Karl Marx Hof, um dos símbolos da política de habitação da Viena vermelha, todo um um legado
A história das ideias económicas, como já aqui defendi, pode ser vista como uma conversa, um debate, ao longo do tempo, sendo então nossa obrigação resgatar do esquecimento economistas do passado, sabendo que também estes mortos podem não estar a salvo da barbárie económica, sobretudo os que reconheceram o seguinte facto: a economia é sempre política e moral, nunca é neutra, quer nos seus efeitos, quer nas estratégias de justificação das suas instituições.
Há dois economistas políticos, felizmente muito estudados e valorizados, de tempos sombrios e de grandes esperanças no século XX que nos ajudam sempre a pensar nas curvas apertadas da história: John Maynard Keynes e Karl Polanyi. Curiosamente, a filha de Karl Polanyi, Kari Polanyi Levitt, colocou-os em diálogo há já alguns anos. Em 2017, tive a oportunidade de assistir a uma palestra desta notável economista política canadiana: aos 94 anos, de pé e sem papel, para lá de tópicos de economia política internacional, desfiou as suas memórias da Viena dos anos trinta, antes de fugir para Londres, tendo regressando à capital austríaca talvez pela última vez na segunda década deste século, escutando ecos anti-democráticos de um país distante. A economia política tem de ter história e memória.
Em 1944, em A Grande Transformação, o seu pai tinha referido a experiência da capital austríaca a seguir à Primeira Guerra Mundial, a Viena vermelha liderada pelos social-democratas, entre 1918 e 1934, como um enorme sucesso social e ético-político no meio de grandes dificuldades, provisionando bens essenciais, como a habitação, e assegurando a participação e dignificação das classes trabalhadoras. Apesar disso, ou por causa disso, esta experiência foi “violentamente atacada pelos adeptos do liberalismo económico” , como Ludwig von Mises, sucumbindo em 1934, um ano depois do chanceler Engelbert Dollfuss ter assumido poderes ditatoriais, “ante o ataque de forças políticas poderosamente sustentadas por argumentos puramente económicos”, como assinalou Polanyi nesse livro.
A combinação do poder repressivo do Estado e de teoria económica, com o objectivo de destruir as instituições não-mercantis igualitárias e os valores que as sustentam, é parte do liberalismo económico histórico, o que abriu tantas vezes as portas ao fascismo. Afinal de contas, Mises foi conselheiro de Dolfuss. Hoje os seus discípulos estão no governo de Bolsonaro, por exemplo. A história é mudança e novidade, mas também pode ser recorrência.
Adenda. Entretanto, aproveito para deixar dois textos breves: o primeiro, que teve uma versão publicada no Negócios e que saiu agora em livro, parte do nome de uma sala luminosa e de vista amplas na FEUC, dado em homenagem a Keynes. O segundo, em inglês, apoia-se em Polanyi para analisar a trajetória recente de Portugal.
7 comentários:
O Karl Marx Hof é de facto imponente, mais de 1 quilometro de extensão!
Eu reconheço a sua imponência porque lhe dei várias voltas enquanto servia no centro juvenil que serve o distrito Döbling,o distrito onde este complexo habitacional se encontra.
Karl Marx Hof impõe-se mas não de uma forma negativa, é como se tivesse orgulho do que é.
Embora não esteja no centro de Viena é quase como estivesse, porque o distrito de Döbling parece uma zona nobre.
Aliás, Viena toda ela parece nobre, é muito difícil encontrar edifícios degradados, nem me lembro de ver algum…
Karl Marx Hof é um "bairro social" mas não é um "bairro problemático", está complemente integrado na cidade, não está degradado, está servido de espaços verdes e equipamentos públicos.
Não quero pintar a realidade vienense de rosa, até porque não estive lá tempo o suficiente para conhecer as complexidades da sociedade, mas digo isto, tomara que Portugal tivesse habitação social do nível como a população de Viena tem…
E não esperem projectos de habitação social do nível de Viena enquanto o Partido Europeísta "Socialista" estiver no poder!
Os "socialistas" têm orgulho que Portugal seja o país que menos investimento público tem, adoram ser o "bom pupilo" da "Europa"...
"Em 2017, mais de 63% dos jovens adultos entre os 18 e os 34 anos viviam em casa dos pais"
https://eco.sapo.pt/2020/07/15/ha-cada-vez-mais-jovens-adultos-a-morar-em-casa-dos-pais-devido-aos-baixos-rendimentos/
A maioria dos jovens já não consegue sair da casa dos progenitores porque não têm rendimentos para o fazer, e esta realidade vai piorar ainda mais!
Parece que o Primeiro Ministro Poucochinho só ficará satisfeito quando os únicos que podem sair da casa dos pais são os filhos dos Amorim, dos Azevedo e pouco mais...
