A pergunta central do debate era simples: o que fazer em relação à política orçamental, num contexto de baixas taxas de juro e elevado rácio da dívida em relação ao PIB? O que terá causado surpresa foi a resposta apresentada: Furman e Summers não só reconhecem que o rácio da dívida não é a principal preocupação do momento, como defendem que não constitui um bom indicador da sustentabilidade das finanças públicas de um país. A razão para isso é o efeito dos juros baixos, que fazem com que o serviço da dívida possa ser menor do que em períodos anteriores, mesmo que o rácio da dívida tenha aumentado.
Num contraste claro com a perspetiva adotada pela maioria dos economistas nos últimos anos, os autores notam que a dívida pública e o défice não afastam o investimento privado, como se supunha: "Num mundo em que há capacidade inutilizada na economia e taxas de juro muito baixas, as preocupações sobre a exclusão [crowding-out] do desejável investimento privado, que era tomada como garantida há uma geração, têm bastante menos força hoje". Por isso, defendem que o endividamento não é um entrave a políticas expansionistas, dizendo que o atual contexto dá aos governos margem de manobra orçamental para investirem. Embora considerem que esta margem de manobra não é ilimitada, sugerem o reforço da progressividade fiscal como forma de promover a procura sem aumentar o défice. A divergência com as ideias que dominaram a disciplina nas últimas décadas não podia ser maior.
Na mesma linha, Blanchard nota que o atual contexto de estagnação secular faz com que o custo de oportunidade do endividamento público seja muito menor, ao mesmo tempo que o benefício dos défices se torna bastante maior, tornando-os sensatos não só do ponto de vista orçamental, mas também do ponto de vista do bem-estar coletivo. Também nesta linha, o Fiscal Monitor publicado em outubro pelo FMI destaca o efeito multiplicador do investimento público, estimando-se que um aumento do nível de investimento público gera um crescimento 2,7 vezes superior do PIB em dois anos. É por isso que Blanchard avisa que "os governos têm de estar preparados para ter défices pós-covid [...] e permitir um aumento adicional da dívida".
No fim do debate, os intervenientes admitiram que estavam todos maioritariamente de acordo. Hoje, parece que muito poucos economistas têm dúvidas sobre aquilo que, há um ano, muito poucos consideravam ser sequer imaginável. Conclui-se, por isso, que a dívida pública deixou de ser o foco exclusivo da atenção, que os défices passaram a ser reconhecidos como uma variável insuficiente para avaliar a economia, ou que os orçamentos expansionistas deixaram de ser vistos apenas como despesistas? Ainda é demasiado cedo para o fazer. Mas as alternativas começam a ganhar espaço num campo que sempre lhes foi adverso. Os termos do debate já não são os mesmos. Talvez por isso exista a hipótese de que estes anos 20 sejam, novamente, tempos de mudança.
11 comentários:
Muda o mínimo para quem lhes paga e financia se veja menos à rasca para ter onde investir. Nem uma menção à razão pela qual os juros são baixos, não vá os eleitores quererem coisas.
É preciso voltar a crescer primeiro para que o sonho de 30 anos do presidente eleito de cortar a segurança social poder ser cumprido. E que melhor ideia do que passar à BlackRock os destinos e deveres do estado através da porta giratória?
Como prometeu, nada de fundamental vai mudar.
Digamos que, estes economistas, ou andam "loucos"ou então a "realidade" impôs realismo
às receitas tão, afincadamente,apresentadas como milagrosas há meia dúzia de anos atrás.Dito à maneira dos arautos "troikistas":"austeridade expansionista"
Se calhar é melhor mandar alguns livros de Economia para as bibliotecas.
Estes terroristas do défice andaram décadas a dizer “não há dinheiro” para as coisas que criam bem-estar generalizado, mas para o complexo militar-industrial e suas perpétuas guerras há sempre dinheiro, e também o há para a Goldman Sachs & quejandos sempre que estão prestes a implodir.
Agora parece que já dizem que o défice não importa tanto assim, é como Bill Mitchell diz, estes podres da sociedade já se aperceberam que o paradigma vai mudar, tem que mudar, logo, estão-se a preparar para depois dizerem assim “eu sempre soube que havia dinheiro”…
É por isso que faço ilustrações como esta, para desmascarar estes doentes “elitistas” viciados na destruição dos países.
“The Pigs’ vice” (O vício dos porcos)
https://www.patreon.com/posts/pigs-vice-45153678?utm_medium=clipboard_copy&utm_source=copy_to_clipboard&utm_campaign=postshare
clicar na imagem para aumentar
Lembram-se quando era moda chamar PIIGS a Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha?
Esta ilustração é uma versão retocada de uma outra que fiz em 2012, a altura em que os pulhas (incluindo os nacionais) andaram a chamar PIIGS a Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha.
