]".
"Las maniobras del 36 (...) proporcionaron unos cuantos años de progreso aunque algunos lo pasaron mal. España está llena de gente ingobernable y la única forma posible es culturizar a la gente, cosa que es imposible con la izquierda. Es triste pero es la realidad española".
"Tal como está la situación la única forma de atajarla es extirpando el cáncer!!!!!".
"Las [sublevaciones] de Primo de Rivera y la del Irrepetible [en referencia a Franco] trajeron paz y prosperidad a España".
"Me he levantado esta mañana totalmente convencido. No quiero que estos sinvergüenzas pierdan las elecciones. No. Quiero que se mueran todos y toda su estirpe".

También se hacía referencia reiteradamente a los independentistas catalanes, como en este diálogo entre los coroneles retirados Ángel Díaz Rivera y Andrés González Espinar:

González Espinar: "Algún día… lo filibusteros de la puta ANC [Asamblea Nacional Catalana]… pagarán por esto y por otras cosas…".
Díaz Rivera: "Algún día… alguien tendrá que empezar a hacer algo (legal o ilegal) contra estos hijos de puta".
González Espinar: "Qué pena… no estar en activo para desviar un vuelo caliente de las Bárdenas a la casa sede de estos hijos de puta".

Jaime Santos disse...

Tudo verdade, sucede que o racismo também existe nas classes populares e não vale a pena escondê-lo por detrás de um nacionalismo supostamente progressista, até porque os nacionalismos, tarde ou cedo, assumem sempre a sua face negra de exclusão do Outro.

Há racismo de pele e ódio de classe e não vale a pena confundi-los...

O João Rodrigues também esquece, convenientemente, que o Chega não é um Partido de salões, representa sim o bas-fond da Direita, que se calhar vai pescar votos em águas que são ou eram do PCP.

Há uma certa Esquerda que, infelizmente, não apenas tem uma visão exclusivista de quem faz parte do Povo como depois endeusa esse mesmo Povo, revestindo-o de uma santidade que ele não tem, nem quer ter. Tratam-se afinal de pessoas iguais a todas as outras...

JE disse...

Hum

Mais uma vez Jaime Santos a manifestar estas dores tão manifestas pela traste da Bonifácio.

Perante a denúncia destas "coisas" sinistras e abjectas, assistimos a este comentário rísivel de JS.

Começa com um "tudo verdade" com que arruma a questão com a Bonifácio. E depois seguem-se 9 linhas em que vomita a sua peculiar bílis.

Um verdadeiro macron da coisa. Vai longe este tipo. Como um Barreto fora do tempo, ou um candidato a homem de negócios à Judice?

JE disse...

Cada vez se torna mais desprezível alguém que assim age.

A caracterização do Chega por parte de JS vai de par com a imbecilidade dos branqueadores do fascismo. Uma questão de "bas fond", dirá com aqueles trejeitos a raiar o tom racista duma Bonifácio aqui denunciada

E para o provar voltam as atoardas em que é useiro e vezeiro. A pesca de votos do Chega no terreno que era ou é do PCP

Ora o que se passa é que o Chega está a esgotar os votos do CDS, mesmo do PSD. Aqueles tipos que sempre foram o que são e que se acoitavam numa direita tida como moderada e civilizada, porque não havia outro remédio, por uma questão de sobrevivência ou porque ainda não era a altura de mostrar as suas garras.

"Trata-se da milonga de que, como os melhores resultados do Chega foram no Alentejo, logo isso teria sido à conta de deslocações de voto de anteriores eleitores do PCP.

Em Évora, o conjunto PSD+CDS perde 4.807 votos o que chega e sobra para explicar os 1645 votos do Chega.

Em Beja, o conjunto PSD+CDS perde 4.936 votos o que chega e sobra para explicar os 1.313 votos do Chega.

Em Portalegre o conjunto PSD+CDS perde 3.967 votos o que chega e sobra para explicar os 1.704 votos do Chega."
(Vitor Dias)

JE disse...

Há mais?



Diz JS:

"Há uma certa Esquerda que, infelizmente, não apenas tem uma visão exclusivista de quem faz parte do Povo blablabla... Tratam-se afinal de pessoas iguais a todas as outras..."

Aí em cima está escancarado um epísódio abjecto dos fascistas espanhóis (serão o bas fond da extrema-direita, estes altos ex-militares de Espanha?)

Sabem como foi respondendo a secretaria geral do grupo parlamentar do Vox, Macarena Olona para justificar o injustificável?
"Es una manifestación en favor de la unidad de España y, como tal, por supuesto que es nuestra gente"

Não há algumas similitudes com o triste paleio branqueador de JS?