Olhem para a imagem do prédio social em Viena
https://tinyurl.com/yyf3pxko
Se vos dissessem que isto é habitação social não ficavam espantados, especialmente sabendo o que é a habitação social em Portugal?
Se calhar até diziam que é um condomínio privado de luxo!
Habitação pública pode e deve ser de qualidade e com preços acessíveis, isto não é nenhuma utopia esquerdista, é a realidade em Viena!
Mais um ano em que Viena é a cidade com mais qualidade de vida do mundo, e isto tem a ver com transportes públicos acessíveis e de qualidade, habitação social em quantidade e qualidade, muitos espaços verdes, baixa criminalidade, enfim, uma cidade organizada para a qualidade de vida dos seus habitantes.
E isto é assim porque os vienenses querem que a sua cidade seja assim.
E não me venham com a conversa que é assim porque a Áustria é rica, há países mais ricos e a qualidade de vida é bem inferior, como é o caso do país (ainda) mais rico do mundo, os EUA.
E que eu saiba, apesar das ambiciosas políticas públicas, a Áustria não sucumbiu a nenhuma distopia esquerdista!
Porque é que Portugal não pode ter a mesma ambição no que diz respeito a habitação social?
Não há dinheiro?
Mas houve dinheiro para a porcaria dos estádios de futebol e para a Banca falida!
Não há dinheiro... mentirosos!
Não é uma questão de dinheiro mas de vontade política e alguém tem que ganhar €€€ com imobiliário.
Keynes e Polanyi talvez tenham dado várias voltas no túmulo nos últimos 40 anos.
Primeiro, ao ver um ator de 5ª categoria a destruir o seu trabalho, depois a merceeira inglesa e todos os outros filhos da poça de água choca que onde foi concebido o neoliberalismo.
Mas pior que essas figuras de banda desenhada, foram os supostos progressistas que vieram a seguir: clinton nos states e blair na inglaterra (como dizia a merceeira, blair foi a sua melhor criação).
O facto de toda a construção neoliberal estar assente em mentiras e de essas mentiras terem sido aceites como verdade por gerações de economistas (bem, nem todos, valha-nos isso), é o mais difícil de compreender.
Muitos têm dedicado o seu tempo a tentar compreender esta unanimidade e em vão a tentam explicar.
Mas acho que será bem simples.
É o dinheiro.
Para quem entra numa faculdade de economia, há uma mensagem clara: junta-te à elite, esquece as classes mais baixas e ganha muito dinheiro.
Olhem para os líderes dos partidos do chamado centro e da chamada direita Portugueses.
Vejam o que eles TODOS defendem.
Privatizar a Segurança Social, privatizar a ADSE, privatizar a CGD, etc.
Sabem o que aconteceu no Chile que privatizou a Segurança Social a 100%?
As pessoas foram obrigadas a descontar para os bancos privados os valores mensais que lhes garantiria uma reforma na velhice.
Os bancos andaram a jogar no casino com o dinheiro das reformas das pessoas e perderam quase tudo.
Hoje, quem se reforma recebe uma pequena fração do que descontou, se receber sequer alguma coisa.
A história da economia política é uma recorrência aparentemente inevitável de exageros e medidas correctivas.
Nada trava a deriva provisionadora das esquerdas que não seja o colapso económico ou o fim das liberdades individuais.
A doutrina dos coitadinhos que subjaz a essa deriva é ela própria a negação do homo economicus agindo em liberdade; e sempre propõe a institucionalização de uma seita de provedores que descambam em ditadores à menor oportunidade.
Homo económicos a agir em liberdade?
Tal como Herr Salazar fazia ?
Ahahahah
Jose continua na sua tentativa de deixar um legado ideológico-filosófico. Com aquela patine típica de. Qualquer que seja.
Perante a denúncia impiedosa de Mises, Dolfuss, Bolsonaro, jose tem que tentar corrigir o tiro.
E fá-lo com esta idiotice que se ajusta a qualquer coisa,mesmo à história dos negócios escuros de um cangalheiro ou dos negócios que ele inveja de um porno-rico:
"A história da economia política é uma recorrência aparentemente inevitável de exageros e medidas correctivas".
Para além desta vacuidade dita com a grandiloquência própria dos adeptos da coisa - desde Mises a Bolsonaro - jose fala todo dandy no "colapso económico".
Faz ou não lembrar as justificações que o adepto de Friedman, um tal Pinochet, usou para o golpe fascista?
Mas jose fala de outra coisa:
Fala no "fim das liberdades individuais".Blablabla..."a institucionalização de uma seita de provedores que descambam em ditadores à menor oportunidade."
Quando jose comungava a 28 de Abril de 2019 pela vitória de Bolsonaro, assim deste terno modo: "O que se percebe é que a azia da vitória do Bolsonaro está para durar."
Era exactamente nas "liberdades individuais que estava a pensar? A modos que fazendo parte duma seita de provedores que gostam dos que descambam em ditadores à primeira oportunidade?
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