Se não viram vejam minha outra ilustração “Propaganda Machine”
https://www.patreon.com/posts/propaganda-44827236?utm_medium=clipboard_copy&utm_source=copy_to_clipboard&utm_campaign=postshare
Um post oportuno que mostra que quem pregava o fim-da-história estava bem enganado
Deixemos para lá as macacadas do rebolucionário geringonço mais os seus dotes circences à joão pimentel ferreira.
O TINA começa a patinar, mesmo entre os que alimentavam a besta. Ainda é demasiado cedo para, mas é preciso romper mesmo com esta trampa em que nos atolaram.
Caricaturalmente diz-se que se eu dever 5000€ ao banco tenho um problema mas se eu dever 5 milhões é o banco que tem o problema.
A pandemia veio alterar as relações de forças em vários centros de poder, porque aquilo que eram relações de "escravatura pela dívida" de repente tornou-se risco de ruptura por insustentabilidade financeira e impossibilidade de manter uma imagem de virtude em face do conhecimento público da iniquidade das relações de forças.
Por isso os países do centro da EU, reconhecendo o risco de desagregação se insistissem na punição dos países do Sul optaram por ignorar e sofismar os tratados a benefício da estabilidade que é a base primeira dos seus lucros.
Da mesma maneira, nos USA, a ameaça da deliquiscência e retrocesso civilizacional provocados por uma administração que ignorou ciência e bom senso, levou a uma situação tão grave de desemprego e crise que até cheques foram distribuídos com subsídios extraordinários. Nos dois casos a dívida e o défice como tabús perderam a sua utilidade porque se tornou óbvio até para o cidadão lambda que eram apenas pretextos usados para forçar políticas austeritárias sobre populações endividadas e empobrecidas.
O que mudou não foram tanto as opiniões dos economistas mas a disposição de parte dos decisores políticos de escutarem as melhores opiniões dos economistas.
Olivier Blanchard, ex-economista chefe do FMI entre 2008 e 2015, que se esfalfou para alertar o governo Japonês da aproximação do dia do juízo final, que supostamente seria afogado num tsunami de dívida.
Blachard até disse a um jornal "If and when U.S. hedge funds become the marginal Japanese debt, they are going to ask for a substantial spread.” (que traduzido daria qualquer coisa como "Se e quando os fundos de pensões americanos se tornarem os financiadores da dívida Japonesa, eles vão pedir spreads bem mais substanciais").
Em 2020, a dívida Japonesa é astronómica (250% do PIB, a maior do planeta), mas os spreads das taxas de juro continuam próximas ou abaixo de zero e os hedge funds (calão económico para fundo abutre) continuam à espera do "quando".
Ben Bernanke já é de outra estirpe. Num programa televisivo em 2009, foi questionado sobre o déficit americano:
Jornalista: O dinheiro que o Fed está a gastar, vem dos impostos?
Bernanke: Não é dinheiro dos impostos. Os bancos têm contas no banco central (o Fed) - nós apenas usamos o terminal do computador para digitar os saldos das contas...".
Cappisci?
Isso mesmo
A lógica dos défices ilimitados e permanentes têm a lógica da igualdade do sexos.
Uns negam os limites dos recursos outros negam os limites hormonais.
Vem isto a propósito de um comum e sistemático esforço em negar consequências a crenças, antes que tratar de as justificar.
A igreja permite a Jose falar em sexo? E ainda por cima nos seus limites
Se bolsonaro sabe
Estávamos à espera do comentário de mister troika e mais além, adepto fervoroso do TINA e das teorias económicas a ela associadas.
O que sai é "isto".
O comum e sistemático esforço de jose em afirmar as suas crenças vem de longa data. As consequências estão à vista e o seu fracasso também
Tem todavia um outro problema jose ao ver a ruína dos seus mitos neoliberais destroçados por alguns dos seus companheiros de percurso. É que o apelo caceteito em prol da troika pressupunha um ajuste de contas com Abril. A derrota em Outubro de 2015 ainda lhe está atravessada
Agora "oferece-nos" estas coisas:
-"A lógica dos défices ilimitados e permanentes" - quem será que disse tal? A jose mais não resta que colorir a realidade para motar um discurso oco sobre ela?
."Uns negam os limites dos recursos"- jose quando andou a justificar que 26 pessoas tivessem o mesmo rendimento que a metade da população mais pobre da terra não se lembrou do limite de recursos para aqueles. Ou quando defendeu os proventos de Mexia mais o seu milhão de euros anual. Ou quando andou por aí a fazer a sua defesa de classe aos porno-ricos
Mais curiosa é todavia a analogia usada por jose sobre a lógica da igualdade dos sexos.
Mais os seus "limites hormonais"
Uma pergunta impõe-se:
Porque não puseram jose na equipa de Bolsonaro? A marialvice decrépita seria lá bem recebida. (Embora não saibamos se os limites hormonais nesta altura permitiam já a mudança de sexo devido a falências.... hormonais
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